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Apoio social na construção do envelhecimento saudável

A rede de apoio social é de fundamental importância ao envelhecimento saudável nos aspectos biopsicossociais e de segurança.

Elisabeth Fernandes (*)


Para a gerontologia, envelhecer é considerado um processo progressivo e multifatorial, sendo a velhice uma experiência potencialmente bem-sucedida, porém, heterogênea, e, vivenciada com maior ou menor qualidade de vida. Segundo dados do IBGE a população idosa tende a crescer no Brasil nas próximas décadas, como aponta a Projeção da População atualizada em 2018. Segundo a pesquisa, em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%. 

A relação entre a porcentagem de idosos e de jovens é chamada de “índice de envelhecimento”, que deve aumentar de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060. Esse processo pode ser observado graficamente pelas mudanças no formato da pirâmide etária ao longo dos anos, que segue a tendência mundial de estreitamento da base (menos crianças e jovens) e alargamento do corpo (adultos) e topo (idosos). 

O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento de sua população, o segmento populacional que mais aumenta na população brasileira é o de pessoas idosas, com taxas de crescimento de mais de 4% ao ano para a década de 2012 a 2022, representando, no mesmo período, um aumento médio de mais de 1 milhão de pessoas idosas por ano. 

Em torno de 30 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, o que equivale a 14% da população total do Brasil em 2020. Projeções apontam que, em 2030, o número de pessoas idosas superará o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos em aproximadamente 2,28 milhões. Em 2050, a população idosa representará cerca de 30% da população brasileira; enquanto as crianças e os adolescentes, 14%. 

Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030 

Declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2020, a Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030 é a principal estratégia para alcançar e apoiar ações de construção de uma sociedade para todas as idades. É uma iniciativa global de dez anos de colaboração sustentada. As pessoas idosas estão no centro do plano, que reúne os esforços de governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais, academia, mídia e setor privado para melhorar a vida das pessoas idosas, de suas famílias e comunidades.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o envelhecimento saudável como “o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na idade avançada”. Ela se baseia em orientações anteriores, tais como a Estratégia Global sobre Envelhecimento e Saúde da OMS, o Plano de Ação Internacional sobre Envelhecimento da ONU Madrid e as Metas de Desenvolvimento Sustentável da Agenda da ONU para 2030. Uma década de ação global concentrada no envelhecimento saudável é urgente e necessária. 

Apoio social

O componente afetivo foi acrescido a este conceito, em função do incontestável e reconhecido valor do vínculo de afeto para a constituição e manutenção do apoio e proteção. Apoio social tem a ver com as relações que uma pessoa estabelece na vida e que podem influenciar de forma significativa a definição da sua personalidade e o desenvolvimento. A qualidade das interações em diferentes contextos sociais tem sido objeto de estudos de muitos pesquisadores que comprovam o impacto positivo ou negativo das mesmas sobre a saúde física e emocional das pessoas.

Se, por um lado, a psicologia veio contribuir para o desenvolvimento dos relacionamentos interpessoais, por outro, as investigações empíricas realizadas por diversos autores vieram demonstrar que as redes sociais atenuaram as consequências negativas do stress e abriram caminho para o desenvolvimento desta conceptualização. Deste modo, o papel dos processos relacionais tem uma grande influência sobre a saúde e bem-estar do indivíduo e neste sentido é necessário pensar em propostas e ações tanto públicas quanto privadas que auxiliem na construção e manutenção de redes de apoio.

As redes informais e formais compõem a estrutura das relações sociais, tendo em conta que nas primeiras estão incluídos os indivíduos com quem se estabelece um relacionamento próximo e afetivo, como a família, os amigos, vizinhos, os colegas de trabalho. Nas relações formais estão compreendidos os serviços do Estado, por meio da Segurança Social e os serviços organizados pelo poder local.

O envelhecimento ativo, de acordo com a OMS, baseia-se em três pilares: participação social, segurança econômica e saúde. Sabemos que esses pilares vêm sendo construídos com muita determinação por aqueles que se preocupam com os desafios decorrentes do aumento da população de idosos, não só no Brasil, mas no mundo todo.

O apoio social inadequado está associado não apenas a um aumento em mortalidade, morbidade e problemas psicológicos, mas também a uma diminuição na saúde e bem-estar em geral. O rompimento de laços pessoais, solidão e interações são as maiores fontes de estresse, enquanto relações sociais animadoras e próximas são fontes vitais de força emocional (GIRONDA & LUBBEN, 2005). As pessoas idosas apresentam maior probabilidade de perder parentes e amigos, de ser mais vulneráveis à solidão, isolamento social e de ter um “menor grupo social”. O isolamento social e a solidão na velhice estão ligados a um declínio de saúde tanto física quanto mental.

A promoção do envelhecimento ativo prevê melhora nas condições de vida das pessoas idosas em todos os aspectos, não só objetivando a promoção e reabilitação da sua saúde, mas sim a sua plena inserção social: o desenvolvimento de atividades de cultura, lazer e participação, o conhecimento dos seus direitos e também dos seus deveres como cidadão que ainda é ativo e digno (WHO, 2005).

