Sentimos ao vivo a força, a beleza, a alegria, vitalidade e potência das Meninas de Sinhá em se comunicar por meio de canções tradicionais. Provavelmente as Meninas carregam nos seus corpos males e dores, mas no palco, dançando e cantando, expressavam a alegria e leveza do seu longeviver.
Beltrina Côrte e Vera Brandão (*)
(…) Conheci o Portal do Envelhecimento tem pouco tempo e me encantei com o termo “longeviver”, achei tão lindo e tão expressivo que gostaria de conversar sobre a possibilidade de utilizá-lo como nome de um festival para idosos que quero apresentar para possível patrocínio pelo Fundo do Idoso. Na verdade, eu criei tantos nomes, mas nenhum expressou de forma tão poética e de conteúdo como o termo ‘Longeviver’. (…) Seria muito bom se pudéssemos utilizar o nome, com seu consentimento e orientações para um evento melhor construído.”
Foi assim que conhecemos virtualmente Patrícia Lacerda, exatamente no dia 24 de setembro de 2018, por e-mail. Patrícia é produtora e coordenadora geral das Meninas de Sinhá, um grupo de cantoras com idade entre 56 a 89 anos, de Belo Horizonte (MG), moradoras da comunidade do Alto Vera Cruz e região há mais de 22 anos. O Grupo foi gerado em 1989, a partir dos encontros sociais idealizado por Dona Valdete Cordeiro (falecida em 2014), que se preocupava em ajudar suas vizinhas no enfrentamento de problemas psicológicos variados e solidão, que eram usuárias de fortes medicamentos para depressão.
“Quando o povo se une as coisas dão certo”
Dona Valdete nasceu na Bahia, na cidade da Barra, e com 5 anos – começo da década de 1940 – mudou-se para o Alto Vera Cruz, comunidade da periferia de Belo Horizonte, e ali foi elaborando seu lema: quando o povo se une as coisas dão certo. Como não sabia a data de seu nascimento escolheu 7 de setembro como dia de seu aniversário. Ela não frequentou a escola, mas isso não a impediu de lutar por água, luz, transporte, habitação, higiene… junto com outras mulheres. Começou a prestar atenção nas mulheres mais velhas, que frequentavam o ‘posto de saúde’ e saíam carregando sacolas cheias de antidepressivos. Ao conversar com elas foi se dando conta que não eram doentes, mas que precisavam de algo para ajudar a levantar a autoestima. E foi assim que no final dos anos 1980 nasceu o projeto Lar Feliz, no qual reunia senhoras idosas e as estimulava com trabalhos manuais e atividades físicas, como relatou a própria Dona Valdete em entrevista ao SESC. Cerca de dez anos depois o Lar Feliz descobriu sua verdadeira vocação – resgatar o gosto pela dança e pela música, por meio de antigas cantigas de roda, presentes na vida de todas elas, dando origem ao projeto às Meninas de Sinhá.
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- 31/08/2019
Já havíamos escutado falar do grupo as Meninas de Sinhá, quando participou do evento O Idoso Protagonista no SESC de Santo André (2008). Mas só fomos conhecê-las no último sábado (23/11/2019), representada por Ephigênia Lopes que, cantando, deu início e fez o encerramento da Palestra – Longeviver para o Futuro.
Encontramos o grupo cantando domingo, no palco do Palácio das Artes – maior centro de produção, formação e difusão cultural de Minas Gerais, e um dos maiores da América Latina, parte do Parque Municipal Américo Renné Giannetti -, no encerramento da primeira etapa do Encontro Longeviver, aquele que Patrícia Lacerda desenhou lá em 2018.
Atualmente, o grupo Meninas de Sinhá é referência nacional quando o assunto é transformação social por meio da cultura. A arte de cantar, dançar e relembrar antigas cantigas de roda, cirandas e brincadeiras infantis deu frutos e trouxe reconhecimento. Hoje elas promovem oficinas, shows, palestras motivacionais e projetos educativos, ministrando cursos e palestras, resgatando brincadeiras, cantigas de roda e interagindo com culturas diversas. Além de suas ações culturais o grupo permanentemente se apresenta em asilos, creches, penitenciárias, escolas e hospitais, além de grandes eventos, levando alegria e nova motivação em viver, sempre trabalhando públicos diversos entre adultos, jovens e crianças enfatizando a figura da mulher como instigadora motivacional.
Longeviver para o futuro
Esse foi o tema da roda de conversa da qual participamos, embaladas pelas canções de Ephigênia Lopes, acompanhada pelo violonista Geraldo, no começo e final de nosso bate papo, para um público interessado nas questões de nosso longeviver. Neste encontro, procuramos estabelecer ligação com o grupo e abordar os temas mais importantes sobre os quais temos trabalhado: conceito sobre envelhecimento, ageísmo, mitos e também possibilidades.
Para nós, que atuamos virtualmente, desde 2004, na produção do Portal do Envelhecimento, e neste ano de 2019 presencialmente no Espaço Longeviver, temos sentido a força de nossa missão, que é realizar uma curadoria de saberes múltiplos com qualidade, a fim de construir uma cultura da longevidade e uma sociedade solidária. Nascemos da academia, mas nos sentimos cada vez mais próximas de toda a sociedade, recebendo pessoas das mais diversas idades e formações, interessadas no processo do longeviver com qualidade – abrindo e cruzando fronteiras.
Sentimos ao vivo no domingo passado (24/11), a força, a beleza, a alegria, vitalidade, potência, do grupo em se comunicar por meio de canções tradicionais, de raiz. Sentimo-nos honradas pelo convite, mas principalmente por poder participar deste encontro, com o nome Longeviver expresso no seu sentido pleno na expressão das Meninas de Sinhá. Provavelmente todas as Meninas carregam nos seus corpos males e dores, mas no palco, dançando e cantando, expressavam a alegria e leveza do seu longeviver.
O objetivo principal do grupo é demonstrar a força e beleza das mulheres e de suas culturas, enfatizar o grande potencial feminino e valorizar sua comunidade, interagindo com um público bem diverso, incluindo crianças, idosos e pessoas que estão à margem do consumo de cultura, por meio de repertório que mescla músicas de domínio público, próprias e releituras populares.
O Encontro Longeviver encerrou o evento com Rolando Boldrin, que se apresentou depois do show das Meninas de Sinhá, cantando e contado causos e canções das raízes do povo brasileiro.
Ficamos felizes de também participar, e receber o carinho do povo mineiro!
(*) Beltrina Côrte e Vera Brandão são editoras do Portal do Envelhecimento e idealizadoras do termo Longeviver.
Correção: este texto sofreu alteração às 17h08, pois corrigimos o nome de Ephigênia Lopes que estava com grafia errada.