Sinergia farmacológica é quando os medicamentos “se somam”, mas oremédio só faz bem quando a soma é de cuidados, não de riscos.
Em um país que envelhece rapidamente, o número de pessoas que usa vários medicamentos ao mesmo tempo cresce em ritmo ainda maior. O termo técnico para esse cenário é polifarmácia, mas existe outro conceito menos comentado — e igualmente importante — chamado sinergia farmacológica.
A sinergia farmacológica ocorre quando dois ou mais medicamentos interagem de forma a ampliar o efeito terapêutico ou adverso um do outro. Essa interação pode ser intencional e benéfica, como quando um médico associa fármacos para tratar a hipertensão, ou pode ser involuntária e perigosa, quando a combinação gera efeitos exagerados, como quedas, confusão mental ou até insuficiência renal.
Em pessoas idosas, essa linha é muito tênue, porque oorganismo da pessoa idosa reage diferente.
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O processo de envelhecimento modifica a forma como o corpo absorve, distribui, metaboliza e elimina os medicamentos. O fígado perde parte da capacidade de metabolização, os rins filtram mais lentamente, e o cérebro se torna mais sensível a depressores do sistema nervoso central.
O resultado é que o mesmo medicamento — na mesma dose — pode agir de maneira mais intensa e duradoura em uma pessoa idosa do que em um adulto jovem.
Agora imagine o que acontece quando esses medicamentos são usados em conjunto.
Quando a soma vira excesso
Alguns exemplos clássicos:
Ansiolítico + antidepressivo → a pessoa dorme mais, mas acorda confusa, desequilibrada e sujeita a quedas.
Antihipertensivo + diurético + betabloqueador → o controle da pressão melhora, mas a hipotensão e a fadiga podem limitar a autonomia.
Antiinflamatório + diurético + inibidor da ECA → a chamada “tríade nefrotóxica”, capaz de precipitar insuficiência renal aguda.
Cada combinação tem uma história, e cada pessoa idosa reage de forma única.
É por isso que o simples ato de revisar a farmacoterapia — com olhar clínico e individualizado — pode prevenir hospitalizações, quedas e até mortes evitáveis.
Um olhar necessário
O farmacêutico é o profissional que mais enxerga o conjunto. Ele consegue identificar duplicidades terapêuticas, reconhecer interações potencialmente perigosas e propor ajustes ou simplificações sem comprometer o tratamento.
Mais do que revisar nomes de remédios, ele revisa o sentido de cada medicamento dentro da vida do paciente.
Portanto, sinergia farmacológica não é um conceito distante — é o que acontece todos os dias nas prateleiras de uma farmácia ou no organizador de comprimidos de uma pessoa idosa.
Reconhecê-la é o primeiro passo para transformar a farmacoterapia em algo mais seguro, racional e humano.
O medicamento só faz bem quando a soma é de cuidados, não de riscos.
Foto de Kampus Production/pexels.