É imprescindível que se promova a reflexão sobre as questões que envolvem o envelhecimento humano enfatizando os aspectos éticos de qualidade de vida, comunicação e educação. Sendo o suporte social referente essencialmente aos recursos que durante o percurso de vida estão ao dispor dos indivíduos (como família, amigos, vizinhos, conhecidos) e das unidades ou grupos sociais (clubes, igreja, entre outros) face aos pedidos de ajuda e assistência (DUNST & TRIVETTE, 1990). A rede de apoio é de fundamental importância ao envelhecimento saudável nos aspectos biopsicossociais e de segurança.

A política de desenvolvimento ativo, proposta pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2005), é um exemplo real dessas recomendações, enfatizando que envelhecer bem não é apenas responsabilidade do indivíduo e, sim, um processo que deve ser respaldado por políticas públicas e por iniciativas sociais e de saúde ao longo do curso da vida. O cuidar dos mais velhos não é uma responsabilidade que cabe somente à família, mas que cabe também ao Estado e à sociedade civil. 

A criação de políticas públicas deve partir do pressuposto que para se envelhecer de forma saudável, é fundamental aumentar as oportunidades para que os indivíduos possam optar por um estilo de vida mais adequado, que inclua mudanças de hábitos alimentares e atividade física regular e, consequentemente, o controle da saúde física e psicológica. A rede de apoio social é este “conjunto de sistemas e de pessoas significativas, que compõem os elos de relacionamento recebidos e percebidos do indivíduo” que faz parte dessa participação e segurança. 

Segundo Bronfenbrenner (1979/1996) a rede de apoio deve abordar mudanças que acontecem ao longo da vida, não apenas na pessoa, mas também em seu ambiente ecológico, em suas interações e na sua crescente capacidade de descobrir, sustentar ou alterar as propriedades do meio e de suas relações. Construir e consolidar redes são processos intimamente ligados à convivência, pois conviver com outros seres humanos, significa interagir de forma recíproca, a partir de trocas, principalmente afetivas, que possibilitam o desenvolvimento na diversidade de papéis, alteração e equilíbrio de poder, conjunção de olhares, contato físico, respeito mútuo, entre outros elementos a depender da situação. 

Conforme Bowlby (1988), uma rede de apoio social e afetiva eficiente está associada à prevenção de violência e ao fortalecimento de competências, bem como do senso de pertencimento e da maior qualidade dos relacionamentos. Organizações governamentais e não governamentais, indústrias privadas e públicas, os profissionais dos mais diversos serviços relacionados à pessoa idosa podem ajudar a promover redes de contatos sociais a partir de sociedades de apoio tradicionais e grupos comunitários liderados pelos idosos, trabalho voluntário, ajuda da vizinhança, monitoramento e visitas em parceria, cuidadores familiares, programas que promovam a interação entre as gerações, e serviços comunitários.

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“Somos interdependentes neste nosso mundo que rapidamente se globaliza, e devido a essa interdependência nenhum de nós pode ser senhor de seu destino por si mesmo. Há tarefas que cada indivíduo enfrenta, mas com os quais não se pode lidar individualmente. O que quer que nos separe e nos leve a manter distância dos outros, a estabelecer limites e construir barricadas, torna a administração dessas tarefas ainda mais difícil. Todos precisamos ganhar controle sobre as condições sob as quais enfrentamos os desafios da vida, mas para a maioria de nós esse controle só pode ser obtido coletivamente” (BAUMAN, 2003).

Os relacionamentos sociais abrangem sentimentos que proporcionam hábitos saudáveis e bem-estar psicológico. Como suporte emocional estimulam o sentido e coerência de vida. O envelhecimento saudável depende do equilíbrio entre limitações e potencialidades sendo as redes de apoio seu forte aliado.

Referências

CAETANO, Sandra Portela da Silva. Solidão e Rede de Apoio Social nos Idosos Percepção e Caracterização. 2013. Tese de Doutorado.

CONTESSA, Núbia Raquel Kommers et al. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa-espaço e possibilidades no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago. 2010.

COUTO, Maria Clara Pinheiro de Paula. Fatores de risco e de proteção na promoção de resiliência no envelhecimento. 2007.

DA SILVEIRA, Tatiana Santos. O apoio social para a qualidade de vida da pessoa idosa. 2020.

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ROQUE, Susimauren Navarro. Resiliência e apoio social em idosos: uma interface com a qualidade de vida. 2013.

SILVA, Janaina Corazza Barreto. Educação para o envelhecimento: abordagem em grupo com idosas como espaço de prevenção e promoção de saúde. 2012. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

TAVARES, Renata Evangelista et al. Envelhecimento saudável na perspectiva de idosos: uma revisão integrativa. Revista brasileira de geriatria e gerontologia, v. 20, p. 878-889, 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. In: Envelhecimento ativo: uma política de saúde. 2005. 

(*) Elisabeth Fernandes – Especialista em Psicologia do Esporte (FMU-FIAM), Professora Universitária, FAM (Faculdade de Americana). Texto escrito no curso “Fragilidades: o envelhecimento sob a perspectiva da gerontologia social”, promovido pelo Espaço Longeviver/Portal do Envelhecimento, no segundo semestre de 2022.  E-mail: efernandes@fam.edu.br

Foto destaque de Anna Shvets/pexels.com


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