Há carência de pesquisas que estudem a saúde da população idosa agricultora de modo que ações de promoção à saúde e prevenção de doenças sejam efetivas.
Luís Felipe Pissaia, Arlete Eli Kunz da Costa e Claudete Moreschi (*)
Este trabalho averiguou o panorama de publicações científicas brasileiras sobre a saúde dos idosos agricultores a partir de uma Revisão Integrativa na base de dados da Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), entre os meses de janeiro e fevereiro de 2020, iniciando-se as buscas de publicações científicas, bem como as suas respectivas leituras. Para a realização deste estudo definiu-se a seguinte questão de pesquisa: Como está a saúde de idosos agricultores no Brasil? Em posse dos achados, em um primeiro momento foi realizada a leitura minuciosa dos achados e foi desenvolvida a categorização dos mesmos e a discussão que segue a partir dos tópicos:
O trabalho no campo sempre esteve recoberto por situações preconceituosas e de carga excessiva de trabalho braçal, que por vezes ocasionam situações patológicas sobre a saúde física e mental dos indivíduos. Desta forma, a ocorrência de doenças relacionadas ao trabalho na agricultura desempenha um fomento na utilização de medicações, tanto sob o patamar de fármacos prescritos, quanto para a automedicação.
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Sob este limiar, o primeiro estudo “Carga de trabalho rural e fatores associados ao uso de medicamentos por idosos”, apresenta como objetivo a busca por identificar a prevalência e os fatores associados ao uso de medicamentos por trabalhadores rurais idosos e verificar a associação entre o uso de medicamentos e a carga de trabalho rural. A busca pelas informações pretende a melhoria da qualidade de vida da população, que exerce seus trabalhos na agricultura, como forma de produzir um estilo de vida saudável por meio da articulação com políticas públicas.
Para a obtenção dos resultados, o estudo contou com 95 idosos participantes e estruturou-se como uma pesquisa transversal e exploratória realizada no interior do estado do Rio Grande do Sul. A metodologia seguiu o limiar de coleta de dados por meio de entrevista, utilizando-se um questionário estruturado. A necessidade de conversar com a população idosa traz à tona as problemáticas que envolvem as suas vivências, inferindo sobre modelos construtivos de inovação e validação das necessidades reais e objetivas dos sujeitos.
Ainda sobre esse artigo, os resultados evidenciaram que as mulheres entrevistadas apresentaram 32% a mais de prevalência do que os homens para o uso de medicações. O uso de medicações pelas mulheres é uma realidade dentre a população em geral, muitos são os fatores apontados para tal indicador, possuindo relação direta com o autocuidado desenvolvido durante a vida e a preocupação com o aparecimento de agravos relacionados a doenças.
Tal evidência é complementada pela informação de que entre as medicações utilizadas pelas mulheres, as que agem no sistema nervoso e musculoesquelético são as prevalentes e com maior representatividade no estudo. O achado está de acordo com as situações elencadas de esforço físico e questões psicológicas que envolvem a vida dos agricultores e prejudicam a sua qualidade de vida.
Outro dado relevante que o estudo constatou, refere-se aos idosos que apresentaram um grau maior no nível de frustração com a carga de trabalho, tiveram um aumento significativo de 1% no provável uso de medicação para as causas elencadas anteriormente. A afirmativa deste resultado evidencia a diminuição da qualidade de vida da população idosa agricultora, de modo que a busca por medicação se torna uma tentativa de melhoria neste estado.
Desta forma, esse estudo articula a importância de refletir sobre as demandas físicas e mentais que os idosos agricultores enfrentam diariamente, inferindo que são necessárias políticas públicas de apoio para este grupo populacional. A estruturação de políticas públicas que abarquem as demandas da população idosa é uma realidade nacional e baseia-se na vulnerabilidade em que os agentes vivem em seus meios sociais.
A qualidade de vida na população idosa é uma preocupação das autoridades contemporâneas, de modo que diariamente estratégias de promoção e reabilitação da saúde são pensadas e implementadas nos diferentes níveis assistenciais. Dentre as preocupações em saúde desta população, se destaca a perda auditiva dos agricultores, deste modo o objetivo de que trata o artigo II é investigar e associar a autopercepção de dificuldade auditiva, os hábitos e os fatores de risco para a perda auditiva em trabalhadores da agricultura.
A metodologia empregada no estudo estruturou uma pesquisa transversal, descritiva e exploratória, tendo como participantes 57 agricultores de ambos os sexos. O perfil dos participantes identificou a presença na faixa etária entre 19 e 69 anos, sendo que estes atuaram entre um e 45 anos na agricultura. A busca pelos resultados ocorreu pela aplicação de um questionário com a identificação, dados de situações ocupacionais, saúde auditiva, assistência médica e saúde em geral. A identificação desses fatores é capaz de prever o risco de agravos relacionados à saúde de agricultores e estruturar modelos de atenção e cuidado destes indivíduos.
Os resultados do segundo estudo “Autopercepção de dificuldade auditiva, hábitos e fatores de risco para perda auditiva em agricultores” evidenciaram que os participantes não possuem queixa auditiva, sendo que os mesmos fazem uso de agrotóxico em suas práticas laborais e não receberam orientações relativas ao seu manuseio ou cuidados relacionados a perdas com seu uso. As práticas agrícolas representam situações de potencial risco para a saúde da população, independente da faixa etária, e surgem por meio de práticas que agridem o organismo, tanto físico, quanto psicológico.
Ainda, dentre os resultados, os homens apresentaram maior prevalência na exposição do ruído e contato com agrotóxicos, contudo demonstraram utilizar os equipamentos de proteção individual necessários para a prevenção de acidentes e dos riscos relacionados ao seu manuseio. O autocuidado dos trabalhadores rurais faz toda a diferença na sua própria saúde, sendo que as situações de risco, como o manuseio de substâncias tóxicas, representem diminuição da estabilidade de seu organismo.
Desta forma, mesmo incorporando uma ampla faixa etária de participantes, além de idosos, os participantes não tiveram a percepção de dificuldades auditivas mesmo utilizando agrotóxicos, sem orientações sobre os riscos, mas utilizaram os equipamentos de proteção individual. O cuidado com a saúde perpassa a faixa etária dos indivíduos, de modo que a conscientização sobre os riscos potenciais desencadeia as principais intercorrências no meio rural.
Percebe-se a carência de pesquisas que estudem a saúde da população idosa agricultora de modo que ações de promoção à saúde e prevenção de doenças sejam efetivas. Ambos os estudos se estruturaram na compreensão de que os indivíduos que exercem as atividades no campo possuem o direito de usufruir de qualidade de vida e principalmente saúde em seus espaços.
Leia este artigo na íntegra na edição 14 da Revista Longeviver.
(*) Luís Felipe Pissaia – Enfermeiro. Mestre e Doutorando em Ensino. Universidade do Vale do Taquari – Univates. Lajeado – RS – Brasil. E-mail: [email protected]; Arlete Eli Kunz da Costa – Enfermeira. Doutora em Ambiente e Desenvolvimento. Universidade do Vale do Taquari – Univates. Lajeado – RS – Brasil; e Claudete Moreschi – Enfermeira. Doutora em Ambiente e Desenvolvimento. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI. Santiago – RS – Brasil.
Foto destaque de Greta Hoffman/Pexels