A contradição da artrose

A contradição da artrose

Se tenho artrose devo fazer exercício e aguentar a dor até melhorar? Não, o segredo é tirar a dor e depois fortalecer os músculos para proteger as articulações.


Nos textos passados abordamos o problema da osteoartrose e os impactos na qualidade de vida da pessoa idosa, na sua funcionalidade e a carga social envolvida com uma doença que se não tratada pode ser limitante. A artrose é a condição que muitas pessoas apontam como a “articulação que está gasta”.

No âmbito da saúde é comum o profissional se lembrar de um paciente que apresenta uma dor que tem há muitos meses, ou anos, que não foi resultado de um trauma recente, que foi se intensificando aos poucos, que piora ao se movimentar e melhora ao repouso. Em um quadro clínico como este a osteoartrose é a principal hipótese diagnóstica, apesar de não ser a única.

No momento que a pessoa apresenta tal condição, observamos que muitos pensam em algo que parece instintivo e racional, ou seja, “se tenho dor quando me movimento, logo devo me movimentar menos, pois as articulações que protegem o movimento estão desgastadas e vou ter dor”. Porém, o conceito de saúde – que a grande maioria das pessoas não tem conhecimento e em muitos momentos pode inicialmente aparentar ser uma contradição -, é que diante de um quadro de osteoartrose, não movimentar a articulação acometida piora com o passar do tempo os sintomas de dor.

Muitos pacientes neste momento se perguntam “mas doutor, se mexer dói, como mexer pode melhorar a dor?”. Explica-se: as articulações e cartilagens estão entre os tecidos menos vascularizados do nosso corpo e na vida adulta praticamente não apresentam capacidade de se regenerar. Desta maneira, devido à dificuldade de criar tecidos nas articulações a solução é fortalecer os músculos que as envolvem, de maneira que seja capaz de suportar o impacto e carga direcionado para a articulação.

Outro segredo do fortalecimento muscular é que a perda de peso sem perda muscular também diminui o impacto que as principais articulações do corpo, como joelho, quadril e coluna, precisam suportar.

Então, se tenho artrose devo fazer exercício e aguentar a dor até melhorar? Não é esta a resposta. O contínuo estímulo de dor de forma prolongada vai alterar a sensibilidade de dor no cérebro do paciente, de maneira que com o passar do tempo sentindo dor de forma contínua ele vai ficar cada vez mais resistente aos remédios para dor. Então, o segredo é primeiro tirar a dor e depois iniciar o fortalecimento dos músculos para proteger as articulações.

Neste quesito, o papel dos fisioterapeutas e educadores físicos é imprescindível, pois a eles cabem o papel de indicar e orientar como realizar exercícios de fortalecimento de forma que os músculos se desenvolvam sem que a articulação seja ainda mais desgastada.

A mensagem é que se temos uma pessoa idosa, ou não, com dor crônica que parece artrose, encaminhe para que a dor seja tratada, depois não a deixe parada e, sim, a encaminhe para que possa se exercitar, orientada pelos profissionais corretos.

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Referências
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Foto destaque de Ivan Samkov/pexels.


Davi Wei Ming Wang

Médico pela Universidade Federal de São Paulo. Residência em Clínica Médica na (Unifesp/EPM). Programa de Residência Médica, Pós na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP): Programa de Residência em Geriatria, junto ao Departamento de Clínica Médica. Médico voluntário do Proter (Programa Terceira Idade do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Médico assistente nos hospitais: Hospital Israelita Albert Einstein/ Hospital Sírio Libanês/ Associação Beneficente Síria - Hospital do Coração (HCOR). Atua com os seguintes temas: Promoção de saúde e envelhecimento saudável; Tratamento de dores crônicas associadas a condições osteodegenerativas; e Queixas de memória. Instagram: https://www.instagram.com/dr.daviwang/

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