O enredo da peça traz aos palcos o universo melodramático grotesco de Jodorowsky, ícone da contracultura chilena. Duas marquesas decadentes, já por volta dos 80 anos, vivem em uma mansão em ruínas, devastadas pela fome e pelo abandono, vigiadas pela já centenária criada. Em uma única noite, revelações familiares transformarão a história dessas estranhas figuras.
As três velhas incomoda. O texto é ácido, brutal, chocante, provocador, próprio do autor, com cenas fortes. Prepare-se para ouvir muitas palavras de baixo calão, ver gestos chulos e sexo oral que uma das três velhas demonstra em cena. Cenas que nos fazem refletir sobre a sociedade de consumo, sobre a velhice, sobre abandono, sobre solidão, mesmo que tendo companhia, sobre frustrações, sobre arrependimentos.
Alejandro Jodorowsky é caótico, niilista e, sobretudo, desconcertante. Sua intenção é chocar, em meio a um cenário sombrio, norteado por luzes sombrias, onde as três velhas ditam o rumo da trama. O cheiro, o clima de decadência esparge no ar. “O tempo apodreceu minha carne, mas não minha alma”, avisa a criada insolente Garga, diante das duas filhas octogenárias Graça e Melissa. Elas são as marquesas de Felícia que, com um passado obscuro, sujo e hediondo, vivem submersas numa soturna mansão do pecado. O caos dita as regras de sobrevivência do cotidiano. “Dá para ser digna até mesmo na lama”, argumenta Garga. “Todos se vendem, por que você não?!”, diz ela, para uma das irmãs.