Como diminuir o maior estresse coletivo dos últimos tempos

Como diminuir o maior estresse coletivo dos últimos tempos

Como diminuir o estresse durante essa quarentena? É importante lembrar que toda situação tem dois lados: Lado ruim e também o lado bom. Transformar dificuldade em oportunidade é o lema.

Sonia Fuentes (*)


E, de repente, eu me tornei o mais requisitado do mundo. Devo confessar que estou cansado de ser perseguido, explorado e abusado por todos que me espremem diariamente e me contaminam com sua fobia e temor. Não consigo e nem tenho mais forças para correr dessa frenética e lunática busca. Me tornei rei e vilão. Sem saída, busco apaziguar os maiores males e acalmar corações desesperados. Não me abandonem depois dessa crise. Ser útil me tornou importante e fortaleceu minha autoestima. Não sou tão caro, mas deveras necessário como nunca pensei ser um dia. Continuem me idolatrando e me usando. Feliz em estar em todas as casas do mundo. Que outro estaria, nesse exato momento? (Assinado: álcool gel)


Mesmo sabendo que os efeitos do isolamento social aqui no Brasil, ainda são bastante prematuros, ele nos leva à inúmeras reflexões diante de circunstâncias tão extraordinárias. Como nos proteger e proteger nosso cérebro do estresse, em tempos de corona? Pensar no estresse – é pensar ampliado, incluir as abordagens biológica, psicológica e social.

O que é o estresse?

É uma resposta física do nosso organismo. Uma reação do corpo a situações prejudiciais – sejam reais ou imaginárias. Quando nos sentimos ameaçados, uma reação química ocorre em nosso corpo que nos permite enfrentá-lo.  O estresse tem um lado negativo, mas também um lado positivo. “O sal da vida”- necessitamos de uma cota de estresse para nos motivar, mobilizar recursos e enfrentar desafios.

Por que falar sobre “estresse” nesse momento?

Com o início do segundo ano de quarentena (para um grande número de pessoas), tenho percebido um aumento de manifestações de ansiedade, estados de apatia e angústia – sejam da parte de clientes, familiares e amigos.

Após uma primeira fase de “negação” ou de absoluta incerteza do que vai acontecer, a fase de espanto e choque – deu lugar a uma nova organização de tarefas e de vida para muitos; as pessoas tentando se organizar em suas rotinas, planejando suas vidas distribuídas em diferentes atividades; exercícios, alimentação, planejamento trabalho, aulas virtuais, cursos onde conseguiram, sim, sobreviver com entusiasmo e motivação.

Em seguida paira o medo e a angústia. A quarta fase, a meu ver, visa administrar e nutrir nossa resiliência.
1 momento – susto – dúvidas – incertezas
2 momento – adaptando a vida – buscando planejar a vida – rotinas
3 momento – fase de reflexão, introspecção e autoconhecimento – angústia
4 momento – administrando e nutrindo resiliência

Essas últimas semanas têm sido mais introspectivas, reflexivas e de autoconhecimento. As pessoas estão tendo de lidar consigo próprias, enfrentando medos, inseguranças, limitações e frustrações. Sentimentos de ansiedade, sensibilidade com noticiários e noticias de amigos e ou parentes infectados. Chegando a um ponto que cada um já tem um conhecido e ou algum familiar em estado gripal, internado ou mesmo morte.

Parece que estamos conscientes dos danos da doença. A doença do mundo nos atingiu. O mundo está doente. Temos de nos cuidar para não ficarmos doentes – essa é a mensagem que fica na mente. FICA EM CASA. A realidade se torna cada dia mais assustadora e nos faz ficar cegos. Só vemos coisas ruins ao redor.

4 fase – aprender a administrar o estresse e a resiliência

Aprender a administrar o estresse pode reduzir não só os problemas de saúde associados a ele, como também, nos ensinar a reconhecer o que temos de bom.

Primeiro passo: Reconhecer o estressor: Compreender o processo de estresse é em si uma estratégia de enfrentamento.

Os estudos científicos, em especial a revista Lancet, traz uma revisão de pesquisa sobre os efeitos psicológicos do isolamento, em especial da quarentena durante a epidemia de SARS (2002), onde aponta que 29% das pessoas apresentaram estresse pós traumático, e 31% quadros depressivos depois do isolamento. Como efeito colateral da pandemia é esperado um desencadeamento de quadros de ansiedade resultantes de doenças e do rombo das finanças.

