A gente não quer só comida…

A gente não quer só comida…

Nem sempre o idoso tem fome de comida. A fome, na velhice, atinge dimensões tão profundas que muitas vezes passam despercebidas aos olhos de familiares, cuidadores e de profissionais de saúde. O idoso tem fome de um lar tranquilo, de uma aposentadoria justa e de ter seus direitos garantidos. O idoso não quer só comida, ele quer ser bem atendido em um serviço de saúde, com tratamento digno e humanizado.

 

O Brasil vive um momento de mudança de estado nutricional de sua população. Essa afirmação é constatada em cada nova pesquisa realizada tanto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto por outros institutos de pesquisa. O número de pessoas com excesso de peso vem crescendo a cada ano no país, desde o público infantil até idosos. Seja nas periferias como nos grandes centros, a obesidade infelizmente vem se alastrando e trazendo consequências sérias para a saúde do indivíduo, o que também compromete sua qualidade de vida.

Apesar desse fenômeno da transição nutricional, os idosos ainda são um grupo de risco para desnutrição, pois com o envelhecimento ocorrem diversas mudanças fisiológicas no organismo, tais como:

– dificuldade para mastigação devido à ausência de dentes ou próteses dentárias mal adaptadas;

– perda de sensibilidade a gostos, associado a uso de múltiplos medicamentos (sob prescrição médica ou não) que pode reduzir a ingestão alimentar do indivíduo.

– dificuldade para engolir alimentos, pela perda de força nos músculos envolvidos na deglutição;

– diminuição da atividade do estômago, gerando dificuldade para digestão dos alimentos e maior tempo de esvaziamento gástrico;

– intestino “preguiçoso”, que gera obstipação intestinal ou intestino “solto”, que dificulta o idoso a ter controle de esfíncter para a liberação de fezes.

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Associado aos fatores fisiológicos, o contexto socioeconômico em que o idoso está inserido afeta significativamente seu estado nutricional e é preditivo de morte. Ou seja, a desnutrição não é somente um problema fisiológico e metabólico, mas também um problema social.

A desnutrição no idoso não ocorre somente porque ele ingere menos alimentos do que suas necessidades corporais, mas está associada fortemente ao seu contexto familiar e social que pode envolver abandono, negligência, isolamento, depressão, maus tratos e outras formas de violência. Infelizmente, essa realidade existe!

Nem sempre o idoso tem fome de comida. A fome, na velhice, atinge dimensões tão profundas que muitas vezes passam despercebidas aos olhos de familiares, cuidadores e de profissionais de saúde.

O idoso não quer só comida, ele quer também ser ouvido e ter voz.

O idoso não quer só comida, ele quer ser bem atendido em um serviço de saúde, com tratamento digno e humanizado.

Não quer só comer, ele quer não ter que sofrer com violência. Quer ter a chance de ser perdoado por erros cometidos no passado.

O idoso tem fome de um lar tranquilo, de uma aposentadoria justa e de ter seus direitos garantidos.

Também quer diversão e arte, amar e ser amado… e por que não?

Encarar a desnutrição apenas como uma inadequação alimentar é tratar apenas a ponta do iceberg. O que está escondido é bem maior do que o que se mostra.

E você? Tem fome de quê?

 

Mariana Bongiorno

Nutricionista da Unidade de Referência em Saúde do Idoso – PMSP/OSACSC, Bacharel em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo e Especializada em Gerontologia Clínica e Social pela UNIFESP – EPM.

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Nutricionista da Unidade de Referência em Saúde do Idoso – PMSP/OSACSC, Bacharel em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo e Especializada em Gerontologia Clínica e Social pela UNIFESP – EPM.

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