Antes de eu morrer, eu quero …

Antes de eu morrer, eu quero …

Muitos de nós não se atentam ao fato de que um dia não haverá mais listas de desejos a almejar; simplesmente porque vamos morrer.

Nazaré Jacobucci (*)

 

Antes de eu morrer, eu quero organizar minha festa fúnebre (Before I die I want to organize my funeral party)” (Sicília, Itália).

Ao perguntarmos para uma pessoa o que ela deseja em sua vida, a resposta pode ser simples – “eu quero comprar uma casa, um carro, quero ter filhos, quero estudar, quero fazer uma viagem incrível…” ou a resposta pode ser complexa – “eu quero alcançar a felicidade plena, quero descobrir a cura para a AIDS…” mas, quando eu pergunto: o que você deseja de fato antes de morrer? Geralmente, a pessoa fica em silêncio e a sensação que tenho é que fiz uma pergunta incômoda. Pois, muitos de nós não se atentam ao fato de que um dia não haverá mais listas de desejos a almejar; simplesmente porque morremos.

Apesar de ser, normalmente, um assunto incômodo, falar sobre nossos desejos antes da morte pode ser uma possibilidade para lançarmos nosso olhar para o que realmente importa, ajuda no planejamento de projetos de vida. Mas, projetos que alimentam a alma. Quando tomamos consciência da nossa mortalidade, não podemos perder a chance de concretizar sonhos e projetos que estão ao nosso alcance aqui e agora.

Candy Chang, em seu processo de luto, após perder uma pessoa muito querida, criou o projeto Before I die na cidade de Nova Orleans. Durante o processo seu mundo interior não parecia pertencer ao exterior e, olhando para as mensagens que ela via quando caminhava pela rua, percebeu o quanto evitamos enfrentar a morte. O projeto Before I die (Antes de Morrer) reinventa a maneira pela qual uma simples parede de nossas cidades pode nos aproximar da morte e ajudar a lidar com seu significado.

Candy fez um estêncil caseiro que dizia: “Antes de eu morrer, eu quero _____”, e com a ajuda de velhos e novos amigos, ela pintou o lado de uma casa em ruínas, em seu bairro, um painel. Ela escreveu a primeira frase no painel e deixou vários espaços lá para que qualquer pessoa que estivesse passando pela calçada pudesse pegar um pedaço de giz e por um instante parasse para refletir sobre a morte e a vida e compartilhasse suas aspirações pessoais em público.

No dia seguinte, a parede estava repleta de respostas interessantes: “Antes que eu morra, quero … seguir meu sonho de infância; ver minha filha se formar; abandonar todas as inseguranças; recuperar minha esposa; ver meus alunos se tornarem professores…”. A parede havia se tornado uma bagunça honesta de saudade, dor, alegria, insegurança, gratidão, medo e admiração que você encontra em todas as comunidades. Enquanto lia as respostas, Candy entendia seus vizinhos e lembrou-se de que não estava sozinha enquanto tentava dar sentido à sua vida. Hoje o mural de Candy, graças a pessoas apaixonadas em todo o mundo, está presente em mais de 4.000 paredes ao redor do mundo, em mais de 75 países e em 36 idiomas.

Eu sei o quão difícil é em nosso dia-a-dia em meio a agendas lotadas de compromissos, às vezes não tão imprescindíveis assim, nos apercebermos o que de fato é relevante e de voltar nosso olhar para o que realmente importa. Temos dificuldade em parar e priorizar os nossos reais desejos diante de tantos estímulos inúteis disponíveis na sociedade atual.

Na minha experiência com pessoas em final de vida é surpreendente a simplicidade dos desejos que elas gostariam de realizar antes de morrer. E muitos destes estavam ali o tempo todo ao alcance da mão, mas o “prescindível” das suas agendas não os deixaram realizar o imprescindível para a alma.

Concordo com Hilda Hilst quando ela diz: “Ah, se as pessoas tivessem noção do transitório, de como é breve tudo isso” com certeza se tivéssemos esta noção não perderíamos tempo com o insignificante.

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Por isso, te convido a parar, respirar, ficar em silêncio, pensar e indagar a si mesmo. Minha vida está pautada no imprescindível? Antes de eu morrer, eu quero______?

Se sentir vontade compartilhe nos comentários seu desejo.

 

(*) Nazaré Jacobucci – Mestranda em Cuidados Paliativos na Fac. de Medicina da Universidade de Lisboa. Psicóloga Especialista em Luto. Especialista em Psicologia Hospitalar. Psychotherapist Member of British Psychological Society (MBPsS/GBC). Site: http://www.perdaseluto.com

Referências
Before I Die [site]. Disponível em: https://beforeidieproject.com/

Texto reproduzido do blog Perdas e Lutos – Educação para a Morte, as Perdas e o Lutode Nazaré Jacobucci.

 

 

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