Celebrando as pluralidades: o primeiro ano do Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais

Celebrando as pluralidades: o primeiro ano do Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais

O GEVP promove debates que sensibilizam a sociedade sobre as pluralidades do envelhecer no Brasil.


Raquel da Silva Pavin (*)

Um dos momentos mais marcantes para mim, nesse 1 ano de GEVP foi a discussão “Das senzalas, aos quartinhos, das casas aos abrigos: reflexões sobre como envelhecem as trabalhadoras domésticas negras no Brasil contemporâneo”, abordado pela convidada Dra. Amanda Lemos. Essa reflexão me permitiu entender mais profundo as experiências vividas pelas idosas dos grupos de convivências que atuo. Outro ponto de destaque foi o enfoque dado por outra convidada, Prof.ª Me. Sheyla Paranaguá, sobre “As velhices das mulheres e o consumo flertuoso”, o que me ajudou a entender melhor os desafios estruturais que afetam o envelhecimento das mulheres, através do superendividamento. (Joelma)

O Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais (GEVP), idealizado por mim, militante e estudiosa das velhices há mais de 15 anos, comemora seu primeiro ano de existência. Consolidado como um espaço fundamental para o estudo e debate das velhices sob a perspectiva da Gerontologia Social no Brasil, o GEVP reúne profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento e regiões do país. Foi pensado para preencher as lacunas existentes nas formações e atender ao desejo de profissionais e eternos estudantes por discussões sobre temas plurais que atravessam as velhices brasileiras, o GEVP se destaca pela diversidade de seus membros e pela potência de suas reflexões.

Relatos das participantes sobre a importância do grupo em suas trajetórias

Joelma (BA)Sou Soteropolitana, Bacharel em Serviço Social, pós-graduanda em Neuropsicopedagogia e atualmente cursando Bacharelado em Gerontologia. Escritora, poetisa, professora no Curso de Cuidadores de Idosos, Mestra em Reiki 3A e Tecelã Terapêutica. Ao longo do último ano, tive a oportunidade de me tornar membro desse grupo de estudos potente, focado nas velhices diversas, o Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais (GEVP). A cada encontro é uma experiência transformadora que ampliou minha visão sobre o envelhecimento e me proporcionou momentos ricos de aprendizado e reflexão. Para além dos estudos, o GEVP é um local acolhedor, divertido e aconchegante. Somos de várias partes do Brasil e isso torna o grupo único. Só quem passa por aqui sabe e entende esse sentimento de pertencimento tão forte. A criadora desse projeto lindo é a incrível Prof.ª Dra. Raquel Pavin. A sua condução nos encontros é serena e forte. Ela é uma referência sobre as velhices e uma entusiasta em tudo que perpassa por esse universo do envelhecer. A sua sensibilidade em trazer temas fundamentais sobre as velhices plurais faz dela uma mentora. Desde o início, o GEVP apresentou uma abordagem acolhedora e inclusiva, propondo debates sobre a diversidade das experiências de envelhecer. Cada convidada que vem traz para o encontro uma abordagem única e especial, onde perpassam desde questões de gênero e sexualidade, até a interseção com raça, classe e território. A pluralidade de vozes e perspectivas é uma das características mais marcantes do grupo, permitindo que tanto as pessoas mais experientes quanto as mais jovens contribuam para um entendimento coletivo mais amplo e profundo. O que mais me fascina no GEVP é a capacidade de compartilhar saberes com pessoas de diferentes áreas do conhecimento e trajetórias de vida. Essa troca constante tem me feito crescer não só profissionalmente, mas também pessoalmente, me sensibilizando ainda mais para as demandas urgentes de uma sociedade que ainda não está completamente preparada para lidar com o envelhecimento em sua pluralidade. Minha participação no Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais (GEVP) é um marco em minha trajetória, proporcionando uma visão mais ampla e inclusiva sobre o processo de envelhecimento e fortalecendo meu compromisso em atuar de forma ética e humanizada com as pessoas idosas, nas diversas velhices. Vida longa ao GEVP!

