O livro conta a história de Betty Halbreich que, aos 86 anos, é uma figura única no mundo da moda, comandando há quase quatro décadas o departamento de compras personalizadas – ou personal shopping, como Betty prefere não chamar – da loja Bergdorf Goodman, ícone do consumo de luxo na Quinta Avenida. Meticulosa, impecável e engraçada, Betty é conhecida por não ter medo de abrir o jogo com as clientes. Já vestiu desde uma primeira-dama dos Estados Unidos até personagens de séries como Sex and the City e Girls, além das próprias estilistas que abastecem suas araras.
Suely Tonarque *
O livro “Um brinde a isso, uma vida dedicada ao estilo”, de Betty Halbreich (1ª edição – Rio de Janeiro: Intrinseca, 2015) narra a trajetória de uma mulher que se apresenta frágil, escondendo em suas compras compulsivas para acompanhar seu marido, seu grupo das festas, onde em cada evento o visual girava em torno daquele que melhor trajava.
Na sinopse do livro, consta que Betty fala não só da tão atraente carreira, mas também do momento mais duro em que precisou se encarar no espelho: separada e com dois filhos, ela entrou em depressão e tentou o suicídio. Um emprego de vendedora na Bergdorf Goodman a ajudou a se reencontrar, porém seu talento para vestir os outros era inversamente proporcional à inclinação para as vendas. Realocada como personal shopper, Betty deu a volta por cima e levou junto inúmeras clientes que também se reencontraram com seus conselhos e exemplo. Combinando memórias de compras, moda e celebridades fashion – sem citar nomes – com capítulos intensos sobre sua vida pessoal, Betty mostra que o verdadeiro estilo de uma mulher não está impresso nos cortes, tecidos e etiquetas que ela veste, mas na história que ela tem para contar. E a história de Betty é inspiradora.
Sair do casulo
No decorrer da sua vida os acontecimentos modificaram a sua forma de se apresentar. Foi então preciso sair do casulo e ir em busca de uma nova estrada, a qual foi preenchida com a ajuda de seu analista. Paralelamente foi construindo uma profissão delicada e dedicada a deixar as pessoas mais elegantes – seja para casamentos, batizados, reuniões, cotidiano, produções para filmes, teatro, propagandas, entre outros. Todos, após conhecerem o talento de Betty faziam o vínculo e retornavam para um próximo evento, seja qual fosse.
Betty foi se descobrindo a cada atendimento, que até então era um pedaço desconhecido antes de iniciar esta tarefa, pois ainda não sabia de sua singularidade – “deixar os outros bem” (bonito!!!).
Ela iniciou no mercado de trabalho após sua separação e já com os filhos adultos. Hoje, com 86 anos, chega todos os dias na belíssima Bergdorf Gooldman (N.Y.) e caminha pelos andares em busca de peças (roupas) novas, refletindo como vai construir o seu dia, auxiliando as clientes que irá encontrar. Sempre com a agenda preenchida com o mesmo sabor da chegada da primavera.
É através da sua vitalidade que todos os dias ela reinventa o jogo de viver, gosta do que faz, sabe todos os códigos de segurança para entrar no estoque com sua memória brilhante.
-”Envelhecer é a única coisa que não combina” – “mas será que combina com alguém?” (lembra de sua mãe dizendo esta frase).
Para Betty (aos 86 anos), o envelhecimento chega e o seu brinde é a sua coragem de viver com paixão, acredita que o valor de ajudar uma pessoa levando ao médico, refletir sobre as questões do meio ambiente em um Congresso, estudar com seu filho, acompanhar uma amiga em uma separação, é tão importante quanto vestir alguém!!! Este é o brinde a tudo isso, este é um brinde ao ato de viver!!!
* Suely Aparecida Tonarque é Psicóloga e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP, com o tema “Velhice e Moda: Incursões históricas e realidade atual”, defendida em 2012. Email: [email protected]