A experiência do idoso deve ser considerada

A experiência do idoso deve ser considerada

A experiência dos idosos de hoje, de todos os estratos sociais, deve ser ouvida e levada em consideração ao se pensar em políticas e serviços para a população envelhecida de amanhã.

Por Ivone Egidio Pedro Fuentes (*)

 

Foi me feito um convite para relatar como é minha vida na terceira idade, ela é de muito trabalho, muitos desafios, hoje me sinto confortável para dizer que a mudança foi benéfica, pois aposentar-me agora me deu tempo livre para realizar sonhos ainda não realizados. Claro que com o salário menor, tive que me ajustar, mas conto com ajuda de meus queridos filhos, que colaboram nas dificuldades. Tenho mais liberdade para me exercitar, caminhar e controlar as refeições, dando-me uma qualidade de vida melhor. A terceira idade é um tempo de reflexão, para se corrigir hábitos errôneos, e pensar em aproveitar melhor a vida e o tempo disponível.

Esta é a fala de Santo Pedro, aposentado, 78 anos. E ele faz parte das estatísticas exibidas pelo IBGE, ao apresentar ao país que cresceu 50% o número de idosos no Brasil. Ou seja, nos últimos 10 anos o Brasil ganhou 8,5 milhões de cidadãos acima dos 60 anos. Essa parcela da população deve chegar a 38 milhões em 2027. E Santo Pedro é um deles.

As estimativas do IBGE mostram que aumentará não apenas o total de pessoas idosas, mas principalmente a participação delas no conjunto da população brasileira, passando de 8% em 2000 para quase 19% no ano de 2030. É o caso de Maria José do Nascimento, publicado recentemente na revista Época. Segundo a reportagem, ela, “prestes a completar 65 anos, se mudou de São Paulo para uma cidade do Interior logo após sua aposentadoria. Mudou também alguns hábitos. Passou a ler notícias on-line; não vai ao banco pagar as contas, porque é usuária do bankline; tornou-se assídua nas redes sociais, sobretudo Facebook e WhatsApp; e passou a resolver tudo por meio do smartphone. Associadas, as mudanças colocam Maria José em sintonia com os jovens da geração millennial”.

A reportagem relata que Maria José do Nascimento diz que sua capacidade mental não mudou, o que reconhece que alterou foi seu físico, pois se sente mais cansada. Relata ainda que a mudança mais observada foi sobre seus hábitos, pois passou a usar “base na pele e lápis no olho apenas em eventos especiais, como aniversários. Antes era minha rotina”, mas que fazer as unhas é um hábito que permanece e outro que entrou foi a tintura no cabelo.

Tanto Santo Pedro quanto Maria José do Nascimento fazem parte dos idosos que a mídia chama de antenados, um grupo que cresceu cerca de 1.100% nos últimos oito anos e soma hoje 5,4 milhões de pessoas. Segundo a reportagem, esses dados são do Instituto Locomotiva, apontando que em 2018 a categoria movimentará R$ 1,1 trilhão, contra R$ 867 bilhões de 2017. Para o Instituto, trata-se da “única fatia da sociedade que continua expandindo gastos mesmo na crise”, declarou à imprensa o presidente da Locomotiva, Renato Meirelles.

Outra pesquisa, realizada pela Bradesco Vida e Previdência, indica que todos os entrevistados, de forma unânime, disseram ter uma vida muito ativa e que não trocariam o momento atual para voltar à juventude. É claro que a pesquisa abordou pessoas com níveis de escolaridade e situação econômica alta.

Mas a imensa maioria dos brasileiros não teve e não tem a oportunidade de muitos acessos e por isso se diz que o envelhecimento populacional será um desafio para o Brasil, que vai envelhecer antes de se tornar rico ou mais igualitário, como ocorreu na Alemanha e Japão.

A experiência dos idosos de hoje, de todos os estratos sociais, deve ser ouvida e levada em consideração ao se pensar em políticas e serviços para a população envelhecida de amanhã.

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Referências

Scrivano, Roberta. Como envelheceremos? Poder dos cabelos grisalhos revitalizará economia. In: Daqui a 20 anos, como viveremos? O que nos espera no futuro próximo. Revista Época online, publicado em 28/05/2018. Disponível em: https://epoca.globo.com/sociedade/noticia/2018/05/daqui-20-anos-como-viveremos.html

 

(*) Ivone Egidio Pedro Fuentes é Administratora de Empresas. Trabalha na Instituição Itaú S.A. Mercado de Capitais. Texto escrito para o curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, ministrado pelo Cogeae (PUC-SP), no primeiro semestre de 2018. E-mail: [email protected]

Foto de destaque de Thiago Barletta, Espanha

 

 

 

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