Tatiane (MS)Ao longo da minha trajetória como gerontóloga, pedagoga e pesquisadora em história, sempre tive uma forte conexão com o trabalho com idosos. Atuei durante 7 em uma ILPI e, mesmo amando estar com eles, enfrentei muitos desafios, especialmente pela cultura predominante no interior, onde o trabalho com idosos é muitas vezes restrito à atuação em abrigos. Sempre tive o desejo de desenvolver atividades com grupos de pessoas idosas, mas a falta de supervisão adequada e de profissionais com quem pudesse compartilhar experiências me impedia de avançar. Foi então que conheci o Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais, que se tornou, para mim, uma verdadeira família. Fui acolhida com amor e carinho desde o início, e esse acolhimento foi fundamental para que eu ganhasse autoconfiança e segurança na minha atuação. Nesse grupo, tive acesso a palestras, aulas e trocas de experiências que me proporcionaram um novo olhar sobre a gerontologia, principalmente no que diz respeito ao fortalecimento de vínculos e às demandas específicas da saúde e bem-estar das pessoas idosas. A rede de apoio que encontrei me fez sentir, pela primeira vez, reconhecida e valorizada como profissional da área.

Cássia (RJ)Sou Assistente Social, Especialista em Gerontologia Social e graduanda em Gerontologia. Para mim, o GEVP é um verdadeiro coletivo de cuidado, onde encontro acolhimento, motivação e informações valiosas. Mesmo ao tratar dos temas mais difíceis sobre as vivências das pessoas idosas, o grupo mantém uma leveza que nos fortalece. Sou imensamente grata por fazer parte desse espaço e pela acolhida das colegas.

Regina (BA)Sou participante do Grupo de Estudos em Velhices Plurais, desde o seu início. Ser parte deste potente grupo é como um suspiro; é, sobretudo, entender mais do que nunca que estamos avançando enquanto sociedade equânime. Sou, psicóloga clínica, mulher preta, baiana, tenho 38 anos, sou filha de pais idosos, e nora de sogros idosos. Desde muito nova, com a ajuda da minha mãe, passei a perceber o mundo na perspectiva dos mais velhos: no contar as histórias, no aconselhar, no puxar as orelhas, entre outros. Já há algum tempo, tenho tido muitas inquietações acerca do envelhecer e da velhice. Precisamos, com urgência, asseverar que o envelhecimento é um progresso da existência, e não um pesar, e que chegar à velhice é uma dádiva. É um desafio difícil aceitar que somos finitos, que estamos de passagem, e que precisamos agir frente aos problemas que tanto vemos no nosso dia a dia, em todos os lugares – problemas permeados pela desigualdade social. Como ser para fazer a diferença que o mundo tanto precisa? O que podemos fazer? Para onde devemos ir? Será que sou capaz? Muitas perguntas para uma única resposta: mexa-se, tome partido, ou SEJA, A DIFERENÇA! Estar no GEVP me fez e faz enxergar todas essas possibilidades e mais, em uma perspectiva contextual e cultural, pois cada velhice tem suas especificidades. Cada pessoa neste mundo tem uma velhice para chamar de sua! E sim, tenho me reinventado todos os dias como pessoa e profissional! Vida longa ao GEVP!

Jéssica (SP)Sou Gerontóloga, especialista em Gerontologia Social e graduanda em Serviço Social. Iniciei minha participação no GEVP recentemente e estou encantada com o grupo. A acolhida calorosa, os conteúdos relevantes e o cuidado com que tudo é organizado são aspectos que me cativam. O GEVP veio para somar e agregar em todos os sentidos.

Fernanda (RS)Peço licença aos mais velhos que vieram antes, trazendo histórias, memórias, sabedoria e resistência, permitindo que continuemos seu legado. Assim começou minha trajetória neste grupo de estudos como mulher preta, periférica, mãe, filha, avó, esposa, cuidadora e profissional, que busca entender o envelhecimento enquanto se encontra nele. O grupo GEPV nos conecta ao passado, presente e futuro com políticas públicas e profissionais comprometidos com o envelhecer. Através de diálogos, reflexões e metodologias, oferece um novo olhar sobre as velhices, transformando-se em um espaço de escuta, esperança e debates fundamentais. Mesmo à distância, a leitura dos textos intensifica a luta por um envelhecimento digno, sem discriminação. Estudar neste espaço nos convida a cuidar e ser cuidada, ampliando temas relevantes para um futuro mais justo. Obrigada a Raquel Pavin pela brilhante condução deste espaço de estudo, resistência e pertencimento. O GEVP é um espaço acolhedor e transformador que reúne pessoas de diversas áreas do conhecimento e regiões do Brasil, unidos pelo interesse comum nas múltiplas faces dos envelhecimentos. O grupo se destaca por seu ambiente inclusivo e pela abordagem ampla e profunda das diversas experiências de envelhecer, abordando temas como gênero, sexualidade, raça, classe, acessos e territórios. As participantes ao relatarem a importância do grupo em suas trajetórias pessoais e profissionais, destacam o acolhimento, as trocas de saberes e o fortalecimento de vínculos. Para cada uma, o grupo representa mais que um espaço de estudo; é uma rede de apoio e pertencimento que amplia perspectivas, fortalece práticas e humaniza, contribuindo para a construção de uma sociedade mais equitativa.  A pluralidade de vozes no GEVP promove um entendimento mais inclusivo sobre os envelhecimentos, ressaltando a importância de considerar e valorizar as diferentes trajetórias e vivências. O grupo é, acima de tudo, um coletivo de cuidado, aprendizado e resistência, que celebra a riqueza e a complexidade das velhices, e inspira seus membros a reflexões diversas.

