Bella ainda mais Bela

Uma grande amiga prestes a completar seus 41 anos me conta que resolveu assumir seus cabelos brancos. Num primeiro momento meu ímpeto foi dizer-lhe: “Nossa, Bella, mas somos tão jovens. Já?”

Denise Morante *

 

bella-ainda-mais-belaO processo de elaboração interna exige tempo e as indagações e identificações sobre sua decisão ficaram latentes para mim por algum tempo. Para ela muito provavelmente não. Minha amiga é autêntica, moderna, desbravadora e contestadora. Com certeza sua decisão foi consequência e, ainda, desencadeadora de muita reflexão. Imagino até que cada branco que a ela se apresentou, ela perguntou: “Olá, quem és?”

Não lhe perguntei como foi essa espera. A espera de vê-los surgir, marcarem suas raízes sem, porém, atingirem o restante que ainda está colorido pela cor que até então ela escolhia para si. Se me permitem, até arrisco uma hipótese de que esta experiência deve ser algo parecido com o que sentimos todas as vezes que vemos surgir em nós o novo, o inusitado.

Sim! O inusitado dos cabelos brancos, das rugas, da flacidez, do cansaço.

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Hoje a encontrei com um corte moderno e… grisalha. Sim, grisalha aos 41 anos recém-completados. Minha primeira impressão é que sua aparência ficou mais séria, mais compenetrada. Mas, em meu retorno para casa, não me canso de refletir. Quanta potência está contida nessa beleza que se dispõe a trazer o novo, o moderno, o branco como cor de Vida.

Reflito como nós, mulheres, não percebemos em nós mesmas esse lado “Bela”; não no sentido estético, mas em nossa capacidade de proporcionar sensações, experiências, aprendizados. É dessa beleza que Bella se alimenta para enfrentar o novo através do branco que socialmente nos remete ao velho!

A partir desta potência, imagino a “Bela Velhice”; não no sentido estético, mas na sua vivência. Contudo, quando contextualizamos a beleza, principalmente nos padrões brasileiros, vemos que se instauram duas possibilidades, de forma antagônica: a Beleza Vivida e a Beleza Estética. É a busca incessante pela beleza estética, dissociada da beleza vivida, que justifica a terceira posição mundial ocupada pelo Brasil no mercado de cosméticos, perdendo apenas para os Estados Unidos e Japão.

O crescimento da indústria da beleza no Brasil é cada vez maior. Esse crescimento que se materializa por meio do consumo, reforçando oposições importantes (juventude/velhice, saúde/doença, magreza/gordura, beleza/feiura). Torna-se uma maneira de lutar avidamente contra a fatalidade natural, como se o consumo da beleza estética conseguisse ser o “antidestino” da beleza vivida.

Essa dissociação exalta e promove uma beleza inexistente porque, ao negarmos os sinais do tempo, perceberemos que eles estão em outro lugar, afinal, os sinais estão dentro de nós! Eles nos marcaram, estão em nossas memórias, eles nos compuseram e são a nossa BELEZA: na velhice, na infância e na juventude. É esse tempo que nos faz e sempre nos fará BELAS.

E, foi nesses brancos, sinais da sua potência, que hoje enxerguei Bella ainda mais bela!

* Denise Morante é administradora e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. Membro associado do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento – OLHE. E-mail: [email protected]

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