A longevidade e a urbanização afetam não apenas a Europa, mas também a América Latina, África e Ásia. As sociedades estão se preparando para o envelhecimento saudável?
Criação de ambientes saudáveis para pessoas idosas, perspectivas sobre o envelhecimento, cuidados de longa duração, cuidados de qualidade e equidade, promoção da atividade física e alimentação saudável, mão de obra na área da saúde, dados de monitorização, financiamento da saúde para população idosa, apoio aos cuidadores informais e promoção da saúde e literacia digital. Estes são os tópicos abordados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na Conferência Regional para a Inovação Política para o Envelhecimento Saudável na região europeia, reunindo líderes governamentais, especialistas e representantes da sociedade civil para discutir e promover políticas de envelhecimento saudável, em Lisboa, nos dias 10 e 11 de outubro.
Na sessão de abertura do primeiro dia, mediada por Piroska Ostlin, Regional Advisor, OMS Europa, os especialistas Robert Butler, trainee for World Championship in Ironman; Andre Peralta, Vice-diretor na Direção Geral da Saúde de Portugal e Natasha Azzopardi Muscat, Diretora de Políticas e Sistemas, OMS Europa, trataram do tema: “Envelhecimento redefinido: aproveitar o envelhecimento da população como catalisador de inovações políticas para uma vida mais longa e saudável”.
Cidades amigas da pessoa idosa
Por sua vez, a sessão “Criar um ambiente propício ao envelhecimento saudável”, foi introduzida por Yongjie Yon, Responsável Técnico em Envelhecimento e Saúde, OMS Europa, que deu ênfase na importância dos ambientes favoráveis ao envelhecimento saudável, especialmente dentro da iniciativa Cidades e Comunidades Amigas da Idade (CCAA) da Organização Mundial de Saúde.
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Alexandre Kalache, Presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil e Thiago Herick De Sa, Responsável Técnico pelas Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas, sede da OMS, moderaram a referida sessão, que foi iniciada com uma palestra do professor Kalache com o tema “Navegar pelas iniciativas amigas das pessoas idosas: Visão, implementação e rede global”. A palestra foi marcada pela perspectiva de seu trabalho na Organização Mundial da Saúde que deu origem à iniciativa Cidades Amigas do Idoso.
Iniciou a sua apresentação relembrando como uma oportunidade única surgiu durante o Congresso da Associação Internacional de Gerontologia, realizado no Rio de Janeiro, sua cidade natal. “Foi um grande prazer e honra que o Congresso tenha acontecido no Rio, e foi lá que veio a ideia de aproveitar a oportunidade e a imaginação para criar o que viria ser um projeto global”, disse ele.
Kalache destacou a ocorrência de uma mudança demográfica significativa anunciada pelas Nações Unidas: em 2007, pela primeira vez na história, haveria mais pessoas vivendo em áreas urbanas do que em zonas rurais. Isso trouxe consigo duas revoluções cruciais: a revolução da longevidade e a urbanização em escala global, afetando não apenas a Europa, mas também a América Latina, a África e a Ásia.
A pergunta que se impôs diante dessas revoluções foi se as sociedades estavam preparadas para enfrentar os desafios que se avizinhavam. E foi nesse contexto que ele decidiu lançar um novo olhar sobre as Tendências Demográficas, focando inicialmente em seu distrito natal, Copacabana. Kalache descreveu Copacabana como um lugar associado com praia, música, beleza e futebol, mas também como um local onde as pessoas estão envelhecendo rapidamente. “Temos uma estrutura em Copacabana que é a mesma do Japão, por isso é um laboratório para ver como será o Brasil em 2050, com todos os seus contrastes e contradições”, enfatizou.
O professor Kalache explicou que, a partir de estudos qualitativos realizados com grupos focais em Copacabana, ele fez uma apresentação na conferência do IHGG e imediatamente buscou o apoio do governo do Canadá. Esse apoio levou a uma reunião em Vancouver com gerontólogos, planejadores urbanos e acadêmicos, onde foi gerado um Protocolo que delineava as dimensões essenciais a serem consideradas no envelhecimento em áreas urbanas periféricas.
Com tal Protocolo em mãos, Kalache e sua equipe o aplicaram em 35 cidades ao redor do mundo. Os resultados dessa pesquisa foram então discutidos em Genebra por mais de 3.200 participantes, incluindo 1.000 prestadores de cuidados. Posteriormente, o guia baseado no Protocolo criado foi lançado em todas as “Cidades Amigas do Idoso”, abrangendo grandes metrópoles, áreas metropolitanas e cidades menores.
O impacto dessa iniciativa foi notável. Kalache revelou com orgulho que a ideia que começou de forma modesta capturou a imaginação de pessoas em todo o mundo. Ele mencionou a Rede Global em Genebra e a crescente adesão a esse modelo por milhares de cidades ao redor do mundo, incluindo na Noruega, onde havia 295 cidades e comunidades aderindo a ele, independentemente de seu tamanho.
Alexandre Kalache concluiu sua palestra enfatizando a importância de olhar para o futuro à medida que envelhecemos. Sua visão inspiradora e seu trabalho incansável na promoção do envelhecimento saudável e inclusivo nas cidades demonstram que as mudanças demográficas não são desafios intransponíveis, mas oportunidades para criar sociedades mais resilientes e acolhedoras para todas as gerações.
Outros exemplos para o envelhecimento saudável na Europa
Na sequência, foram apresentados exemplos inspiradores destacando a visão de criar ambientes de apoio para todos, além de abordar a criação e implementação desses ambientes, tais como:
1 – “Capacitar Comunidades”: O País de Gales investe em parcerias para apoiar as pessoas idosas, com apresentação de Heléna Herklots, Comissária para as Pessoas Idosas.
2 – “Da Visão ao Impacto”: A Noruega construiu uma rede nacional de CCFA em menos de 5 anos, liderada por Anne-Berit Rafoss, Gestora de Projetos da Age-friendly Norway.
3 – “Avaliação do Impacto”: Espanha realiza pesquisa e análise dos resultados do programa AFCC Age-friendly Cities and Communities, apresentado por Sara Ulla Diez, Coordenadora de Estudos e Apoio Técnico.
4 – “Integração Vertical”: O Reino Unido, especificamente a Greater Manchester Combined Authority, reforça ambientes amigáveis para idosos, desde o nível local até o nacional, com a apresentação de Paul McGarry, Diretor Adjunto.
Call for action – declaração de resultados de Lisboa
No encerramento do primeiro dia da conferência, a Ex-Ministra da Saúde de Portugal, Maria de Belém Roseira, e Natasha Azzopartdi Muscat, Diretora de Políticas e Sistemas da OMS, introduziram a aprovação da Declaração de Resultados de Lisboa como um documento técnico para promover o envelhecimento saudável na Região Europeia da OMS, criado após deliberações que aprofundaram as prioridades-chave delineadas na declaração, com o objetivo de implementação efetiva. A Declaração de Resultados foi assinada pelas presentes durante o encerramento.
Fotos: arquivo pessoal