Falo como uma idosa de classe média que sempre foi ativa e independente e trabalhou até os 70 anos, como docente e ocupando cargos dentro da instituição.
Odette Godoy (*)
O que é cuidar? Segundo o dicionário é preocupar-se com alguém, prestar atenção, tomar cuidado. Cuidamos de nossas coisas limpando, guardando, consertando. Cuidamos das nossas plantas regando, adubando, podando… Cuidamos de nossos filhos alimentando, protegendo, dando carinho. Quem ama cuida. Quem cuida das pessoas idosas?
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Antigamente era comum a pessoa idosa ser cuidada por um familiar, geralmente uma filha com quem ia morar. Cuidar era um ofício feminino. Hoje são poucas as mulheres com esse perfil. As mulheres trabalham nas mais diferentes profissões e dividem o seu tempo com as tarefas domésticas. Nem sempre podem cuidar dos pais e mães com mais idade.
E por que as pessoas idosas precisam ser cuidadas?
Porque com a idade se tornam mais frágeis, sentem mais dificuldade para se movimentar, não conseguem mais dar conta das coisas do cotidiano, seus hábitos precisam ser alterados. Isso quando não tem nenhuma doença física ou mental.
Hoje, para as pessoas idosas as dificuldades aumentaram, pois, as transformações são mais rápidas e maiores.
A pandemia teve seus efeitos: as compras são online, as propagandas inundaram as nossas telas. A comunicação é sempre virtual e impessoal. Precisamos escolher os produtos pela foto. Não conseguimos ter contatos com pessoas para explicar as nossas dúvidas, que são muitas e por mais que nos esforcemos não conseguimos aprender tudo e guardar tantas senhas. Na internet há uma lista de problemas mais comuns com respostas padrão. E percebemos que nenhum dos itens resolve o nosso problema. Estamos fora do padrão e do mundo. Vivemos demais … Sobrevivemos…
Uma das soluções existentes é a contratação de cuidadores. As pessoas idosas reclamam e muitas vezes implicam com suas cuidadoras ou cuidadores. Não se sentem bem tratadas, não gostam daquela pessoa que está se metendo na sua vida, querem mandar, cuidam demais… às vezes preferem uma empregada que conhecem há muitos anos e que conhece e respeita suas manias. Manias são os hábitos. Cada objeto tem o seu lugar e isso facilita a vida. Se o mundo se transforma a casa pode permanecer.
Falo como uma idosa de classe média que sempre foi ativa e independente e trabalhou até os 70 anos, como professora universitária e ocupou cargos dentro da instituição.
Pesquisando sobre cuidadores de pessoas idosas descobri um programa da secretaria de saúde municipal de S. Paulo. É o Programa PAI. Assisti a um vídeo em que uma idosa de 95 anos recebe uma visita da equipe multiprofissional do Programa. A pessoa visitada mora sozinha e não pretende sair da sua casa, e recebe o atendimento do Programa. O objetivo é preservar a sua autonomia e favorecer a integração na comunidade.
Nós, pessoas idosas, intelectuais, da classe média, filosofamos muito e não nos damos conta que pertencemos a uma categoria: as pessoas idosas. O envelhecimento atinge a todos e todas, independente da classe social.
Preservar a autonomia e manter-se socialmente ativo, se auto cuidar, aprender coisas novas, não desistir… Assumir a velhice, mergulhar nas gavetas e no passado revendo caminhos e escolhas sem arrependimentos. No fundo da gaveta encontramos lembranças preciosas que ainda nos emocionam.
(*) Odette Godoy, psicóloga e docente aposentada.
Foto destaque de Kampus Production/pexels.