Com os pés, ora plantados na terra, ora transformados em asas seguimos voando pela vida buscando na Arte a inspiração para os dias cuja fonte de liberdade está no cuidar de nós mesmos, afinal, apenas o cuidado amplo é capaz de favorecer voos, rodopiar corpos, secar lágrimas e libertar o cuidador.
Por Cristiane Pomeranz
O céu de inverno tem aquecido os dias repletos de dedicação e vigília a um viver que não pertence aquilo que somos. A dedicação ao outro passou a fazer parte de uma rotina onde nossa própria existência foi deixada de lado. Vida isolada e absolutamente afastada daquilo que, até então, acreditávamos ser.
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O voo dos pássaros que anunciam uma liberdade invejável a nós que tentamos, ao longo da vida, encontrar asas que possam nos livrar das amarras deste viver pesado. Com pés fincados ao chão, arrastamos nosso caminhar em busca de realizações difíceis de serem alcançadas já que de uma hora para outra nossa vida ficou restrita a um cuidar que não tem fim.
É preciso buscar algo que nos faça voar como os pássaros que observamos com uma alegria contida e reprimida pelo momento vivido. Cuidadores de idosos que não cuidam de si são como pássaros engaiolados aprisionados no cuidado que sufoca e angustia. Enquanto deixam de lado suas próprias convicções, amarram suas asas enquanto prendem seus desejos e vontades.
A obra da Artista Plástica Gersony Silva é o voo que cuidadores de idosos precisam buscar para si mesmos. Um trabalho poético, profundo e que mostra, através da Arte, a suavidade fundamental para este viver repleto de cuidados, já que são os voos da liberdade que nos permitem avistar a amplitude desta vida longeva.
Gersony é uma artista completa que vive e trabalha em São Paulo. Participa de importantes exposições ao redor do mundo onde trabalha diversas linguagens. Seus desenhos, pinturas, esculturas, instalações e performances são poesia para os olhos e acalanto para o peso que sobrecarrega a vida.
Asas são temas constantes da artista e as de Gersony são poderosas. Asas que contam histórias, que falam do céu de Ícaro e que mostram a importância do movimento. Asas que apontam que a liberdade perdida é justamente aquela que está dentro de nós e que não mais reconhecemos como nossa já que o ato de cuidar desvia nosso olhar de nós mesmos enquanto emprestamos nossas próprias asas ao outro. Triste realidade que precisa ser transformada para que o cuidado possa ser majestoso como o voo de um pássaro.
Para Gersony os pés são asas, as mãos voam, choram e transpiram enquanto mostram o próprio corpo como instrumento de construção das mais profundas asas.
Com os pés, ora plantados na terra, ora transformados em asas seguimos voando pela vida buscando na Arte a inspiração para os dias cuja fonte de liberdade está no cuidar de nós mesmos, afinal, apenas o cuidado amplo é capaz de favorecer voos, rodopiar corpos, secar lágrimas e libertar o cuidador.
Serviço
Galerie Brésil: Corpo Movente, exposição da artista Gersony Silva em cartaz até dia 20 de setembro. Rua Fradique Coutinho 1399. Conheça mais sobre a artista: http://www.gersony.com.br
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