A importância de programas intergeracionais na cidade de São Paulo

A importância de programas intergeracionais na cidade de São Paulo

Podemos sim sugerir projetos ao poder público e à Organizações da Sociedade Civil, que unam em um mesmo espaço, já disponíveis, crianças e velhos, seja em Instituições de Longa Permanência (ILPI’s), Centros de Educação Infantil (CEI’s) ou Núcleos de Convivência de Idosos (NCI’s).

Por Elizabeth Elias (*)

 

A necessidade de atualização na área da gerontologia social, está diretamente ligada à reflexão que venho fazendo há alguns anos, dentro de minha prática profissional, enquanto diretora de um CEI conveniado e coordenadora de grupos de idosos mantidos pela instituição que trabalhei.

Estes serviços oferecidos à população de um modo geral fazem um corte e constroem uma parede de isolamento entre estas duas fatias de nossa sociedade, a criança e o velho, lançando projetos distintos, em espaços distintos.

Sempre me perguntei qual seria a razão plausível para a manutenção desta separação, quando uma faixa etária pode oferecer tanto à outra.

Por anos seguidos, na instituição que atuava, tentei implantar um projeto que fizesse a união das duas faixas etárias em um mesmo espaço, obviamente adaptado às necessidades de cada usuário. Porém nossos projetos já implantados (Centro de Educação Infantil e grupo de idosos) não tinham a mesma fonte de arrecadação, um conveniado com a Prefeitura Municipal de São Paulo e o outro mantido com recursos da mesma. Razão suficiente para a ideia ser rejeitada pelos órgãos públicos e pela própria instituição social, a possibilidade do início deste projeto, nesta tipologia.

Porém, após as vivências durante as aulas do Curso de curta duração “Fragilidades na velhice: Gerontologia social e atendimento”, trocando experiências com outros profissionais, pude constatar que podemos sim sugerir projetos ao poder público e à Organizações da Sociedade Civil, que unam em um mesmo espaço, já disponíveis, crianças e velhos, seja em Instituições de Longa Permanência (ILPI’s), Centros de Educação Infantil (CEI’s) ou Núcleos de Convivência de Idosos (NCI’s).

Durante o percurso de nosso curso, realizei algumas visitas a NCI’s, CEI’s e ILPI’s na cidade de São Paulo, especificamente nas regiões Oeste e Sul, que dispõe de amplos espaços, tanto em área construída bem como nas livres, e pude constatar que seriam bastante suficientes para a realização de um projeto deste porte.

Será possível pensar nisso mais adiante? O que nos impede de seguir com este propósito para a cidade de São Paulo?

A cidade de São Paulo, através da Secretaria de Educação, possui inúmeras unidade diretas e conveniadas de Educação Infantil ou pré escolas, e a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, desenvolve serviços junto a NCI’s conveniados em inúmeras regiões da cidade, porém neste último caso, muitos NCI’s deixam de ser implantados por falta de espaço físico para tal. É sabido que muitos CEI’s dispõem de espaços ociosos.

Por que não unir os serviços e rentabilizar as ações? Falta iniciativa, propostas ou vontade política?

Tive a oportunidade de manter uma interlocução com um dirigente de uma entidade sem fins lucrativos que comungava deste pensar, porém os trâmites burocráticos do poder público atravancam o avanço do projeto.

Apresentar aos governantes da cidade esta ideia e fundamentar o projeto, foi a proposta que fiz ao Diretor Presidente da Entidade citada visitada.

Seriam estes pontos de destaque para o início de um diálogo com poder público para sua implantação?

Iniciativas como esta proposta estão presentes em alguns locais da Europa e Estados Unidos, mas na cidade de São Paulo as iniciativas são bem poucas.

Aliar a energia de crianças, que pulam, brincam, sonham e não se entristecem por muito tempo, parece-me ser um ponto de ligação. Mas é claro que as crianças apresentam um pique de energia que é de dar inveja para qualquer pessoa. Esta grande ideia apresenta uma oportunidade para que as crianças conheçam as limitações que o tempo impõe às pessoas, e idosos podem ver nas crianças uma forma de viver, sorrir e lembrar que ainda estão vivos e podem sentir felicidade, podem contribuir, e muito, para a formação das crianças, com valores e ensinamentos, muitas vezes esquecidos na sociedade atual.

