Velhices femininas e interseccionalidade

Velhices femininas e interseccionalidade

Como pautar a interseccionalidade, para que possamos aprofundar e conhecer quem são as mulheres que envelhecem na realidade desigual brasileira? 

Raquel da Silva Pavin (*)


Ao refletirmos sobre o envelhecimento feminino e as múltiplas formas de vivenciar a velhice, compreendemos as experiências que se atravessam dentre os eixos de opressão nas histórias de vida destas, considerando os distintos territórios, estereótipos e subordinação que intersectam essas vidas. Assim, a abordagem interseccional crítica – uma ferramenta analítica que permite compreender as especificidades que atravessam as velhices femininas -, localiza as diferenças identitárias, visualizando privilégios sociais e materiais.

Trata-se de uma ferramenta que busca evidenciar e questionar as multiplicidades sociais e culturais de uma sociedade tão complexa. 

Desta forma, a interseccionalidade visibiliza as opressões e desigualdades sociais vividas por indivíduos e grupos sociais que vivenciam processos de vulnerabilidade social, mas também permite que possamos, através destes pontos de intersecção, problematizarmos e criarmos respostas, formas de resistir, vias de enfrentamento e justiça social. 

A interseccionalidade discutida aqui permite entender como as categorias estão interligadas e se manifestam em distintos níveis de desigualdade social, considerando que estes não acontecem de forma isolada, mas tecem um sistema de opressão que resulta em múltiplas maneiras de discriminação e estereótipos.

De acordo com Nogueira (2017, p. 14), a categoria “interseccionalidade” nos permite, para além do entendimento teórico, respostas políticas e complementa que “a teoria da interseccionalidade tem sido a resposta teórica que tem surgido nos últimos anos dentro dos feminismos como resposta a estas questões de diversidade dentro do grupo das mulheres […]”.

Na obra de Carla Akotirene (2019, p. 38), “Interseccionalidade”, a estudiosa destaca que a categoria de análise permite que “feministas façam a crítica política a fim de compreender a fluidez das identidades subalternas impostas a preconceitos, subordinação de gênero, de classe e raça e as opressões estruturantes da matriz colonial moderna da qual saem”.

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Problematizar sobre as velhices femininas pressupõe a discussão sobre os pontos de intersecção “raça, classe e cidadania”. Uma vez que estes vão manifestar opressões vividas nesta fase da vida, é urgente a abordagem interseccional para um debate crítico sobre o feminismo em uma sociedade tão desigual.

Destaca-se a pauta trazida por Aquino (2017) em seu estudo, com ênfase sobre a urgente relação do envelhecimento humano, em especial de mulheres, pois, para ela, existe um “silenciamento do marcador geracional” (p. 6), o que dificulta o fomento de pesquisas e consequentemente ações governamentais. É necessário pautar a interseccionalidade, para que possamos aprofundar e conhecer quem são as mulheres que envelhecem na realidade brasileira. 

Referências
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019. 152 p. Coleção Feminismos Plurais/ Coord. Djamila Ribeiro.
AQUINO, Raisa Conceição Barbosa De. Geração, gênero, classe e raça: intersecção necessária. Anais V ENLAÇANDO… Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/31487>. Acesso em: 21 fev.2023.
NOGUEIRA, Conceição. Interseccionalidade e Psicologia Feminista. Salvador: Devires, 2017. 130 p.

(*) Raquel da Silva Pavin – Assistente Social, especialista em Envelhecimento e Qualidade de Vida, mestra em Políticas Sociais e Serviço Social, Doutoranda em Memória Social e Bens Culturais, Graduanda em Gerontologia. Estudiosa das velhices e autora do livro: “Mulheres idosas e o apoio social”. E-mail: [email protected]    Instagram: @geronidade.

Foto destaque de Mehmet Turgut Kirkgoz/pexels


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