Tentar definir esses conceitos pode parecer uma tarefa bastante fácil e simples, no entanto, estes se apresentam como um tema complexo e que requer maiores esclarecimentos de suas diversas dimensões. É importante pontuar que existe uma diferença no uso dos termos envelhecimento, idoso, velhice e terceira idade.
Simone de Cássia Freitas Manzaro * Foto: Alcides Freire Melo
Costumeiramente ouvimos em nossa sociedade, de uma forma geral, o uso dos termos idoso, velhice e terceira idade. Afinal, de que forma podemos nos referir a essa etapa da vida? Todos estes termos se referem ao mesmo fenômeno? Simone de Beauvoir já assinalava nos anos 70 que “Não reconhecemos a velhice em nós, nem sequer paramos para observá-la, somente a vemos nos outros, mesmo que estes possuam a mesma idade que nós”.
Alguns termos usados para referir-se às pessoas com mais de 60 anos de idade, acabam trazendo ideias errôneas em torno do envelhecimento. Podemos pensar até que, o uso desses termos pode trazer uma tentativa de suavizar e/ou amenizar o peso que estes conceitos causam em nossa sociedade.
Tentar definir esses conceitos pode parecer uma tarefa bastante fácil e simples, no entanto, estes se apresentam como um tema complexo e que requer maiores esclarecimentos de suas diversas dimensões.
É importante pontuar que existe uma diferença no uso dos termos envelhecimento, idoso, velhice e terceira idade.
O envelhecimento deve ser entendido como um processo natural da vida que traz consigo algumas alterações sofridas pelo organismo, consideradas normais para esta fase. Envelhecemos desde o momento em que nascemos. Logo, como cita o autor Messy (1999, p.18), “se envelhece conforme se vive”.
Pelo termo idoso, podemos entender todo e qualquer indivíduo acima de 60 anos de idade. Este conceito foi criado na França em 1962, substituindo termos como velho e velhote e foi adotado no Brasil em documentos oficiais logo depois. O idoso é o sujeito do envelhecimento.
O termo velhice é considerado para uns como o último ciclo da vida, que independe de condições de saúde e hábitos de vida, é individual, e que pode vir acompanhado de perdas psicomotoras, sociais, culturais e etc; já outros acreditam que a velhice é uma experiência subjetiva e cronológica. Acreditamos que a velhice seja como uma construção social que cria diversas formas diferentes de se entender o mesmo fenômeno, dependendo de cada cultura.
E terceira idade? Esta é a fase entre a aposentadoria e o envelhecimento e que traz consigo as demandas de cuidado com a saúde de uma forma mais ampla, já pensando em um envelhecimento com mais qualidade de vida. Peixoto (1998) nos lembra de que essa expressão também foi criada na França em 1962, quando fora introduzida no país uma política de integração social e que visaria à transformação da imagem da velhice. Esta vem a realizar um corte na ideia de velhice, promovendo uma separação entre os jovens velhos e os mais velhos.
Uma citação muito interessante é pontuada por Birman (1995, p.23) e que nos ajuda a refletir sobre os conceitos.
“Velho na percepção dos “envelhecidos” das camadas médias e superiores está associada à pobreza, à dependência e à incapacidade, o que implica que o velho é sempre o outro. Já a noção de “terceira idade” torna-se sinônimo dos “jovens velhos”, os aposentados dinâmicos que se inserem em atividades sociais, culturais e esportivas. Idoso, por sua vez, é a designação dos “velhos respeitados”. A expressão “idoso” designa uma categoria social, no sentido de uma corporação, o que implica o desaparecimento do sujeito, sua história pessoal e suas particularidades. Além disso, uma vez que é considerado apenas como categoria social “o idoso é alguém que existiu no passado, que realizou o seu percurso psicossocial e que apenas espera o momento fatídico para sair inteiramente da cena do mundo”.Logo, podemos então considerar o envelhecimento como um processo, a velhice como uma etapa da vida, e idoso como o resultado e sujeito destes, assim como sugere Neto (2002).
A par de todos os significados dos termos propostos, podemos perceber que a construção desses significados acaba sendo envolto por mitos, estereótipos e preconceitos, depreciando o fenômeno de envelhecimento, trazendo sofrimento e desconforto para essa geração.
Em nossa sociedade atual, o que observamos é certa substituição do “velho” pelo “novo”, este imposto pela mídia e pela própria sociedade que enaltece aquele que é jovem.
Acreditamos não ser possível categorizar uma etapa da vida que vive em constante processo, porém também temos consciência de que em nossa sociedade algumas considerações tornam-se inviáveis, uma vez que o “velho” perdeu o lugar que ocupara antes.
É importante que possamos entender que esta fase da vida é única e importante, e que traz modificações biopsicossociais que devem ser respeitadas. Que esta etapa de vida não pode ser vista como negativa, pois os idosos ainda têm muito a nos ensinar sobre a vida.
Respeitar o idoso é respeitar nosso próprio futuro!
Referências
Beauvoir S. (1990). A velhice. Tradução de MHF Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1970. p 40
Birman J. Futuro de todos nós: temporalidade, memória e terceira idade na psicanálise. In: Veras, R. Terceira Idade: um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1995. p.29-48.
Messy J. A pessoa idosa não existe. (Tradução JSM. Werneck). São Paulo: Aleph; 1999.
Netto PM. O estudo da velhice no séc.XX: histórico, definição do campo e termos básicos. In: Freitas E. et al.(Orgs)Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 2-12
Peixoto C. Entre o estigma e a compaixão e os termos classificatórios: velho, velhote, idoso, terceira idade. In: Barros MML de. (Org.). Velhice ou terceira idade? Rio de Janeiro: FGV; 1998. p. 69-84
* Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, realiza atendimento psicológico de adultos e idosos. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer-ABRAz. Possui experiência em estimulação cognitiva para pacientes com demências, principalmente Demência de Alzheimer; atua também com estimulação cognitiva preventiva; Realiza consultoria gerontológica, orientando familiares e cuidadores, criando estratégias e atividades para lidar com o paciente no dia a dia, supervisionando treinamento prático. É membro da rede de colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]