Pessoa Idosa: protagonismo da conquista e efetivação de seus direitos. Envelhecimento e Políticas do Estado: pactuar caminhos intersetoriais. Esses Eixos Temáticos foram debatidos no período da manhã em dez (dez) salas simultaneamente na III CNDPI, no dia 24/11. Opiniões sobre os debates e os temas foram a pauta das entrevistas dadas ao Portal, pelos delegados e convidados da III Conferência.
Bernadete Oliveira
Ana Elisa Bastos Figueiredo, da Fiocruz/RJ, falou sobre políticas do Estado, pois o trabalho que desenvolve desde 2010 tem como objetivo verificar o impacto da violência sobre a saúde. Ela é pesquisadora do Centro Latino Americano de Estudo sobre a Violência e a Saúde, responsável pelo Observatório Nacional do Idoso, da Secretaria dos Direitos Humanos (da Presidência da República) e realizado nos Centros Integrados de Atenção e Prevenção de Violência contra a Pessoa Idosa, em 18 estados brasileiros, junto aos idosos, gestores e profissionais destes centros. Ana Elisa destacou, da pesquisa, a solicitação dos participantes quanto a demanda de profissionais mais capacitados para lidar com a violência doméstica e institucional. Os idosos ali presentes solicitaram uma formação com temas relacionados a violência e a forma de atender – mediação de conflitos e articulação da rede (que é falha em sua referência e contra referência).
Para Ana Elisa Bastos Figueiredo, “a III CNDPI é inteiramente importante, pois mesmo aqueles destaques que já surgiram em outras conferências – que precisam ser reeditadas – também é importante o papel dos idosos, com bastante ênfase, e se posicionando em relação a todas as questões.” A pesquisadora comentou que “Sem violência todas as dimensões do envelhecimento começam a se efetivar em ações… a violência contra a pessoa idosa é multidimensional em sua abrangência na família e nas instituições. Para que ela deixe de existir é preciso cuidar da saúde, da educação e dos direitos humanos, e que diversos setores devem contribuir com a qualidade de vida de todos”.
Antonio Lopes de Miranda, 74 anos, Conselheiro de Lafaiete (MG), conhecido como “Nozinho”, falou entusiasmadíssimo ao Portal: “Sou o único da minha cidade, entre 130 mil habitantes, com muito esforço, que estou aqui. Busco ativar o Estatuto do Idoso. Porque quem está na cúpula não tem interesse em distribuir, retém os direitos para não gerar mais gastos. Só fica nas mãos dos grandes”. Ele relatou sua viagem para participar da III CNDPI como exemplo de desrespeito aos seus direitos: “Viajei 12 horas de ônibus, à noite, sem conforto (que poderia ser de avião)”. Ele comenta a falta de sensibilidade com os idosos: “Hotel! Quase que ficamos ao léu. Não tinha reserva (má administração de novo de quem está na frente, que com certeza um dia vai ficar idoso). Estou dizendo isso para que nas próximas… que ninguém sofra o que estamos sofrendo (talvez eu não venha). Minha primeira participação foi na III Conferência Nacional de Associação de Moradores, há 25 anos, melhorou muito, mas eu era um jovem adulto”. Nozinho também criticou o modelo de Educação, “no regime militar quanto mais a população era analfabeta era melhor. Hoje melhorou, mas não é só eu saber ler e escrever. É saber que não vai jogar o lixo na rua.”
Da Secretaria Municipal do Esporte de São Paulo, Dinéia Cardoso, Educadora Física, pedagoga e especialista em Gerontologia (USP) falou ao Portal sobre o trabalho desenvolvido no município e solicita divulgação para que mais idosos participem do programa nas Unidades de Club Escola, o qual visa protagonismo da pessoa idosa e efetivação de seus direitos. “Protagonizar é abandonar o sedentarismo. Saia do sofá e vamos movimentar”, canta com alegria e acrescenta “acolhimento é movimento”. Diz que as unidades de Club Escola estão na Zona Norte (Jardim São Paulo), Centro (Ipiranga) e Zona Sul (Ibirapuera), onde são realizados exercícios físicos, caminhadas e bailes agregando valor de convívio social, estimulando os valores de cidadania embutido no lazer e prevenção de doenças. As unidades são abertas a todas as pessoas, de todas as faixas etárias. No entanto, a Secretaria garante que são os idosos de 80 anos que participam mais.
