Como não levar para o pessoal os xingamentos que a demência ofende? Como ajudar quem desistiu de si? Cuidar não é fácil.
Dance ou morra!
E a vida é assim. Um convite para essa escolha o tempo todo, mesmo que por vezes, dançar o ritmo alucinógeno que nos é apresentado possa parecer impossível.
Para viver, não dá para ficar parado e como diz o ditado: Mente vazia, oficina do diabo.
Dance ou morra.
“Keep your mind on the distance
When the devil turns Around”
“Mantenha sua mente distante
Quando o diabo se virar”
Ao ver o show da Lady Gaga na praia de Copacabana, sua energia e talento, desde então, não me saem da cabeça. “Abracadabra” nos fala de magia e de uma força capaz de mudar a realidade. O trabalho dos cuidadores de idosos também é assim.
Abracadabra!
CONFIRA TAMBÉM:
Com pequenos gestos eles são capazes de modificar quem recebe seus cuidados.
“Save me from this empty fight
In the game of life”
“Salve-me desta luta vazia
No jogo da vida”
Sim. Bons cuidadores podem salvar quem se encontra no nada.
No vídeo clipe da música percebemos a força do recado dado pela Dama de Vermelho, personagem da Lady Gaga que representa uma espécie de consciência que questiona a dualidade existente em nós. É sim e não o tempo todo. Somos fortes também na dor? Somos capazes de dançar mesmo nas dificuldades? Sabemos aceitar apoios que nos sustentam quando estamos desmoronando?
Dualidade também existente no ato de cuidar de um outro alguém: Dance ou morra.
Amor e exaustão, preservar a vida e ao mesmo tempo conviver com a finitude.
Abracadabra e um sorriso aparece em meio ao cansaço físico e emocional que sente ao cuidar.
Ato de entrega, sem dúvida, onde se vive o perigo de deixar sua própria vida de lado.

A imagem da artista com seus bailarinos dançando com bengalas é impactante. Ferramentas de apoio que se transformam em corpos dançantes. O corpo é vulnerável, mas ainda quer e precisa dançar.
Luzes e sombras são exploradas com força e beleza em uma coreografia deslumbrante.
Abracadabra, amor‑oo‑na‑na
Abracadabra, morta‑ooh‑ga‑ga
Abracadabra, abra‑oo‑na‑na
Amor e morte. Dance ou morra
Esta semana estive com os cuidadores de idosos de um Centro Dia propondo uma atividade artística para eles.
Claro que a Arteterapia conduziu o encontro com uma proposta onde trabalhávamos a dualidade do cuidar.
Todos ali tinham o amor pela profissão norteando suas condutas, mas manifestaram as sombras existentes na relação cuidador e idoso. Foram muitas.
Como não levar para o pessoal os xingamentos que a demência ofende? Como ajudar quem desistiu de si?
Cuidar não é fácil.
É luz e sombra o tempo todo, como na canção, como na vida e como no cuidado.
Pela arte os sentimentos negativos puderam ser triturados e transformados.
Um triturador de papel gerou tiras que puderam ser modificadas pela arte.
Como levar o que é percebido para a vida?
Aprendemos a lidar com o desconforto apenas quando somos capazes de perceber o que incomoda. A Arteterapia nos faz pensar, compreender, refletir para então buscar caminhos possíveis de serem trilhados. Soluções internas precisam ser encontradas, mas primeiro precisam ser vistas.
Os gritos dos bailarinos na música da Lady Gaga são possíveis desabafos.
Ao colocar os cuidadores de idosos em contato com a arte caminhos podem ser descobertos, sugeridos, vistos e sentidos.
Cuidar de idosos é um trabalho emocionalmente desafiador e a arte se torna um canal seguro para que as emoções e cansaço possam ser expressos. Gritamos então, com cores e formas. Sombras são iluminadas.
Pela arte é possível expressar experiências intensas sem necessidade de traduzi-las em palavras.
“Abracadabra
Abra oo na na
In her tongue she said
Death or love tonight”
“Em sua língua ela disse
Morte ou amor esta noite”
E a dama de vermelho ecoa dilemas.
Abracadabra!

Presença com escuta e afeto? Ou exaustão e indiferença?
Abracadabra!
A arte nos faz resistir, iluminar.
Dance ou morra.
Escolha dançar! Mesmo que com bengalas!
Abracadabra!
Imagens: prints do vídeo
