O perfil religioso da população idosa no Brasil em 2010 e 2022

O perfil religioso da população idosa no Brasil em 2010 e 2022

A transição religiosa segue o curso  histórico de redução das filiações católicas e aumento dos demais grupos, mas em ritmo mais lento.


O IBGE divulgou os dados dos grandes grupos de religião do censo demográfico de 2022. As novas informações indicam que houve uma desaceleração da velocidade da transição religiosa do Brasil. As filiações católicas continuam caindo, mas em ritmo mais lento e as filiações evangélicas continuam subindo, mas em menor velocidade. As demais religiões e o grupo sem religião também apresentam crescimento.

A transição religiosa se desdobra em quatro movimentos: declínio absoluto e relativo das filiações católicas; aumento acelerado das filiações evangélicas; crescimento percentual das religiões não cristãs; aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião. Mas este fenômeno apresenta diferentes dinâmicas geracionais, sendo que as mudanças ocorrem  de forma mais vagarosa entre as pessoas idosas e de forma mais acelerada entre os jovens

O gráfico abaixo mostra a distribuição da população de 10 anos e mais por grandes grupos de religião no Brasil em 2010. As filiações católicas representavam 65,1% da população de 10 anos e mais, mas chegavam a 62,2% entre os adolescentes de 10 a 14 anos e 71,7% entre as pessoas de 60 anos e mais. As diferenças entre os dois grupos geracionais era de quase 10 pontos percentuais.

As filiações evangélicas representavam 21,6% da população de 10 anos e mais e chegavam a 25,3% entre os adolescentes de 10 a 14 anos e a 18,3% entre os idosos de 60 anos e mais. Isto significa que os católicos são proporcionalmente mais fortes entre os idosos, e os evangélicos mais fortes entre os jovens.

No grupo sem religião, existe uma sobrerrepresentação de jovens (8,3%) e uma sub-representação de pessoas idosas (4,3%) em relação à população de 10 anos e mais (7,9%). No grupo outras religiões, existe uma sub-representação de jovens (4,2%) e uma sobrerrepresentação de idosos (5,6%) em relação à população de 10 anos e mais (5,4%).

Estas diferenças geracionais se acentuaram em 2022. O gráfico abaixo mostra a distribuição da população de 10 anos e mais por grandes grupos de religião no Brasil em 2022. As filiações católicas representavam 56,7% da população de 10 anos e mais, mas representavam 52% entre os adolescentes de 10 a 14 anos e 67,1% entre os idosos de 60 anos e mais. As diferenças entre os dois grupos geracionais passaram para 15,1 pontos percentuais. Em relação a 2010, os católicos diminuíram em todos os grupos etários.

As filiações evangélicas passaram para 26,9% na população de 10 anos e mais, para 31,6% entre os adolescentes e para 21,8% entre os idosos. Isto significa que os evangélicos se tornaram ainda mais fortes entre os adolescentes e os católicos continuaram mais fortes entre as pessoas idosas. Em relação a 2010, os evangélicos aumentaram em todos os grupos etários.

No grupo sem religião, continua existindo uma sobrerrepresentação de jovens (10,2%) e uma sub-representação de idosos (4,6%) em relação à população de 10 anos e mais (9,3%). No grupo outras religiões, existe uma sub-representação de jovens (6,1%) e também de idosos (6,6%) em relação à população de 10 anos e mais (5,4%). Houve crescimento em todas as faixas etárias nos dois grupos, outras religiões e sem religião, entre 2010 e 2022.

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Uma análise geral dos dados dos dois últimos censos demográficos mostra que a transição religiosa segue o curso  histórico de redução das filiações católicas e aumento dos demais grupos, porém, em ritmo mais lento do que no período 1991 a 2010.

Em termos geracionais, a transição religiosa ocorre de maneira mais vagarosa entre as pessoas idosas. Entre 2010 e 2022 os católicos idosos caíram de 71,7% para 67,1% (uma diferença de 4,6%) e os adolescentes católicos caíram de 62,2% para 52% (uma diferença de 10,2%).  Entre os evangélicos o avanço entre 2010 e 2022 foi maior entre os adolescentes (aumento de 6,3 pontos percentuais) e menor entre os idosos (aumento de 3,5 pontos percentuais). O mesmo ocorreu nos outros dois grupos religiosos.

Há que se fazer três observações sobre a efetividade do censo demográfico 2022. Primeiro, houve um erro de cobertura censal que pode ter afetado ligeiramente os dados  do quesito religião de 2022, pois enquanto o censo indicou uma população total de 203,081 milhões de habitantes em 2022, as projeções populacionais do IBGE (revisão 2024) indicaram 210,863 milhões de habitantes. Segundo, houve uma ligeira mudança de metodologia, pois os resultados do censo 2022 não incluíram as crianças de 0 a 9 anos, o que afetou particularmente as taxas dos evangélicos e, principalmente, dos sem religião. Terceiro, a falta de dados desagregados dificulta a análise da dinâmica das diversas denominações e prejudica uma análise mais aprofundada da transição religiosa no Brasil.

Desta forma, as informações do censo 2022 não possibilitam uma análise definitiva sobre a transição religiosa no Brasil. Novas pesquisas serão necessárias para se traçar um quadro mais amplo do cenário atual e das perspectivas futuras. O Brasil continua sendo o maior país católico do mundo e, com certeza, as pessoas idosas ajudaram a garantir uma maior resiliência das filiações católicas. Porém, a sucessão de gerações tende a favorecer o crescimento das filiações evangélicas que mantém maior proporcionalidade entre as faixas etárias mais jovens.

Referências
ALVES, JED et al. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180/130985
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), (com a colaboração de Francisco Galiza), maio de 2022. Disponível em: https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

Foto Pixabay/pexels.


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José Eustáquio Diniz Alves

Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br. Link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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