O tema da última matéria no Jornal A Folha de S.Paulo, do médico cancerologista Drauzio Varella fala sobre Obesidade: mitos e fatos. O médico explica que, talvez não exista campo da medicina com tantos mitos e pressuposições divulgadas pelos meios de comunicação, sem evidências científicas que lhes deem suporte como as famosas receitas e dietas.
Segundo Varella “o ‘New England Journal of Medicine’ publicou uma revisão na qual foram avaliadas as informações sobre obesidade transmitidas pela internet, imprensa escrita e literatura científica”.
Abaixo a transcrição dos resultados do estudo que identificou sete mitos divulgados como verdades científicas:
1 – Pequenas reduções do aporte calórico diário ou pequenos aumentos do gasto energético provocam emagrecimento significativo mantido por períodos longos.
2 – Estabelecer alvos modestos, mais realistas, funcionam melhor do que pretensões de perder muitos quilos.
3 – Emagrecimento rápido e acentuado está mais associado ao efeito sanfona do que o lento e gradual.
4 – Nos programas de emagrecimento, é importante que um profissional avalie periodicamente a dieta ingerida.
5 – Aulas de educação física nas escolas contribuem para combater a obesidade infantil.
6 – A amamentação protege contra a obesidade.
7 – A atividade sexual queima até 300 calorias.
Agora, vamos aos fatos:
1 – Embora fatores genéticos tenham papel importante na obesidade, hereditariedade não é destino.
2 – Mudanças no estilo de vida são mais eficazes do que os remédios para emagrecer.
3 – Dietas ajudam a perder peso, mas não é fácil mantê-las por longos períodos.
4 – Independentemente do emagrecimento, qualquer aumento da atividade física faz bem para o organismo.
5 – Manter no dia a dia as mesmas condições que provocaram perda de peso colaboram para a manutenção da perda.
6 – Crianças obesas se beneficiam de programas que envolvem a família inteira.
7 – A substituição de refeições por produtos dietéticos com baixo teor calórico colabora para a perda de peso.
8 – Alguns medicamentos ajudam a perder peso e a mantê-lo mais baixo, mas apenas enquanto estão sendo utilizados.
9 – Em casos selecionados, a cirurgia bariátrica provoca emagrecimento duradouro, reduz a incidência de diabetes e a mortalidade.
Obesidade e sexualidade
Além do estudo divulgado acima, localizamos na internet outro trabalho que comprova a relação direta entre obesidade e fraco desempenho sexual.
A reportagem anuncia: “O aumento vertiginoso do consumo de medicamentos para a disfunção erétil está diretamente ligado ao aumento da obesidade no mundo. O excesso de peso reduz a libido e prejudica diretamente o desempenho sexual”.
No Brasil, pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), envolvendo cinco mil homens, mostra que 51% dos brasileiros estão acima ou muito acima do peso e que 37% deles admitem o uso de remédio para ereção. No Rio de Janeiro este percentual chega a 60%.
Para o geriatra e endocrinologista, Jorge Jamili, coordenador do Grupo Longevidade Saudável no Rio de Janeiro: “não há dúvida de que o aumento de casos de disfunção erétil está relacionado ao aumento da obesidade entre os brasileiros”.
Em entrevista à Agência Brasil, o endocrinologista explicou que as alterações hormonais provocadas pela obesidade comprometem o equilíbrio do corpo humano. Levam a desajustes fisiológicos que podem afetar todos os órgãos e sistemas e, em consequência, a saúde e a qualidade de vida.
“O tecido adiposo hipertrofiado dos obesos produz uma excessiva quantidade da substância conhecida como leptina, que tem por finalidade sinalizar ao cérebro a saciedade produzida pelo alimento.
Esta substância também estimula os hormônios sexuais na glândula hipófise, FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e LH (Hormônio Luteinizante), responsáveis por comandar as células dos testículos para produzirem espermatozoides e testosterona, respectivamente”.
Segundo ele, a leptina exerce “ação direta sobre as células de leydig, localizadas nos testículos, onde produzem a testosterona, e as células sertoly, responsáveis pela produção de espermatozoides”.
Jamili explica que quando uma pessoa engorda ocorre o desequilíbrio do hormônio insulina e do seu contra-regulador glucagon, o que faz com que a produção de insulina seja cada vez maior em decorrência da resistência que o corpo desenvolve a esse hormônio.
“Os efeitos são devastadores e podem levar, caso fora de controle, ao aumento da obesidade. Causam processos inflamatórios, além de servir como a base da síndrome metabólica, que é, de longe, a maior causa de mortes no mundo atual”.
Para melhorar os níveis hormonais, o especialista diz que a saída não é repor a testosterona, sobretudo em homens mais jovens, e muito menos utilizar medicamentos para disfunção erétil.
“O que devemos fazer é evitar ou reverter a resistência leptínica, ou seja, emagrecer, para que os receptores de insulina respondam ao seu comando”, recomenda.
Jamili diz que é preciso ter consciência de que, do ponto de vista do interesse do homem pela mulher, é preciso separar a questão relativa ao desempenho sexual decorrente da presença satisfatória da libido e da ereção propriamente dita.
“No caso do obeso, sob os dois pontos de vista, o desempenho sexual fica comprometido: Tanto o desejo sexual como o desempenho mesmo – este diretamente ligado à ereção”.
E é, segundo ele, neste ponto que reside o problema: “A utilização de medicamentos como o Viagra e similares promove a ereção, mas não melhora a libido.
O ideal é procurar fazer a correção hormonal, eliminando o desequilíbrio, o que levará à melhora dos dois aspectos: tanto da ereção como da libido – uma vez que a obesidade compromete diretamente os eixos hormonais, sobretudo a testosterona que é o hormônio masculino”.
Ele dá ênfase ao entendimento de que a obesidade é considerada “uma pandemia que afeta e mata indistintamente pobres e ricos, desencadeando uma série de outras doenças crônicas e generativas”.
Jorge Jamili defende a necessidade de se quebrar a lógica perversa decorrente da conjunção entre a má alimentação e o sedentarismo cada vez maior, decorrente do processo de industrialização crescente no mundo.
Para ele, isto será possível a partir de um equilíbrio alimentar conjugado com a prática crescente de atividades físicas. “E este é um problema que afeta as pessoas cada vez mais cedo, em idade cada vez menores. Nunca a medicina verificou crianças com histórico de colesterol alto e com diabete. É um fenômeno atual e que não vem obtendo da mídia (que, na sua opinião, deveria fazer campanhas de esclarecimentos sobre o problema) a atenção que merece e que deveria ter”.
Referências
OLIVEIRA, N. (2012). Estudo comprova relação direta entre obesidade e fraco desempenho sexual. Disponível Aqui. Acesso em 20/10/2012.
VARELLA, D. (2013). Obesidade: mitos e fatos. Disponível Aqui. Acesso em 23/02/2013