Essas expressões no filme O Último Azul resumem a política do governo brasileiro, um governo comprometido com a família, com o desenvolvimento, com o progresso e com Deus acima de tudo…
O Último Azul, filme de Gabriel Mascaro, com Rodrigo Santoro e Denise Weinberg, ganhador do Grande Prêmio do Júri, o Urso de Prata, do Festival de Berlim, apresenta um Brasil que certamente você (des)conhece. O filme foi descrito por alguns veículos da imprensa internacional como Magnífico, Incrível e Fascinante. Trata-se mesmo de uma produção extraordinária, não apenas para o olhar estrangeiro, que deve ficar magnetizado pela beleza das nossas matas e rios, fauna e flora, pelos maravilhosos caminhos das águas, dos igarapés, mas especialmente para o brasileiro que desconhece a riqueza que resiste por trás da miséria. E a miséria é fruto da ignorância do Homem, que os governantes cultivam em nome de Deus e da família. Em nome do desenvolvimento e do progresso, destrói tudo o que é belo, acaba com nossa verdadeira riqueza, é o agro-tóxico.
Portanto, desconfie de quem fala em nome de Deus e da família enquanto, nos bastidores, age para destruir tudo o que é belo. Estamos em um Brasil fictício, mas que pode estar ali na esquina, pois temos um congresso capaz de aprovar pérolas piores do que a imaginada pelo roteirista de O Último Azul. Neste filme, para que os jovens possam produzir com eficiência, se dedicar ao trabalho, o estado cuida dos velhos (não como obrigação, como um dever). Cria colônias para receber pessoas idosas.
Bateu no teto do limite de idade, 75 anos, o meme (que circulou na época do isolamento por conta da Covid-19), se torna realidade e lá vem o cata-velho para recolher a pessoa idosa e despachá-la para uma colônia governamental de onde ela só sairá em um caixão. Para uns, uma política perversa, para outros, necessária. O velho atrapalha. Mas isso não é dito. O que ele escuta é que vai descansar. Que deve se sentir orgulhoso por ter ajudado a construir um país.
CONFIRA TAMBÉM:

Print de tela do trailer
Ao se aproximar da idade de recolhimento, a pessoa idosa é contemplada com uma medalha, sua casa tem a frente decorada com dois ramos de louro e uma placa, e a pessoa é preparada, por uma assistente social, para fazer a passagem. Razão para comemorar. Tem quem queira ir antes do tempo, mas é preciso aguardar a idade certa. E tem quem não entenda o motivo de se retirar da vida ativa, afinal se sente saudável, consciente e capaz.
Mas a opinião, os desejos, as vontades, tudo deve ser deixado de lado em nome do bem maior, o futuro. O governo indica o parente mais próximo como curador, que passa a receber uma compensação financeira, e a pessoa idosa deixa de existir como pessoa, nem um pote de açaí consegue comprar, porque já não tem documentos válidos e quem negociar com ela poderá pagar caro. Não pode pegar um ônibus, dirigir um carro, para tudo precisa da autorização do curador. É a Lei Magnitsky tupiniquim.

Sem vida econômica e social, se torna uma pessoa procurada pelo programa colonial, se sair na rua o cata-velho leva embora como faz a carrocinha com os vira-latas. Se o velho vai virar sabão, não se sabe, mas é um fim provável. Esconder o idoso dentro de casa é crime. Se tem cabelo branco, está sujeito o tempo todo a ter que apresentar documentos aos fiscais da idade. E não faltam dedos-duros para denunciar quem esconde velhos.
Tereza (Denise Weinberg) está com 77 anos, na época em que a idade de admissão na colônia era 80 anos. Mas com a mudança na Lei, para 75 anos, ela precisa ser recolhida por um cata-velho e enviada para uma colônia. Tereza está ótima, trabalhando em um frigorífico, mas é mandada embora para viver uma nova vida. Aqui começa o filme. Ela foge pelos igarapés, o filme se passa na Amazônia, e nos permite dar um mergulho profundo em um Brasil absolutamente fantástico. O contraste entre beleza e miséria enche os olhos. São imagens surpreendentes.

Ela encontra Cadu (Rodrigo Santoro), que irá ajudá-la em sua fuga, um barqueiro que é um misto de xamã e louco. Com ele, Tereza aprende a voar. Ela imaginava que para voar teria que subir aos céus, mas Cadu mostra que na Amazônia se voa sobre as águas. E assim ela encontra a liberdade, com a ajuda do caracol da baba azul. Se na indústria cosmética a baba do caracol é ótima para a pele, no filme é ela quem traz o azul do céu para a terra.
Um pouco de poesia ajuda a enfrentar a rinha de peixe e a crueldade dos adultos. Para variar, a esperança reside nas crianças, são elas que indicam o caminho da liberdade para Tereza. São as pontas que se tocam, pois elas herdam dos velhos, avôs e avós, o desejo de liberdade, da permissividade boa que os pais se negam a compartilhar por sentirem medo de voar. O filme é lindo demais, seja pelas imagens, seja pela mensagem de resiliência que todos devemos ter se desejamos salvar nossos rios e matas.
Sinopse: Num Brasil distópico, Tereza é uma mulher de 77 anos que mora numa cidade industrializada na Amazônia. Quando recebe um chamado do governo para abandonar sua casa e residir numa colônia habitacional para idosos, Tereza deseja realizar seu último desejo antes de ser compulsoriamente expulsa de seu lar e enviada para longe. Ela, então, embarca numa viagem pelos rios e afluentes da região, sem imaginar que essa viagem mudará o rumo de sua vida para sempre.

Serviço
Filme O Último Azul
Diretor: Gabriel Mascaro
Elenco: Rodrigo Santoro e Denise Weinberg
Distribuição: Vitrine Filmes
Brasil – 2025
Gênero: Drama
Duração: 01h25
Classificação: 14 anos
Ingressos: https://www.veloxtickets.com
Pré-estreia: Dia 19/08
Sala 1 – 20:00 (Debate com diretor após sessão)
Sala 2 – 19:30
Atenção: De acordo com a Lei Federal nº 10.741/2003 (Estatuto da Pessoa Idosa), as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos têm direito ao pagamento de meia-entrada nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, mediante apresentação, no momento do acesso à sala indicada para a sessão, de documento de identificação oficial que comprove sua idade. Os descontos são pessoais, intransferíveis e não cumulativos.
Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação
