A solidão é mesmo uma palavra que causa medo. Acho que nunca se falou tanto desse estado como nos últimos tempos. Talvez porque as pessoas estejam mais independentes, cada um cuidando da sua própria vida, focados nos seus próprios problemas e demasiadamente ocupados com os compromissos de uma vida de trabalho e responsabilidades familiares. Subitamente, então, o tempo passa, já não temos mais tantos afazeres, o tempo livre aumenta e nos sentimos sós, terrivelmente sós.
Não sei qual dor seria maior ou se podemos falar em dores maiores ou menores, mas é inevitável pensar como será a velhice destas pessoas que se fizeram tão independentes, restritas a seu próprio mundo e pior, temerosas de estabelecer uma relação afetiva com medo de novas perdas e lutos subjetivos. Se o cenário é difícil para elas, imaginem para os casais que compartilham toda uma vida, se conhecem e reconhecem seus mais profundos medos e fraquezas. Como não perguntar: como viverei em meio a tanta solidão?
Quem já tem o seu ou a sua companheira por longos anos pode responder. A matéria publicada no Jornal Correio da Manhã de Lisboa, conta como a perda de um cônjuge pode ser difícil e muito dura de enfrentar. Num exemplo da vida real, a realidade: “a morte do marido deixou vazia a casa de Maria Luísa e tornou-a grande demais para tanta solidão. O sítio onde durante 57 anos o casal viveu converteu-se, com a partida, poiso de lágrimas para quem ficou”.
Ela conta: “Fui viver com a minha filha e de cada vez que entrava na minha casa chorava, não podia ver nada, pegar em nada, tudo me lembrava a ausência, não conseguia ficar lá, não sabia estar só. Sei que ele partiu preocupado comigo, conhecia-me bem e por isso sabia que eu sou uma pessoa com muitos medos, da noite e da solidão, sabia que eu ia sofrer quando fosse embora. Acho que de certa forma foi o meu marido que me enviou a Susana”.
A reportagem explica que Susana Silva, de 21 anos, faz parte do Programa Aconchego que coloca jovens na casa dos idosos, numa espécie de troca por troca que beneficia ambos os lados. Os primeiros oferecem companhia, os segundos abrem as portas de lares que se tornaram vazios demais na velhice sem cobrar nada pelo quarto.
A jovem aparentemente feliz com a generosa troca diz: “Se há alguém idoso aqui em casa não é a Dona Maria Luísa, sou eu, que me deito antes das onze da noite e que ainda no outro dia tive bolhas nos pés que ela ajudou a tratar”. Carinho, com certeza, não deve faltar nos dois lados. Para Susana, estudante de Direito e natural da cidade de Espinho, o programa representa muito e em vários sentidos, tanto afetivo como financeiro, já que morando com Maria Luísa ela consegue ficar perto da faculdade e sem custos de alojamento, o que, a principio não parece justo.
Segundo a reportagem, o Programa Aconchego, de responsabilidade da fundação Porto Social, nasceu em 2004 sob o lema ‘casa para quem estuda, companhia para quem precisa’. Num país onde se estima que vivam sozinhos cerca de 400 mil idosos, tantas vezes nas mesmas casas onde morrem sem ninguém dar conta nem se despedir, o programa procura combater o isolamento a que muitos estão condenados. Por outro lado, nos classificados da internet pululam anúncios que pretendem fazer trocas semelhantes. São postos por familiares de idosos, que tentam desta forma arranjar solução para a companhia que não conseguem fazer.
Projetos como esse devem ser analisados com atenção, principalmente nas grandes cidades. A troca e o convívio são saudáveis e fundamentais tanto para o idoso quanto para o jovem. Apenas, deve-se ter cautela com quem se coloca em casa. Outro ponto importante é a questão financeira.
Referências
SILVA, M.M. (2012). Um quarto contra a solidão. Disponível Aqui. Acesso em 06/03/2012.