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Ouso até dizer que poderia se tratar de uma iniciativa grandiosa para realizar uma experiência deste porte, que possibilite tantos aprendizados, onde paciência e descobrimento devem estar sempre em ascensão.

O que acontece quando se permite a convivência entre crianças e idosos? A partir de uma parceria entre NCI’s + CEI’s + ILPI’s  permite-se a interação entre as faixas etárias como estratégia de desenvolvimento para a infância e a motivação para os idosos.

As construções de significado se dão em dois sentidos. Por um lado, as crianças estão em constante aprendizado sobre o processo natural de envelhecimento, já que convivem com indivíduos de até duas gerações mais antigas. Isso as faz compreender com mais facilidade as possíveis deficiências e dificuldades dessa etapa da vida e as estimulam a criar laços afetivos mais sólidos com esses indivíduos.

Os idosos, por sua vez, acabam se beneficiando fisicamente, já que as interações os convidam ao movimento; no campo psicológico, as vivências possibilitam a troca de conhecimento e, assim, estimula os idosos a resgatar memórias e histórias que constituem suas identidades.

Aprendizagem em diálogo com a vida

Existirá a necessidade de formação específica e em serviço para os profissionais da área da educação e da Assistência, já que os profissionais capacitados precisam estar integrados nessa relação. Deixar que as coisas aconteçam também não seria a saída, pois muitos idosos precisam de mais atenção em relação às crianças.

Esclareço que quando abordo esta relação criança e velhos, estou mencionado a faixa etária para crianças, recortando CEI’s com idades de 3 anos e a pré escola, entre 4 e 6 anos.

As atividades pensadas de integração neste projeto estariam respeitando as necessidades individuais de cada grupo e poderiam estar permeadas de atividades em conjunto, sugerindo que as crianças passassem de três a cinco dias por semana, por algumas horas da jornada escolar, interagindo com os idosos e fazendo atividades, desde brincar, dançar, contar histórias, preparo de lanche, artesanato para doações ou simplesmente ir a um parque, por exemplo.

Esta parece mesmo uma transformação para a educação infantil e nas atividades específicas dos idosos. Dar-se-ia uma verdadeira troca, riquíssima de experiências, lições sobre a vida, carinho e companheirismo. O projeto, reunindo duas gerações tão distintas, poderia ser colocado em prática pela pré-escola ou pelos CEI’s e pelos NCI’s / ILPI’s.

Concluindo esta reflexão

Em breve a expectativa de vida no Brasil ultrapassará os 75 anos, representando aproximadamente mais de 30 milhões de idosos, ou seja, mais ou menos 15% da população.

Apesar de o envelhecimento ser um fenômeno ainda recente no nosso paés, a população dos idosos brasileiros deverá ser uma das maiores do mundo.

Assim sendo o país precisa buscar urgentemente alternativas, ou medidas, principalmente na área de serviços sociais, saúde e educação, para que o envelhecimento se torne um ganho real e não um fardo para gerações futuras.

Algumas dessas medidas devem incluir as crianças e os jovens, na tentativa de prevenir os preconceitos quanto ao envelhecimento e possíveis conflitos intergeracionais que a sociedade poderá enfrentar diante das necessidades.

Acredito que os programas e atividades intergeracionais, como as propostas nesta reflexão, poderão ser grandes incentivadores para as diversas gerações participarem significativamente, desta transformação.

Todos aqueles que estiverem engajados em projetos como estes, poderão refletir os padrões de uma sociedade futura, aprendendo a ser sensíveis, compreensivos, respeitosos e podendo crescer tranquilamente com as diferenças e semelhanças individuais entre eles, enfraquecendo também as possibilidades futuras de discriminação.

Espero ir além desta simples reflexão, ampliando meus conhecimentos sobre a problemática atual do idoso, principalmente quanto ao preconceito etário e ao menosprezo, e que possa apresentar esta proposta de projeto com grupos intergeracionais à organizações que estejam abertas e olhando para o futuro e que, acima de tudo, tenham dentre seus objetivos o estímulo à solidariedade e cidadania na sociedade.

(*) Elizabeth Elias tem formação em Serviço Social. Texto apresentado no curso Fragilidades na velhice: Gerontologia social e atendimento, ministrado pela PUC-SP, no primeiro semestre de 2017. E-mail: [email protected]

 

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