É importante reconhecer que essa experiência é altamente complexa e difícil para todos – o Coronavírus é um estressor coletivo altamente complexo, estamos todos no mesmo barco. Reconhecer que somos parte de uma rede intrínseca pode aliviar os sintomas de angústia.

Como prevenir e/ou diminuir o estresse durante essa quarentena? É importante lembrar que toda situação tem dois lados: Lado ruim e também o lado bom. Transformar dificuldade em oportunidade é o lema.

Algumas sugestões

1 – Atividades diversas para neutralizar a apatia – variadas e criativas, sim, porém escolhidas com cuidado
A grande maioria dos profissionais que trabalha com idosos, está recomendando fazer atividades para passar o tempo. Minha experiência pessoal e profissional tem mostrado que, nem sempre o idoso nesse momento e nessas condições, quer atividades. Parece que uma certa apatia vem tomando conta das pessoas e também dessa faixa etária.

Creio que é um momento de tomarmos cuidado ao olhar o idoso nesse período. E, não devemos esquecer, que cada pessoa é diferente da outra, com interesses diversos ou mesmo nulos. Muitas vezes, o idoso não se encontra em condições nem de seguir as tarefas e rotinas mínimas que se impõe, quanto mais encontrar ânimo para iniciar novas atividades. É importante estimular, sugerir, oferecer, entretanto não se frustrem, as coisas nem sempre estão no nosso controle. Respeitar suas vontades é muito MAIS importante nesse período incerto.

Também discordo de alguns especialistas que recomendam atividades para os idosos para “passar o tempo”, ou como dizem em alguns países, utilizar os “tempos mortos”.

O tempo não é morto, o tempo deve ser vivido, como diria o filósofo: “É preciso viver o infinito de cada instante”, e mais, esse instante confinado, isolado ou não, esse tempo, não voltará mais. Portanto, faça proveito, escolha com carinho como usar seu tempo VIVO. As atividades dos idosos devem ser variadas sim, criativas, estimulantes, mas nem sempre para todos.

Para a maioria sugeriria aquelas que eles gostem e que, principalmente, já mostravam interesse anteriormente. Respeitem suas vontades acima de tudo. Não o estressem mais impondo suas vontades e não as deles. Com o intuito de ajudar, muitos cuidadores e familiares podem vir a pecar pelo excesso.

O lado bom para ser visto – reconhecer que existem amigos e familiares que se importam. Meios de comunicação valiosos e importantes, fisiologia em bom estado, olhos, visão, ouvidos, e oportunidades diversas via online e outras

2 – Socializar – Não esquecer do social
Segundo reentes pesquisas, 25% da população apresenta ou apresentou algum quadro depressivo. Esse número pode disparar. Com a diminuição dos contatos pessoais associados ao Coronavírus que representa um estresse coletivo de medo – muitos transtornos psicológicos podem ocorrer.

O Vice presidente da Associação Brasileira de psiquiatria, Dr. Carlos Martins, acredita que nesse momento é crucial não perder contato virtual com os amigos e familiares. Essa rede social tem sido fundamental para o bem-estar de todos, não só para as crianças, jovens, adultos e também para os idosos. Ponto positivo para a Tecnologia que nos proporciona essa oportunidade tão importante e necessária.

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Da mesma forma que a Tecnologia aproxima positivamente, é preciso tomar cuidado para não exagerar no consumo das informações, quer seja pela TV ou computador, ou redes sociais. Depurar, selecionar também é importante. Temos uma tendência de nos focar na doença, no que não está bom, e no que faz mal.

Medidasnão desistir das interações virtuais, selecionar as mensagens recebidas, deletar as pessimistas. Buscar contatos de amigos, mesmo os antigos, aqueles que são alegres e otimistas.

Lado bom – Discutir e compartilhar os pontos positivos do isolamento. O que criou, aprendeu, inventou, inovou, boas e interessantes atividades devem ser compartilhadas.

3 – Exercícios Físicos
Manter-se ocupado e calmo com o que gosta tanto em relação aos exercícios físicos quanto dos cognitivos e também dos afazeres domésticos. Esteja presente. Coloque uma boa música, relaxe e obtenha prazer.

