Dados demonstram que uma política de cuidados é urgente e apropriada para a mudança demográfica que se apresenta no país
Frequentemente ouve-se falar sobre o custo de cuidar das pessoas na velhice, considerando o desenvolvimento de comorbidades, o que aumenta o consumo de medicamentos e exige assistência especializada nas rotinas diárias. Com o aumento da expectativa de vida e maior número de pessoas longevas, pode parecer que tal situação representa um desequilíbrio para a economia, especialmente em países com dimensão continental, como o Brasil. Porém, de acordo com os pesquisadores Jorge Félix e Guita Debert, os dados demonstram que uma política de cuidados é urgente e apropriada para a mudança demográfica que se apresenta
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Apesar de ampla bibliografia sobre o tema destacar o seu potencial de geração de valor, a ponto de hoje a economia do cuidado ser uma profícua área de pesquisa, muitos economistas tendem a enxergar a velhice pelas lentes assistencialistas ou, na melhor das hipóteses, apenas como um dever moral, humanista e solidário, como se não houvesse nenhuma justificativa econômica para a alocação de recursos públicos no cuidado.
Se consideramos que o aumento de pessoas idosas necessitando cuidados agrega outros elementos acessórios e, principalmente, gera mais empregos diretos e indiretos, é questionável considerar que os velhos são um peso para a sociedade.
Se antes a solução de abrigamento era em asilos, lugares de fim de vida e sob os cuidados de religiosas que tratavam de amenizar a solidão dos que eram considerados inúteis para a sociedade, hoje já se considera a necessidade de atender as diferentes demandas da velhice, incluindo soluções de moradia mais flexíveis e atendidas por equipes multiprofissionais. O artigo dos pesquisadores cita a britânica Susan Himmelweit, economista dedicada às questões do cuidado.
Seus estudos econométricos mostram que o investimento em cuidado por parte do Estado pode ser tão relevante quanto o da indústria da construção e, assim, deve ser encarado como um segmento da infraestrutura, pois garante retornos de longo prazo. Himmelweit mostrou como o investimento público em cuidado gera mais empregos do que no setor de construção. No entanto, os trabalhadores do cuidado recebem remuneração e reconhecimento menores.
Mesmo para os que se mantêm na própria casa, seguindo a tendência cada vez mais significativa de envelhecer no lugar – Aging in Place, novos insumos agregam dispositivos e tecnologias que possibilitam mais conforto e segurança na moradia. Além disso, e em escala crescente, novos serviços oferecidos presencialmente ou remotamente exigem profissionais preparados e meios adequados para sua realização, tais como a telemedicina, tele entregas e outras situações que criam empregos.
Atualmente vê-se o transporte por aplicativo como uma solução de sucesso, havendo uma tendência cada vez maior de se utilizar esses serviços ao invés de manter veículos próprios. Essa transformação de costumes deve obrigatoriamente contar com uma política de cuidados, que atenda a sociedade com dignidade e respeito aos seus direitos.
Foto destaque de Alcides Freire Melo