Dinéia Cardoso apresenta Marcel Thomé, 74 anos, que foi seu aluno e que atualmente é Conselheiro. Para ele “Os Clubs são pólos de cidadania”. Presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso (GCMI) Marcel revela: “Vim aqui discutir o envelhecimento no Brasil, porque em São Paulo os idosos são de vários Estados e eles contam nas conferências o que não tem em suas cidades de nascimento. A pauta muitas vezes não é essa, mas o que está no coração a gente ouve. São Paulo é a voz do País”.
No saguão principal, após a palestra, a fonoaudióloga Talita Leite, do Conselho Federal de Fonoaudiologia Regional e Membro da Secretaria da Saúde do Distrito Federal, muito simpática, disse ao Portal do Envelhecimento: “Você viu como eles participaram, perguntando e fazendo os exercícios! Senti mais maturidade aqui do que em outros encontros, em saber o que é importante ou não e perguntar.” Sim, foram chegando, sentando e lá na frente participaram das atividades… (concordei).
Talita continua falando ao Portal, “os idosos são receptivos, curiosos, fizeram os exercícios de língua… E quando falei de disfagia! Disfagia é uma doença que leva a óbito. É a dificuldade de engolir, ao invés do alimento ir para o esôfago e estômago, vai para a traquéia, para o pulmão e dá pneumonia. Aí faz tratamento com antibiótico, continua com a dificuldade e repete a pneumonia e de novo o antibiótico. Esse ciclo de repetição leva à morte pela resistência ao antibiótico e a situação de fragilidade (nutricional) do idoso”. E conclui: “Quando falei que muitas vezes esse problema pode ser resolvido com melhora na adaptação da dentadura muitos colocaram a mão na boca, como se tivessem o problema”. Talita colocou à disposição da população o site do Conselho Federal de Fonoaudiologia Regional (www.fonoaudiologia.org.br), além do telefone (61- 3322-3332).
Lançamento de livro
Na III CNDPI foi lançado o livro: Políticas Públicas para um país que envelhece. Organizado por Marília Viana Berzins e Maria Claudia Borges e apresentando por Alexandre Kalache.
Um dos autores do livro, o Conselheiro do Município de Belo Horizonte, professor Vicente de Paula Faleiros, muito solicitado pelos participantes falou ao Portal: “O capítulo que escrevi é uma análise da construção histórica dos direitos da pessoa idosa, leva em conta o envelhecimento, as forças sociais e a inclusão dos seus Direitos, não é apenas um critério de idade, é cultural, social e político.”
Faleiros acrescenta: “O que é ser velho socialmente? Isso varia de época para época em primeiro lugar, no século XIX era 45 anos de idade, hoje há várias escalas de idade (o idoso jovem e o idoso muito idoso, por exemplo, com mais de 90 anos). Na legislação há diferenciação de critérios para 60 anos algumas coisas e para 65 outras (não é o mesmo critério). E o idoso com deficiência física! Combina vários critérios de inclusão na lei. A sociedade, a cultura, o ambiente e o orçamento têm que ser moldados e, também, os equipamentos sociais brasileiros de controle, como os Conselhos, por exemplo.”
Para Faleiros, o cuidado está no mercado informal (mesmo quando institucionalizado), porque continua doméstico, sem formação e profissionalização. Existe um esforço enorme para isso, inclusive de Instituições Alternativas para os idosos e para as famílias. Segundo o professor Faleiros, a dificuldade é porque os esforços estão sendo relacionados à demografia e aí parece um “passo de elefante”. Os cuidados com o idoso têm sido na família, no ambiente micro. O Brasil tem a cultura de cuidar do idoso na família. A família está mudando (mas ainda não mudou) tem filhos de 70 anos cuidando da mãe de 95, e esse cenário estará presente no futuro, talvez entre irmãos ou cônjuges.
O período da tarde da III CNPDI começou com espaços de capacitação dos delegados na forma de Rodas de Conversa e Oficinas Temáticas, que aconteceram simultaneamente.