A maior parte da população idosa não é dependente de cuidados para sobreviver, revela pesquisa realizada na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. A pesquisa revela ainda que em 2011 a contribuição dos idosos para a economia somava cerca de 40 bilhões de libras esterlinas a mais do que o total das despesas desses países com pensões, bem-estar e atenção à saúde dos idosos. Na verdade, a maioria das pessoas idosas contribui de diversas formas tanto para suas famílias quanto para as comunidades em que residem. Esta informação nos obriga a mudar os estereótipos que temos sobre o envelhecimento.
Equipe Prattein * Darek Delmanowicz
De acordo com Relatório da Organização Mundial de saúde, “A proporção de pessoas idosas que depende de cuidados de terceiros para o apoio às suas atividades da vida diária e para sua sobrevivência é pequena. Na verdade, a maioria das pessoas idosas contribui de diversas formas tanto para suas famílias quanto para as comunidades em que residem”.
Esses dados fazem parte da pesquisa realizada na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, que estimou que a contribuição dos idosos para a economia (concretizada em pagamento de impostos, gastos de consumo e outras atividades econômicas importantes) somava, no ano de 2011, cerca de 40 bilhões de libras esterlinas a mais do que o total das despesas desses países com pensões, bem-estar e atenção à saúde dos idosos. A mesma pesquisa estimou que esse valor deverá subir para 77 bilhões em 2030.
De acordo com o relatório, “embora essa tendência não seja tão evidente nos países de baixa e média renda, alguns indicadores sugerem que a contribuição dos idosos nesses países também é significativa. No Quênia, por exemplo, a idade média dos pequenos agricultores é de 60 anos, sendo este um subgrupo fundamental para a garantia da segurança alimentar do país. Portanto, as políticas públicas para o envelhecimento devem evitar visões estereotipadas que estimulem a discriminação contra indivíduos e grupos simplesmente com base na idade.”
Comentário
As políticas públicas para o envelhecimento devem ser planejadas com base em um reconhecimento cuidadoso das características e dos contextos de vida dos diferentes segmentos da população idosa. Em cada localidade, é preciso identificar como a população idosa está distribuída do ponto de vista da sua situação de dependência ou autonomia para condução da própria vida, ou seja, reconhecer o subgrupo da população idosa cujas condições de vulnerabilidade, saúde e renda os torna dependentes de cuidados e de políticas protetivas especiais, o subgrupo que apresenta condições de vida e independência relativamente preservadas, mas que reduziu ou descontinuou sua atividade produtiva, e o subgrupo que se mantém ativo no mundo do trabalho e apresenta não apenas independência para sobreviver, mas que também contribui para a sustentação de familiares e para o funcionamento das economias locais.
Dados do IBGE apontam que a proporção de idosos entre 60 e 74 anos que declaram um estado de saúde ruim ou muito ruim no Brasil é inferior a 15%. Entre 75 e 84 anos esse percentual se mantém entre 15% e 20%, chegando em torno de 25% apenas na faixa etária de 85 anos de idade ou mais. Aqui estão incluídos os idosos do primeiro subgrupo acima citado.
Outros dados do IBGE ajudam a dimensionar o terceiro subgrupo citado: em 2013, os brasileiros com 60 anos ou mais que trabalhavam somavam 27,4% da população idosa. Entre os homens, esse percentual alcançava 40,3%. A carga horária média de trabalho desses idosos era de 34,7 horas semanais. Naquele ano, 76,1% das pessoas com 60 anos ou mais eram aposentados ou pensionistas (muitos destes integrantes do segundo subgrupo citado), sendo que 15,6% deles eram aposentados mas continuavam a trabalhar (integrando o terceiro subgrupo). Para aqueles que não eram aposentados ou pensionistas, a taxa de ocupação no mundo do trabalho alcançava 45,1%. Do total de idosos, 48,4% tinham rendimento de todas as fontes superior a um salário mínimo e 64,4% do total figuravam como pessoa responsável pelo domicílio, desempenhando papel central na manutenção da família.
Esses indicadores referem-se ao conjunto da população idosa do país, e certamente apresentam variações regionais que refletem as desigualdades socioeconômicas do país. Por isso, é muito importante que os Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa, com o apoio dos órgãos do Poder Executivo de cada ente federativo, realizem diagnósticos regionais e locais para mapeamento da situação da população idosa, a partir dos quais seja possível propor políticas diferenciadas e orçamentos públicos coerentes para a implantação ou aprimoramento de ações voltadas a cada subgrupo: idosos dependentes de cuidados médicos e socioassistenciais; idosos que precisam manter sua autonomia relativa e prevenir ocorrências que afetem negativamente sua saúde; idosos que querem ou necessitam manter ou fortalecer sua vida produtiva e suas condições de trabalho.
No Brasil, a necessidade de melhoria quantitativa e qualitativa dos serviços de atenção à saúde de idosos dependentes de cuidados é muito clara. Porém, o terceiro grupo citado – idosos ativos, que querem permanecer no mundo do trabalho, aprimorar suas capacidades profissionais, manter ou ampliar seus empreendimentos individuais ou coletivos – também conta com poucos programas de apoio.
* O texto é uma reprodução de Prattein. Acesse Aqui