Como a sociedade está tratando seus velhos? Que investimento está sendo feito? As respostas a estas perguntas dizem sobre o significado que as velhices têm nas sociedades. Respostas que a Gerontologia Social deve investigar.
O aumento da esperança média de vida leva muitas famílias a viver em sacrifício entre os filhos que precisam de cuidados e os pais que precisam assegurar a sobrevivência com dignidade. Há famílias que vivem em esforço para poderem ter os seus pais num lar, poderem continuar a trabalhar e ainda cuidar das suas crianças. Há também profissionais dos lares que durante o estado emergência da covid-19 se fecharam nos lares para cuidar dos idosos, e se afastaram das próprias famílias. Esses temas, entre outros, serão debatidos em um evento sobre envelhecimento em Portugal, a ser realizado nos dias 25, 27 e 28 de setembro, em Leiria (Portugal), organizado pela Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES).
Em entrevista à Maria da Graça Polaco, do jornal Notícias Coimbra (Portugal), Ricardo Pocinho, diretor da ANGES, relata que a realidade da gerontologia social está no foco do evento. E por isso serão abordados os cuidados a idosos nas suas várias componentes, desde o funcionamento das organizações aos cuidados na prática, a formação de técnicos prestadores de cuidados e as condições de trabalho
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Segundo ele, o debate da gerontologia está cada vez mais atual, em particular depois das graves situações que a pandemia fez emergir. A quarta edição do Ageing Congress contará com o compartilhamento de diversas experiências, em especial com a pandemia, mas também de apresentação de resultados científicos pelos investigadores.

O grande foco do evento será a formação das pessoas que trabalham em organizações dirigidas a idosos. Ricardo Pocinho destaca que 40% dos trabalhadores se encontram em burnout (esgotamento físico e psíquico) e por isso é necessário encontrar soluções e promover a formação para melhorar as condições de trabalho dos cuidadores profissionais.
De acordo com ele, é preciso alocar meios financeiros e profissionais, mesmo de saúde, aos lares e instituições para pessoas idosas. Em Portugal, por exemplo, não existe uma rede pública de lares. Segundo Pocinho, “são todos privados sendo alguns de perspectiva economicista e outros ligados a projetos de solidariedade”, como é o caso das misericórdias.
Recentemente publicamos uma matéria no Portal do Envelhecimento a respeito justamente disso, da União das Misericórdias, propondo novo modelo de moradia para o envelhecimento em que os idosos possam ficar mais em casa e que tenham um plano individual de cuidados, tendo em vista a sua qualidade de vida. Levando em conta a experiência durante a pandemia, as misericórdias apontam em um documento chamado “Respostas Seniores do Futuro — Um modelo de respostas especializadas”, um outro desenho, mais focado nos cuidados domiciliários, com recursos humanos qualificados, e menos na institucionalização.
A questão dos modos de morar na velhice e a qualificação dos profissionais que atuam com o segmento veio à tona com a pandemia, em todos os países, tanto nos desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. E em Portugal não foi diferente, não há moradias dignas para todos os velhos que delas precisam. Nem tampouco trabalhadores qualificados suficientes para atenderem uma demanda cada vez maior.
Para Ricardo Pocinho, “Não ser capaz de homenagear com condições de vida os mais velhos que nos permitiram hoje viver em liberdade é o mesmo que não se dedicar a nada”, e conclui: “O desenvolvimento de um país observa-se pela forma como trata os seus idosos”.
Como a sociedade está tratando seus velhos? Que investimento está sendo feito? As respostas a estas perguntas dizem sobre o significado que as velhices têm nas sociedades. Respostas que a Gerontologia Social deve investigar.
Serviço
O programa do Ageing Congress pode ser consultado no site da ANGES
Site: https://2021.ageingcongress.com
Foto destaque de Plato Terentev/Pexels
Atualizado em 12 de setembro, às 21h43