A invisibilidade das pessoas idosas em situação de rua

A invisibilidade das pessoas idosas em situação de rua

São quase 24 mil pessoas idosas que não têm um lar para viver no Brasil e vivem na rua.


Pessoas em situação de rua geralmente são vistas como indesejadas, tanto pelas condições de higiene quanto pela desconfiança de que não sigam regras sociais adequadas. Nesse cenário, pouco se destacam aqueles que já estejam vivenciando a velhice, até porque a precária qualidade de vida acelera as perdas funcionais e cognitivas, agravadas ainda por falta de alimentação adequada e hábitos não saudáveis, tais como consumo de drogas e bebidas alcoólicas. 

Há instituições conveniadas a estados e municípios, geridas por organizações sociais, que atendem aos princípios fundamentais de assistência a uma vida digna. De acordo com a jornalista Rute Pina, idosos em situação de rua têm sido acolhidos em instituições dessa natureza, demonstrando o crescimento de 65% dessa necessidade de acolhimento ao longo de 10 anos. Segundo ela:

Mesmo com esse crescimento, as vagas disponíveis estão longe de atender a demanda e a situação pode piorar, pois o ritmo de envelhecimento da população no país acelera.

O impacto econômico causado pela pandemia pela Covid-19 agravou o problema, pois houve um aumento considerável de pessoas em situação de rua, muitas delas optando por morar em condições precárias e inseguras em função do desalento em relação ao futuro. Mas ficou patente que aumentou também o abandono de pessoas idosas nesse contexto, vistas as mudanças resultantes da necessidade de reinvenção de muitas famílias.

Quase 24 mil pessoas maiores de 60 anos não têm um lar para viver no Brasil, segundo o Cadastro Único, do governo federal. Em São Paulo, estado que tem metade deste contingente, os idosos representam 12% do total de pessoas em situação de rua.

O número de equipamentos de assistência social dedicados a essa população aumenta desproporcionalmente e, portanto, faltam vagas para atender adequadamente ao acolhimento dos mais vulneráveis.

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O número de instituições que existem no Brasil pode ser muito maior, já que muitas não estão cadastradas e outras funcionam na clandestinidade.

A solução poderia ser o cadastro desses equipamentos através de busca ativa, oferecendo contrapartidas que pudessem garantir vagas com serviço de qualidade, tais como formalização, além de suporte técnico e financeiro.

Outra iniciativa é atrair emendas parlamentares como um instrumento para aumentar recursos para o setor e driblar o desafio do subfinanciamento da área.

A invisibilidade das pessoas idosas em situação de rua pode ser amenizada pelo reconhecimento de que igualmente têm sonhos, desejos e necessidades, em especial quanto aos seus espaços de vida. O acolhimento efetivo depende de equipamentos que ofereçam condições de bem-estar e pertencimento, possibilitando a reinserção na sociedade e o devido respeito que todo cidadão merece.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil


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Maria Luisa Trindade Bestetti

Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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