O etarismo afeta a participação dos idosos no mercado de trabalho. A contratação e promoção de funcionários muitas vezes exclui pessoas mais velhas, apesar de sua experiência e qualificações.
Jhonatan Santos (*)
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De acordo com dados do IBGE, o Brasil enfrenta uma significativa mudança demográfica, com a quinta maior população idosa do mundo, representando 16% da população com 60 anos ou mais. Esse fenômeno não é exclusivo do Brasil, mas parte de uma tendência global, prevendo que até 2050, dois bilhões de pessoas serão idosas em todo o mundo. Nesse contexto, surge uma preocupação crescente com o etarismo, também conhecido como ageísmo ou idadismo, que é a discriminação baseada na idade, particularmente contra os idosos.
Segundo Alessandra Demite G. de Freitas, Dra. em Administração, coordenadora dos cursos de Gestão e Direito na Universidade São Judas, psicóloga e especialista em Gestão de Pessoas, “O etarismo é um conceito que ainda está em construção no Brasil, mas já é bem estabelecido em outros países. Trata-se de um processo sistemático de estereótipos e discriminação contra pessoas por causa de sua idade, levando a prejuízos, desvantagens e injustiças. O etarismo está enraizado em padrões sociais que associam a idade avançada a características negativas, resultando em exclusão pessoal, social, cultural e digital”.
Alessandra explica que os impactos psicológicos do etarismo são profundos e abrangentes. Pessoas mais velhas frequentemente enfrentam distúrbios relacionados à ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e experimentam uma redução na memória e na capacidade cognitiva. A maneira como os meios de comunicação aborda o envelhecimento muitas vezes contribui negativamente para esses problemas, afetando a autoestima e o bem-estar dos idosos.
O etarismo também afeta a participação dos idosos no mercado de trabalho. A contratação e promoção de funcionários muitas vezes exclui pessoas mais velhas, apesar de sua experiência e qualificações. Freitas conta que “a falta de comunicação entre gerações no ambiente de trabalho alimenta estereótipos de que os mais velhos são menos produtivos e têm dificuldades para se adaptar às mudanças tecnológicas. Essa visão é ultrapassada, pois a pandemia acelerou a adoção de tecnologias digitais, tornando o mercado de trabalho acessível a profissionais de todas as idades”.
Para isso, Alessandra traz luz à necessidade de combater o etarismo no mercado de trabalho e na sociedade de forma mais ampla. E acrescenta: “Combater o etarismo exige esforços em várias frentes. Na sociedade, é fundamental conscientizar a população sobre os direitos dos idosos e promover mudanças culturais que valorizem e respeitem essa parcela importante da sociedade. No mundo corporativo, empresas estão começando a adotar ações relacionadas ao ESG (Ambiental, Social e Governança) que valorizam a diversidade etária.
Concomitantemente às ações civis, Alessandra explica que as políticas públicas desempenham um papel fundamental na redução do etarismo e na promoção do envelhecimento ativo e saudável. O Estatuto da Pessoa Idosa, Lei 10.741/2003, já descreve o crime de discriminação contra idosos e estabelece penalidades. Garantir que essa lei seja aplicada é essencial. Além disso, é crucial criar condições para que as pessoas idosas tenham empregabilidade, autonomia e participação efetiva na sociedade.
Em resumo, o etarismo é um desafio que a sociedade brasileira enfrenta com o envelhecimento da população. Conscientização, mudanças culturais, ações no mercado de trabalho e políticas públicas são passos importantes na luta contra essa forma de discriminação, visando um futuro mais inclusivo e equitativo para todas as gerações.
(*) Jhonatan Santos é assessor de comunicação da Textual Comunicação
Foto de David Kouakou/pexels.
