O efeito da leitura em pacientes com câncer

O efeito da leitura em pacientes com câncer

A Jornada da Leitura Afetiva: acolhendo pacientes com câncer mostrou que a leitura, como terapia, tem se mostrado potente no enfrentamento do diagnóstico e tratamentos contra o câncer, especialmente de idosos.


Como a Biblioterapia – ciência que utiliza a leitura como terapia – pode auxiliar pessoas no enfrentamento do diagnóstico e tratamentos contra o câncer, sobretudo idosos com mais de 60 anos em tratamento e seus familiares? Esta foi a pergunta que orientou a A Jornada da Leitura Afetiva: acolhendo pacientes com câncer, promovida pelo Observatório do Livro e da Leitura, realizada recentemente.  O evento foi on-line e gratuito para profissionais da saúde, cuidadores de idosos, pessoas com mais de 60 anos em tratamento contra o câncer e seus familiares e pessoas interessadas no tema. 

A Jornada da Leitura Afetiva contou com profissionais da saúde, especialistas, escritores e artistas que falaram sobre temas de grande importância para o trabalho de profissionais de saúde e cuidadores de idosos sob o ponto de vista da saúde, do acolhimento e da cultura inclusiva. Entre os convidados está a especialista em oncologia geriátrica e cuidados paliativos Fernanda Maris Peria, professora e médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP), que apresentou o painel Acolhimento e afeto para pacientes em tratamento contra o câncer, junto com Maria Helena Sponton, coordenadora de Humanização do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Nas falas dos profissionais convidados desse painel se evidenciou como ocorrência cotidiana ser comum se depararem com pessoas idosas que cuidam de um familiar também idoso, e como ficam tão focados no cuidado do familiar os idosos cuidadores acabam esquecendo-se de sua própria saúde. Daí a importância de o papel do profissional da saúde ter uma escuta atenta e saber acolher não só a pessoa doente, mas a família.

De acordo com Fernanda Maris Peria, numa situação de adoecimento grave é importante que toda a equipe cuidadora possa ser preparada para acolher e cuidar de toda a família. Nessas horas o psicólogo é fundamental, pois tem como função intervir, mas a escuta carinhosa, sem julgamento, é o que a pessoa idosa enferma e família mais precisam.

Assista o evento

Uma das questões colocadas nesse painel diz respeito a situações testemunhadas. Por exemplo, foi comentado que é comum a equipe encontrar familiares que desejam cuidar da pessoa enferma como ela gostaria de ser cuidada e aplica seus valores naquela pessoa. Apesar de ter uma boa intenção este cuidar não é a mais perfeita forma de acolher o outro. A melhor maneira é escutar o outro e saber como o outro gostaria de ser cuidado.

A esse respeito, Maria Guadalupe Goulart dos Santos, ouvinte do evento, postou o seguinte depoimento:

Minha mãe é independente e não “suporta” piedade, ela sabe que tem câncer e sabe que há dias muito ruins e dias melhores e daí quando ela quer conversa, vai no jardim, assiste um filme.

Foi ressaltado que o julgamento, que é muito comum na equipe profissional, não traz acolhimento. Exemplo, é comum um profissional ao ver a pessoa enferma triste por sua situação, dizer: “imagina, isso é bobagem, tem que ter pensamento positivo”… e por aí vai. Este tipo de comentário, cheio de boas intenções, faz muitos estragos, pois, além da pessoa estar triste por sua condição, ela se sente incompetente também. Nesses casos ajuda mais dizer “olha, estou vendo que você está triste, tem alguma forma que eu possa ajudar?”. Frases como essas, abrem espaço para a escuta ativa e, consequentemente, saber o que o outro de fato quer.

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Foi dito também que é frequente se depararem com familiares e amigos que se distanciam, por não saberem o que dizer, como ajudar nem como agir. Nessa hora a sugestão dada para familiares e amigos é dizerem que querem muito estar presentes, mas não sabem como, e assim conversar sobre isso, e não se distanciarem. Sempre preferirem a comunicação.

Para as equipes que cuidam diretamente da pessoa enferma, a sugestão recomendada de como ajudar é terem a escuta atenta, compassiva. Tipo, enquanto faz alguma intervenção no corpo da pessoa acamada, dizer “me conta quem é você, o que você fazia e gosta de fazer…”, criando uma elação de confiança, enfim, abrir espaço para que a pessoa enferma se abra.

Biblioterapia

Nesse sentido, a Biblioterapia (ciência que utiliza a leitura como terapia), outro painel apresentado, tem se mostrado potente no enfrentamento do diagnóstico e tratamentos contra o câncer. Os benefícios da Biblioterapia já foram comprovados, e vão muito além do entretenimento. As antigas civilizações acreditavam que as artes de maneira geral poderiam proporcionar alívio às enfermidades. O nome específico de biblioterapia surgiu somente no século XX, recomendada, inicialmente, para pessoas com depressão, medos, fobias e, pasmem, para idosos também. Após anos de pesquisa, há muitas evidências apontando os benefícios da leitura terapêutica para diferentes tipos de pessoas em faixas etárias distintas.

A esse respeito Juliana Bessa diz que o livro é um guardião de muitos sentimentos e olhares de muita coisa que não conseguimos ver. Além do mais, a leitura leva a pessoa doente e familiares para outros mundos, saindo da doença em si, ou as pessoas serem vistas como o câncer. Ou seja, ter outros mundos, novos universos, e passar pelo processo da doença com mais autonomia e vida mesmo, ao poder vivenciar personagens, entrar em aventuras e histórias outras que não aquelas que sejam apenas de doença.

Juliana menciona a frase do escritor Bartolomeu Campos de Queirós que diz: “A beleza é tudo aquilo que você não dá conta de ver sozinho”. Ela recomenda muito as pessoas enfermas, especialmente com câncer, fazer parte de um grupo de leitura, espaço para ter escuta. A biblioterapia ajuda a enfrentar um diagnóstico aterrorizante, especialmente o câncer, que ainda está cheio de crenças. O livro traz clareza de ideias, traz descanso à ansiedade infinita que se instala com o diagnóstico.

Fonte: Jornal USP. Foto destaque de Joel Muniz / Unsplash


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