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Entre mulheres de comunidades, pretas e pardas têm maior risco para doenças cardiovasculares

foto de favela

Mulheres pretas e pardas relatam sentir mais estresse relacionado à vida doméstica e financeira.


O estresse é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como hipertensão e AVC (acidente vascular cerebral). Este risco pode ser mais presente entre mulheres pardas e pretas, do que entre mulheres brancas que vivem em comunidades, de acordo com estudo feito por pesquisadores da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e outras instituições parceiras. O artigo, publicado recentemente em “Cadernos de Saúde Pública”, mostra que as mulheres pretas e pardas relatam sentir mais estresse relacionado à vida doméstica, financeira e social quando comparadas às mulheres brancas. Elas também praticam menos atividade física e comem menos frutas, legumes e vegetais.

A pesquisa foi feita em 2017 com 93 mil pacientes de 500 unidades básicas de saúde em diferentes comunidades no estado de São Paulo. Trata-se de um estudo transversal, que funciona como uma fotografia daquele momento em questão. A maioria (66%) das pessoas entrevistadas eram mulheres e todos tinham mais de 18 anos de idade. Foram feitas avaliações clínicas e coletadas informações sobre estilo de vida, como consumo diário de frutas, legumes e vegetais, prática de atividade física, tabagismo e percepção sobre estresse em situações sociais, domésticas, financeiras e relacionadas ao trabalho. A classificação étnico-racial foi autodeclarada.

As mulheres afirmaram consumir mais alimentos saudáveis quando comparadas ao grupo de homens: 59% consomem frutas diariamente e 65% comem legumes e vegetais, enquanto, entre os homens, as porcentagens são de 48% e 55%, respectivamente. Os homens, no entanto, praticam mais atividade física moderada: 34% deles contra 28% delas. Pesquisas prévias revelam que a prática de atividade física moderada pode impactar na qualidade de vida, reduzindo estresse e risco cardiovascular. Por isso, o fato de apenas um terço dos participantes do estudo estarem neste grupo é preocupante, segundo avaliação dos pesquisadores.

A disparidade na percepção de estresse entre homens e mulheres é expressiva: enquanto 37% dos homens afirmam ter passado por eventos estressantes em um ano, entre as mulheres, mais da metade (51,6%) passou por algum estresse no mesmo período. As mulheres pretas e pardas também relataram passar por mais situações estressantes do que mulheres brancas em aspectos financeiros (29% contra 25%), sociais (12% contra 11%) e doméstico (30% contra 25%).

Para os autores do estudo, os números são alarmantes, pois podem indicar aumento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares entre as mulheres, especialmente, não brancas. “Infelizmente, as mulheres pagam um preço alto pelo seu empoderamento e pela sua independência. Elas foram dotadas de muitas responsabilidades numa sociedade que permaneceu desigual”, avalia Antônio Mattos, epidemiologista e primeiro autor do estudo. A hipertensão é o principal problema cardiovascular entre as mulheres no geral, segundo estudos prévios.

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Mattos salienta o papel do estresse no adoecimento. “As pessoas estão habituadas ao estresse, acham que faz parte do cotidiano e não sabem que é um fator de risco para doenças como a depressão”. Para o pesquisador Henrique Fonseca, coautor do estudo, o cenário pode ser ainda mais alarmante após a pandemia. “Os dados da pesquisa retratam o que estava acontecendo antes da Covid. Agora, as pessoas têm uma percepção ainda maior sobre estresse e problemas de saúde mental como a depressão, então, talvez os índices sejam ainda maiores”, comenta, acrescentando que será preciso desenvolver novos estudos para testar essa hipótese.

Fonte: Agência Bori

Foto: Marcos Santos/USP Imagens


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