Diminui a população abaixo de 40 anos e aumenta a população idosa no Brasil

O Brasil está em um momento em que a população abaixo de 40 anos diminui de tamanho e a população idosa de 60 anos e mais continua aumentando.


A transição demográfica brasileira se propaga em ondas. As taxas de mortalidade começaram a cair ainda no século XIX, fazendo com que a expectativa de vida ao nascer passasse de 29 anos em 1900 para 70 anos no ano 2000. Portanto, o tempo médio de vida da população mais que dobrou no século passado. As taxas de fecundidade começaram a cair na segunda metade da década de 1960, reduzindo, progressivamente, a base da pirâmide etária.

A transição demográfica gera, deterministicamente, uma mudança na estrutura etária, com redução do peso relativo da população jovem e aumento progressivo da importância absoluta e relativa da população idosa. Este é o processo chamado de envelhecimento populacional. 

O gráfico abaixo mostra a evolução dos grupos quinquenais da população mais jovem no Brasil. O grupo etário de 0 a 4 anos de idade era de 8,98 milhões de crianças em 1950 e chegou ao pico máximo de 18,4 milhões de crianças em 1986. A partir daí o grupo começa a diminuir e deve ficar com somente 7,6 milhões de crianças em 2100, conforme as projeções da Divisão de População da ONU (revisão de 2019). O grupo etário 5 a 9 anos tinha 7 milhões de pessoas em 1950 e chegou ao pico máximo de 18,2 milhões de pessoas em 1991, para em seguida começar o decrescimento. Todos os demais grupos quinquenais tiveram o mesmo comportamento, com a devida defasagem. O grupo etário de 35 a 39 anos tinha 3,1 milhões de pessoas em 1950 e chegou ao pico máximo de 17,4 milhões de pessoas em 2021 e deve diminuir para 9,4 milhões de pessoas em 2100.

Portanto, todos os grupos quinquenais abaixo de 40 anos já apresentam decrescimento populacional no Brasil, sendo que o grupo etário 0-4 anos começou a diminuir em 1986, o grupo 5-9 em 1991 e assim por diante. A idade mediana da população brasileira se aproxima de 39 anos. Assim, podemos dizer que a metade de baixo da pirâmide etária brasileira apresenta tendência de decrescimento demográfico.

Na parte de cima da pirâmide etária, o quadro atual é o oposto, pois todos os grupos etários idosos apresentam tendência de crescimento, pelo menos até 2060. O gráfico abaixo mostra que o grupo quinquenal de 60-64 anos tinha 1,0 milhão de pessoas em 1950 e deve alcançar o pico máximo de 15,6 milhões de pessoas em 2060, para depois iniciar um processo de redução até 10,8 milhões de pessoas em 2100. Os outros grupos idosos seguem o mesmo padrão atingindo picos defasados de 5 em 5 anos. O grupo etário de 95 anos e mais de idade tinha somente 24 mil pessoas em 1950 e deve chegar no pico máximo de 4,3 milhões de pessoas em 2099. Portanto, o Brasil está em um momento em que a população abaixo de 40 anos diminui de tamanho e a população idosa de 60 anos e mais continua aumentando.

Considerando apenas dois grupos, o gráfico abaixo mostra a dinâmica diferenciada. O grupo etário de 0 a 39 anos tinha 43,5 milhões de pessoas em 1950, chegou ao pico máximo de 131,2 milhões de pessoas em 2012 e deve cair no resto do século, devendo alcançar 67,5 milhões de pessoas em 2100. O grupo etário de idosos tinha somente 2,6 milhões de pessoas em 1950 (representando 5% da população total), deve atingir o pico máximo em 2070 com 79,2 milhões de pessoas (representando 36,7% do total populacional), iniciando em seguida um processo de decrescimento até 72,4 milhões de pessoas em 2100 (representando 40% da população total).

Portanto, a partir de 2078 a população idosa com 79 milhões de pessoas será maior do que a população abaixo de 40 anos, evidenciando a força do envelhecimento populacional no Brasil. Em 2100 haverá cerca de 5 milhões de idosos de 60 anos e mais do que “jovens” de 0 a 39 anos.

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Todos estes números mostram que o envelhecimento populacional é um processo inexorável da dinâmica demográfica brasileira. Estas tendências gerais não foram alteradas pela pandemia da covid-19, embora os números absolutos das próximas décadas possam ser alterados em função das alterações nas taxas de mortalidade, natalidade e migração.

Em junho de 2022 a Divisão de População da ONU deve atualizar as projeções populacionais para todos os países do mundo, já considerando o impacto da pandemia. Toda projeção tem um certo grau de incerteza, mas o certo é que o topo da pirâmide etária brasileira vai continuar se avolumando e, desde já, é preciso avançar na elaboração das políticas públicas para enfrentar os desafios e as oportunidades dessa nova configuração demográfica brasileira.

Foto destaque de Anna Shvets/Pexels


José Eustáquio Diniz Alves

Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]. Link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382E-mail: [email protected]

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