Resolvi escrever este post pela frequência em que me pego orientando familiares de idosos a respeito do uso de cadeiras de rodas para locomoção. Muitos acreditam que seja a melhor solução para o idoso que já não se locomove com tanta agilidade.
Quando o idoso começa a caminhar com dificuldade, mais vagarosamente, cansando-se até mesmo em curtos percursos, é comum a família pensar em resolver a situação com a cadeira de rodas. Alegando ser mais seguro, mais confortável e ser um recurso facilitador para que o idoso possa passear e
frequentar locais públicos, por exemplo. As famílias adquirem a cadeira, que inicialmente é utilizada em situações específicas, e quando menos se espera, o idoso já está totalmente dependente da cadeira para locomoção, inclusive dentro da sua própria casa. Por que isto acontece? Porque cadeira de rodas não é tratamento. Pode ser uma solução para um situação específica, preferencialmente temporária.
A questão é: Quando o paciente necessita realmente de uma cadeira de rodas?
Gosto sempre de reforçar que, para qualquer recurso de auxílio a locomoção, seja bengala, muletas, andador ou cadeira de rodas, o ideal é sempre procurar a orientação de um profissional especializado, pois, estes recursos, que têm a finalidade de proteger e promover a funcionalidade e de prevenir agravos, se prescritos de forma inadequada podem causar sérios prejuízos ao paciente. A cadeira de rodas não é diferente. Muitas variáveis precisam ser avaliadas. O motivo pelo qual o idoso não está mais conseguindo caminhar precisa ser identificado e, se possível, reabilitado. Assim sendo, o uso da cadeira de rodas seria provisório.
Idosos com alteração de equilíbrio, “fraqueza nas pernas” (uma das queixas mais relatadas no consultório), dor crônica, por exemplo, com o tratamento adequado podem recuperar a habilidade de caminhar de forma independente e segura. É fundamental investigar as queixas relatadas pelo idoso e não associar a dificuldade da caminhada ao processo de envelhecimento.
O envelhecimento, principalmente após os 70 anos, altera o padrão da marcha se comparada a de um adulto jovem, porém, a habilidade de caminhar de forma independente está preservada na velhice e qualquer dificuldade relacionada a esta função deve ser investigada.
Colocar o idoso que caminha lentamente em cadeira de rodas para “ganhar tempo”, pode agravar seu estado funcional, diminuindo sua força muscular, ocasionando encurtamentos musculares, diminuindo a mobilidade, sem falar nos prejuízos emocionais que podem surgir com a “perda desta função”. Algo que ele fazia de forma independente, agora, representa um dependência total. É claro que a cadeira de rodas pode proteger o idoso de uma queda e como uma tecnologia assistiva pode ser grande aliada em promover inclusão e acessibilidade, mas, como dito anteriormente, deve ser prescrita por um profissional especializado para garantir seu uso adequado e a indicação do tratamento correto ao paciente, promovendo qualidade de vida ao idoso.
Portanto, antes de considerar o uso da cadeira de rodas como solução para o problema da locomoção, pense em procurar ajuda profissional para reabilitar a marcha do idoso e utilizar a cadeira apenas em situações específicas, que não acarrete declínio funcional e sempre com a orientação adequada.