Tarefas domésticas – descubra-se nelas e por elas – valorize sua casa e descubra-se nesse espaço. Surpreenda-se criando arranjos novos e refeições saborosas. Procure também não se sobrecarregar e fazer tudo ao mesmo tempo. Devagar e sempre.

Introduza exercícios de respiração durante o dia e durante as tarefas. Consciência corporal – acaba exercitando a memória e fortalecendo o cérebro provocando novas conexões.

Lado bom – dividir experiências significativas, receitas e sugestões que foram boas para si. Utilizar o Youtube para conhecer excelentes receitas do mundo todo.

Dica de livro: “Devora-me”- da inglesa – dica de músicas e receitas.
Dica: tentar quebrar as rotinas ao máximo com novas receitas – trocas virtuais.

4 – Ajudar o Próximo
Ser solidário – ajudar ao próximo como puder; dar uma live, uma aula online, produzir algo que possa doar. Fazer um bolo, biscoito, sopa para funcionários de seu prédio.

Pesquisas da Psicologia Positiva demonstram que fazer o bem nos torna melhores pessoas em todos os sentidos; bem-estar, sentir-se útil e participar do todo, da comunidade.

Lado bom um grande momento de autoconhecimento, e quando você ajuda o próximo sua imunidade aumenta, você acaba sendo o maior beneficiado.

5- Prestar Atenção na Alimentação
Cuidado com os memes que andam circulando, associando a quarentena a corpos robustos e aumento de peso. Covid 19 = aumento de peso, piadas sugerem e até permitem que as pessoas comam para esquecer o estressor e ou para negar. Há muita gente em casa 70% mais ou menos tendo que lidar com esse problema nesse exato momento. Pessoas que nunca cozinharam.

O psicólogo Cortney Waren, da Universidade de Las Vegas, aponta que em momentos de crise as primeiras mudanças que ocorrem são de ordem alimentar. Existem razões fisiológicas para a pessoa comer mais em situação de estresse. O corpo tende a buscar altas doses de calorias e açúcar durante momentos de crise. Essas comidas calóricas fornecem energia para o comportamento de luta ou fuga.

Sob estresse, há um aumento do nível do cortisol no corpo. Pesquisas demonstram que o cortisol aumenta o apetite.

Outro dado importante é que a comida com açúcar eleva a dopamina – que é o neurotransmissor associado com motivação e recompensa. O apetite desinibido, comportamento, distração, pode ativar o centro do cérebro relacionado ao prazer e psicologicamente removê-lo da emoção negativa que sente.

Lado bomapesar de ser um momento altamente estressante, você pode ter mais consciência do que lhe faz bem e do quanto você realmente necessita.

Outras Sugestões
Desligue-se de noticiários, selecione um por dia. O cérebro absorve as notícias de forma integral – sons, cores, imagens e repetição. 70% absorção negativa.

Foque naquilo que você pode controlar e não no que não pode

“Deus me dê a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar. Coragem para mudar as coisas que eu posso, e sabedoria para fazer a diferença.”

Escolha o que podemos controlar:
Journaling, diário escrita terapêutica.
Lembre-se de coisas positivas de sua vida – pratique a compaixão
Agradeça – faça lista de 5 agradecimentos por dia, 5 bênçãos, acelera seu bem-estar.

(*) Sonia Fuentes – Psicóloga; Especialista em Geriatria e Gerontologia pela Unifesp, em Psicossomática pela ABMP e em Cinesiologia pelo Sedes Sapientiae; Mestrado em Gerontologia Social pela PUC-SP; Doutora em Psicologia Clínica; e pós.doc em Gerontologia Social também pela PUC-SP. Membro do Ideac, onde ministra Oficina de memória, criatividade e cognição. E-mail: [email protected].

Foto destaque de Andrea Piacquadio/Pexels

Serviço
Curso “Estresse & Equilíbrio Emocional em 3 Atos
Docente: Sonia Fuentes
Quintas: das 19 às 21 horas
Datas: 29/04, 06/05 e 13/05 (online)
Temas:
Contextualizar o momento (Estresse & Pandemia) e Exercício de relaxamento
O que é Estresse? Fisiologia do Estresse e Sintomas do Estresse
Medidas anti Estresse. Mais exercícios de respiração e relaxamento e Meditação ativa


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