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Logotipo criado pela participante do grupo Joelma Vieira

Nosso horizonte – Desde sua fundação, o GEVP tem como finalidade criar um espaço inclusivo e crítico de estudos, reflexões e debates sobre as velhices, explorando suas pluralidades e complexidades. Com o objetivo de desmistificar estereótipos e promover envelhecimentos mais justo e inclusivos, o grupo fomenta um ambiente de troca de conhecimentos e experiências entre seus participantes.

Nossos encontrosO GEVP se reúne mensalmente em encontros virtuais, proporcionando flexibilidade e acessibilidade para os/as participantes. Com duração aproximada de duas horas, os encontros incluem estudo prévio de textos, artigos e mídias visuais, seguido por debates enriquecedores com o grupo e convidados(as). Esses momentos são gravados, garantindo que o conhecimento seja acessível a todos os membros.

Temas abordados no 1º ano de existência do GEVPOs temas explorados pelo GEVP refletem um compromisso com uma abordagem crítica e abrangente das velhices, considerando seus aspectos psicossociais, políticos e culturais. A cada encontro, o grupo se dedica a aprofundar questões que evidenciam as múltiplas formas de envelhecimento, tais como: Velhices LGBTQIAP+, Velhices e Racismo, Velhices e Consumo, Envelhecimento de Mulheres Negras, Velhices Rurais, Velhices e Mudanças de Endereço, O Envelhecimento de Mulheres Negras Empregadas Domésticas, Envelhecimentos e Situação de Rua e Velhices e a Arteterapia.

Nossas convidadas especiaisO primeiro ano do GEVP foi marcado pela presença de importantes trabalhadoras, militantes e estudiosas da gerontologia social, que contribuíram de forma ímpar com suas experiências e saberes, como: Ma. Anne Dantas, Ma. Naylana Paixão, Ma. Sheyla Paranaguá, Ma. Sémares Genuíno Vieira, Dra. Michele Clos, Dra. Amanda Lemos, Dra. Carine Mattos e a professora Esp. Eva Esperança.

A importância do GEVP para a Gerontologia Social

Sua importância vai além dos estudos acadêmicos. Ele representa um movimento de transformação social, promovendo debates que problematizam sobre as políticas públicas e sensibilizam a sociedade sobre as pluralidades do envelhecer no Brasil. Com um ano de sucesso, o grupo segue comprometido em ampliar suas discussões, alcançar novos membros e continuar a ser um espaço de aprendizado e troca para todos(as) que se interessam pela gerontologia social. O GEVP se consolida como um disparador na construção de uma sociedade mais inclusiva para as velhices plurais, celebrando sua jornada e planejando um futuro ainda mais promissor.

Convido vocês a fazer parte dessa caminhada.
Te esperamos com muito afeto!

(*) Raquel da Silva Pavin – Assistente Social e Gerontóloga, Doutora em Memória Social e Bens Culturais, Mestra em Políticas Sociais e Serviço Social, Especialista em Saúde Coletiva, Especialista em Envelhecimento e Qualidade de Vida. Pesquisadora das velhices femininas, apoio social e avosidades, articuladora do grupo de convivência Tecendo Vivências e EnvelheCine, mediadora do Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais (GEVP). E autora do livro “Mulheres idosas e o apoio social”. E-mail: [email protected]. Insta: @geronidade

Foto de RFstudio/pexels.


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