Velhices

Stella Regina Pillar faz questão de que a grafia do seu nome esteja correta: “Por favor, com ‘s’ e dois ‘l’, é assim”, discorre sobre o momento que vive, alegrias e tristezas, a companhia de Madona, sua cachorrinha, e lamenta não poder viajar com frequência – não pela velhice, mas por dinheiro – e sentencia: “Na velhice, o que é bom é a paz e o sossego”.

Julia Florez e Ruth G. da Costa Lopes

 

velhiceA entrevista faz parte das atividades do curso de Psicologia da PUC-SP que oferece no sexto período o Estágio Básico II, no eixo de práticas profissionais e na modalidade pedagógica de prática. Trata-se de uma atividade prática voltada para o exercício de competências e habilidades psicológicas que favoreçam a compreensão e posterior atuação do psicólogo em realidades específicas. Tem como objetivo principal identificar fenômenos psicológicos em diversas situações da realidade e identificar o conhecimento da Psicologia que permita sua compreensão e delimitação de estratégias para a atuação na realidade.

Portal – Fale seus dados pessoais, por favor.

Stella – Estou com 68 anos, sou solteira, e meu nome completo é Stella Regina Pilar. Anotou? Não tenho filhos, somente a minha cachorrinha, a Madona, que tem cinco anos. Eu a ganhei quando tinha um ano, o nome já tinha sido dado, aí eu o mantive.

Portal – Você mora em São Paulo faz tempo?

Stella – Vai fazer 14 anos. Bastante tempo, né? De repente eu parei para pensar, bastante tempo.

Portal – Atualmente desenvolve alguma atividade?

Stella – Dou aula de inglês. Quando precisar pode me procurar, manda as colegas. Agora só particular, dou aqui, aqui na minha casa mesmo.

Portal – Formou-se na PUC?

Stella – Sim, e depois fiz pós-graduação na Inglaterra. Um ano lá. Comecei o pós aqui na PUC, tinha começado aqui, ganhei uma bolsa e fui para lá. Fiquei um ano dessa vez, mas já fui outras vezes.

Portal – Tinha amigos lá, família?

Stella – Não. Fui ficar na faculdade. Das outras vezes sempre fazendo curso, alguma coisa assim, curso de um mês, um mês e meio. Ai ganhei a bolsa e fui praticar.

Portal – Por que o inglês?

Stella – Na realidade, nem sei bem por que, sempre gostei de línguas, acho que o inglês tinha mais campo, um pouco por causa de um irmão também, mas eu gostava do inglês. Já me interessava em aprender.

Portal – Esse irmão fez línguas?

Stella – Não, ele é economista, não tem nada a ver. Fala inglês, fala espanhol. Aí, discutindo, me disse: então faz Letras. E eu fui, mas já estava inclinada.

Portal – E havia outros cursos que você estava pensando?

Stella – Não… Talvez Psicologia, mas acho que Letras era mais mesmo. Pensei que fosse aprender alemão, mas o meu grupo foi o primeiro do qual eles tinham tirado o alemão, a pedido dos próprios alunos. A minha licenciatura é português e inglês. Português, inglês e latim, na realidade. Cheguei a dar aulas de latim, mas muito poucas.

Portas – Continua a fazer cursos?

Stella – Quando acontece, né? Curso de um mês, palestra de alguém. Antes fazia muito, agora é quando dá na telha e interessa.

Portal – Onde morava antes?

Stella – Em São Paulo mesmo, mas não nesta casa, morava com a família.

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Portal – Seus pais são de São Paulo?

Stella – Eram sim. Quando fiquei sozinha na casa vim morar para cá. Quando minha mãe morreu. Enquanto morei com eles fiquei na casa que era da família. Depois vim para cá, vim procurar meu canto, fiquei lá sozinha uns dois anos ainda e depois vim para cá.

Portal – Quantos irmãos você tem?

Stella – Tive três, mas agora são só dois, um faleceu. Dois vivos, o mais novo faleceu.

Portal – Como considera a velhice? Considera-se velha?

Stella – Acho que estou entrando na faixa, mas não me considero assim, incapacitada para nada, entendeu? E tenho que tocar a minha vida sozinha, e isso não é pouco. Até pouco tempo eu tinha carro, hoje não tenho, então, tudo que faço é a pé, vou a pé para todo canto. Dei sorte que é um bairro bom. Tem tudo perto, quer dizer, não tenho ajuda, tenho que tocar tudo sozinha. Se for para ir à farmácia, banco, supermercado, médico, é tudo comigo mesmo. Mas aqui graças a Deus neste bairro… Em último caso, se precisar, chamo um táxi. Nessas alturas já me acostumei a não ter carro, mas faz falta.

Portal – O que aconteceu?

Stella – Roubaram o meu, aí não comprei outro. Roubaram aqui na minha porta, num domingo. Faz cinco anos que me roubaram o carro. Nessas alturas não dá mais, então vamos levando.

Portal – Tem namorado?

Stella – Hoje em dia nada, só amigas, mas nada além de dois minutos. Ah, é ela, chegou a minha amiga.

Portal – Como vê a saúde?

Stella – Saúde?! Olha, acho que estou bem, mas estou em um processo de voltar ao médico por causa talvez de uma cirurgia, mas não que esteja preocupada, graças a Deus tenho saúde.

Portal – O que é bom na velhice?

Stella – Paz e sossego. Na velhice acho que a gente tem que se preparar em questão de saúde, sabe? Eu me preocupo em não dar problema para os outros, apesar de me dar bem com a família. Você não quer depender de ninguém e isso preocupa. Quero conseguir morar do jeito que eu moro e levar enquanto as pernas derem, como eu digo. Tenho irmãos, mas cada um tem sua família, essas coisas. Sou próxima deles sim, mas cada um tem sua família, não posso interferir.

Portal – O que sonha de diferente em sua vida?

Stella – Diferente? Meu problema é financeiro. Ter um dinheirinho a mais para dar um jeitinho aqui na casa. E de repente, viajei muito já, poder fazer uma viagenzinha de vez em quando. Algumas vezes fui como bolsista, e muitas outras por minha conta.

Portal – Viajava sozinha?

Stella – Em geral com uma amiga, tinha uma amiga que eu viajava muito com ela. Ou se estava indo por outra razão, cursos, essas coisas, aproveitava para fazer um turismo. Já viajei com gente que conheci durante o curso e fui viajar, foi muito bom… Mas essas coisas já passaram, quer dizer, gostaria muito de poder viajar, mas há um problema financeiro, não é um problema de saúde, nem de velhice, nem de nada disso.

Portal – Além da aula de inglês, faz alguma outra atividade?

Stella – Hoje em dia não, fazia na igreja uns voluntariados, mas era aula também, aula de português. Mas acabou o grupo.

Portal – Como sua família vê essas atividades?

Stella – Acha ótimo, não tem nada a dizer, fui profissional, sou. Desde que resolvi que era línguas, o natural é que eu chegasse onde cheguei. Fui diretora da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, mas em Campinas.

Portal – Você me ajuda a dar um título para a entrevista?

Stella – Um título? Estamos conversando sobre velhice, não? Então, poderia ser esse mesmo o título, o que acha?

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