O tempo todo o filme The Last Bus contrapõe recortes da vida do casal idoso Tom e Mary x recortes da vida do casal jovem. A história vai se revelando nesse vai e volta.
Timothy faz o papel de Tom. A maquiagem perfeita e a interpretação impecável nos levam a pensar que o ator tem 90 anos, mas Timothy tem 65, quem tem seus 90 é Tom, o protagonista que mesmo caindo aos pedaços encara a maior jornada da vida. O filme The Last Bus abre com um casal jovem (Tom e Mary) em um clima tenso. Ela pede para ele a levar para o lugar mais distante possível. Far, far, far away, como na fábula do ogro Shrek. O filme se passa na Grã-Bretanha, se fosse no Brasil Mary e Tom estariam no Oiapoque e se mudariam para o Chuí (ou Caburaí). Na Grã-Bretanha, eles se encontram em Land´s End, na Inglaterra, e se mudam para John O´Groats, na Escócia.
Se fôssemos traduzir livremente, diríamos que se mudam do fim do mundo para onde judas perdeu as botas. No extremo norte vivem sua vida sem jamais retornar ao seu local de origem porque Mary não deseja rever a terra que tanto ama. O filme, o tempo todo, vai contrapor recortes da vida do casal idoso x recortes da vida do casal jovem. Mary e Tom em dois tempos. A história vai se revelando nesse vai e volta.
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A jornada da volta começa com o falecimento de Mary. O velho Tom, já muito debilitado, diz que fará a viagem pelos dois. E de ônibus. Acontece que não existe um ônibus que faça o trajeto direto, mas Tom, com seu passe livre de idoso, subirá em quantos ônibus precisar para cumprir sua meta, só precisa encontrar forças e saúde para tanto.
Tem uma cena muito interessante dele deixando a cidade. Como está ali quase a vida toda, é conhecido por todos. Mas a beleza da cena está quando ele dobra a esquina, idoso, partindo, e o jovem casal dobra a esquina, chegando. Tem mil significados, escolha o seu.
Ele e sua malinha inseparável vão para o ponto de ônibus e começa a jornada. Percebam a sutileza. Os diretores, especialmente o de fotografia, fazem a festa. Enchem nossos olhos com belas paisagens. É o ônibus e mais nada. A cada trecho de viagem, uma história. Logo começam a surgir carros e em pouco tempo temos engarrafamentos. Os ônibus são os mais variados. E Tom e sua maleta não passam despercebidos.
Conformem as histórias se sucedem, um fenômeno acontece, pois o filme é de 2021, portanto, em plena era das redes sociais. O velho viraliza. Sua saga começa a ser seguida como se fosse um personagem de um reality. Tom não faz ideia, por isso, depois de rodar de ônibus – alguns trechos de carona – por 1.400km aproximadamente, ao chegar no fim do mundo (Land´s End) é recebido por uma multidão (umas 40 pessoas, que deve ser o número de moradores da cidade com acesso à internet).
Brincadeiras a parte, lá vai Tom, equilibrando-se sobre uma mureta de quebra-mar, ao local no qual ele e Mary costumavam namorar, para cumprir sua missão. Vale a pena fazer o tour pela Grã-Bretanha na companhia desse ator extraordinário e viver suas histórias virais com crianças bonitinhas e malcriadas, xenófobos, bêbados, loucos, desconsolados, intolerantes, ajustados, solidários…
Ufa, tem de tudo um pouco, e tem uma celebração de ucranianos que torna o filme atualíssimo, uma atitude bonita da parte deles se mostra fundamental para Tom vencer os muitos quilômetros que ainda tem pela frente. Vamos juntos?
Serviço
Filme: The Last Bus, 2021
País: United Kingdom
Ator principal: Timothy Spall
Direção: Gillies MacKinnon
Netflix
Fotos: divulgação
