Diagnóstico tardio de Alzheimer prejudica qualidade de vida do doente

Aquela senhora independente, bem disposta, na faixa dos 80 anos, surpreende todo mundo. Mora sozinha, faz suas compras, administra seu próprio dinheiro, cuida da casa e sai para passear com frequência.

Maria Lígia Pagenotto. Fotos: Alessandra Anselmi


Um dia, porém, esquece um compromisso, fato que nunca havia acontecido antes. Em outra ocasião, fica perturbada porque parece que não reconhece o caminho da padaria de volta para casa. Em um encontro de família, em vez de risonha e participativa, como de hábito, fica mais calada.

Quem já não ouviu uma história assim? Até que ponto essa mudança de comportamento pode ser considerada dentro dos padrões? É comum ouvir, da própria senhora, dos familiares e amigos, que o esquecimento é “coisa de velho” e, portanto, não merece uma investigação mais rigorosa, tampouco um tratamento.

No entanto, para o neurologista Paulo Bertolucci, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esses episódios não devem ser negligenciados.

“Essas falhas da memória, esses ‘brancos’, devem ser avaliados por um especialista, pois podem ser os primeiros sinais da doença de Alzheimer”, afirma. Segundo ele, falhas de memória todas as pessoas têm em algum momento na vida – de crianças a idosos. “O problema é quando as falhas se tornam severas e frequentes, a ponto de afetar o ritmo de vida da pessoa”, alerta.

Ele afirma que há uma crença generalizada de que não há nada a fazer por uma pessoa que tenha Alzheimer. Ou que esquecer faz parte do envelhecimento, portanto, é normal. “Esse é um erro. Quanto mais cedo a doença for diagnosticada e tratada, melhores serão os resultados”, explica.

Ainda não há cura para o problema, que é degenerativo e progressivo. Mas, se for feita uma intervenção precoce, é possível garantir mais qualidade de vida ao paciente e a todos ao seu redor, segundo o especialista.

Em 2009, foi estimada, no mundo, a existência de 36 milhões de casos de Alzheimer. Para 2050, a previsão é que esse número cresça quatro vezes, chegando a quase 107 milhões de casos.

No Brasil, com o envelhecimento populacional, a prevalência de Alzheimer cresce num ritmo vertiginoso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de demência entre os idosos poderá ultrapassar os 500% na América Latina, por conta do crescente envelhecimento da população.

“Do total de casos por ano, em todo mundo – cerca de 4,6 milhões – apenas 50% recebem diagnóstico. Desses, apenas 25% recebem tratamento e somente a metade desses 25% recebem tratamento adequado por mais de um ano”, diz o médico.

“Essa é uma questão que precisa ser resolvida com urgência. O tratamento na fase leve pode ser feito gratuitamente no Brasil por um ano. Mas o fato é que a doença é de longa duração – cerca de 12 anos. E quanto mais tarde a pessoa iniciar o tratamento, e não segui-lo corretamente, menor será o efeito.”

Bertolucci esteve na terça-feira (8/5) no lançamento para a imprensa do produto Souvenaid, um preparado nutricional produzido pela Divisão de Nutrição Especializada da Danone que, segundo a empresa promete melhorar significativamente a perda de memória em pacientes diagnosticados com Alzheimer em fase inicial.

Muitos estudos foram feitos com o Souvenaid, segundo o diretor da área médica da Danone, Claudio Sturion. De acordo com ele, o produto, um composto nutricional, foi desenvolvido a partir de uma combinação exclusiva de nutrientes que, em conjunto, auxiliam o bom funcionamento das células cerebrais e a formação de novas sinapses.

A sinapse é o nome dado à região de comunicação entre as células nervosas, também chamadas de neurônios. Pacientes com doença de Alzheimer apresentam uma desestabilização das sinapses, provocada por uma degeneração da membrana que envolve o neurônio.

O Souvenaid contém ácido docosahexanoico (DHA), ácido eicosapentaenoico (EPA), uridina-monofosfato e colina, Também contém fosfolipídios e vitaminas do complexo B e antioxidantes.

“Os estudos mostram resultados bem positivos no uso do produto para pessoas com Alzheimer em fase inicial. Os pacientes têm tomado Souvenaid uma vez por dia e os benefícios começam a ser sentidos a partir do terceiro mês de uso contínuo”, ressaltou Sturion.

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A ingestão do produto não tem caráter preventivo. “Aconselhamos que, para começar a tomar o composto, as pessoas tenham orientação médica”, enfatiza Sturion. Tampouco o Souvenaid deve substituir outros cuidados com a saúde.

“Um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e atividades físicas regulares, é condição básica para a saúde, inclusive do cérebro”, afirmou Bertolucci.

Ele chamou atenção ainda para o fato de que o cérebro deve ser estimulado continuamente. “Ler, fazer palavras cruzadas, jogar gamão ou xadrez são atividades que fazem muito bem”, orientou o neurologista.

Cuidar É Viver

Durante a apresentação do produto, o presidente da Divisão de Nutrição Especializada da Danone, Marcelo Borges, lembrou o investimento da empresa no programa Cuidar É Viver, coordenado pelo Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE). “Estamos preocupados com o bem-estar da população que atendemos”, disse. “Por isso, desde 2010, por meio do Ecosystem Fund, patrocinamos o programa Cuidar É Viver, realizado em parceria com o OLHE para capacitar profissionais cuidadores de idosos”, completou.

E citou: em 2012, foram formados 150 cuidadores pelo programa. Para este ano, a meta é formar pelo menos mais 200 profissionais.

“Sabemos da necessidade urgente de formar cuidadores. Caso contrário, em um futuro próximo, haverá falta desses profissionais para cuidar adequadamente da população idosa”, alertou.

Alzheimer – quanto antes souber, mais tempo você terá para lembrar

É com este lema que a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) também insiste no diagnóstico precoce da doença. Fernanda Paulino, presidente da entidade, que também participou do lançamento do Souvenaid, disse que a Abraz está dando início a uma grande campanha na mídia para chamar atenção da população para o problema.

“Queremos levar informação a pessoas que têm pouco acesso a ela, como comunidades carentes”, disse. O vídeo da campanha também será utilizado para treinar cuidadores e profissionais da saúde. “Nosso objetivo principal é esclarecer sobre os sintomas iniciais da doença e contribuir para o diagnóstico precoce e o tratamento”, explicou Fernanda.

Segundo ela, é preciso também enfrentar com menos preconceito a doença de Alzheimer. “Muitas pessoas têm medo de depararem com um diagnóstico e evitam ir ao médico. Essa mentalidade precisa ser mudada”, enfatizou.

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