Saúde humanizada com olhar gerontológico e interdisciplinar

Quem trabalha com saúde, de forma geral, e, em especial, no atendimento a pacientes crônicos, sabe das dificuldades de adesão aos tratamentos propostos.

Maria Lígia Mathias Pagenotto

 

Além do risco que isso significa ao paciente – a principal preocupação de quem lida com doentes com esta peculiaridade –, há, na irregularidade no cumprimento das orientações, uma geração de custos que poderiam muito bem ser evitados. Assim como também poderia ser evitada o estresse da família em gerenciar a saúde de um parente nessas condições.

Difícil conciliar tudo isso? Sem dúvida.

Mas, para uma dupla de enfermeiras, o desafio virou um negócio. Com espírito empreendedor, elas partiram para abrir uma empresa chamada O Bem Estar, com ênfase na promoção da saúde (www.obemestarsaude.com.br), um nome sugestivo, que resume um pouco a proposta da dupla.

Conheça a seguir um pouco da rotina de trabalho criada por Edna Gasques Loureiro e Eliana Farias Cruz, ambas mestres em gerontologia pela PUC-SP e sócias de O Bem Estar.

Portal do Envelhecimento – Expliquem um pouco como funciona o serviço criado por vocês.

Edna Loureiro – Somos enfermeiras de formação e trabalhamos juntas na UTI do Hospital Santa Catarina (SP). Foi lá que nos conhecemos. Isso foi há mais ou menos 15 anos. Eu atuava como visitadora de pacientes e, na época, uma empresa apostou no nosso trabalho e assumiu a operação da nossa atividade.

Eliana Cruz – Passamos então a prestar serviço para esta empresa de homecare, abrindo nossa própria empresa, a EEM Enfermagem S/C Ltda. Durante 13 anos gerenciamos a operação deles. Ou seja, saímos da UTI para nos dedicarmos só ao homecare.

Portal – Foi esta experiência que as motivou a irem fazer o mestrado em gerontologia?

Edna – Creio que sim. Entramos as duas no mestrado em 2003. Acho que essa vontade de estudar surgiu porque trabalhávamos com uma equipe multidisciplinar.

Eliana – Por conta de nossa formação profissional, sentíamos uma dificuldade grande para trabalhar em domicílios. É muito diferente atender numa casa e numa instituição hospitalar. Acho que fomos para o mestrado com a expectativa de buscar esta formação, este olhar interdisciplinar e multidisciplinar, e, assim, também contribuir para lidar com uma equipe que tem formação diversa.

Portal – Que avaliação fazem das equipes que trabalham atendendo pacientes em domicílios?

Edna – Acho que há de fato um despreparo muito grande ainda, uma deficiência na formação e no desenvolvimento de pessoal para este tipo de serviço.

Portal – O mestrado em gerontologia mudou esta perspectiva?

Eliana – Acho que nos auxiliou a entender melhor a dinâmica das equipes, suas problemáticas e diferenças. E também contribuiu para que pudéssemos preparar melhor os cuidadores que trabalham conosco. Foi fundamental neste sentido.

Portal – Este foi o tema trabalhado na dissertação de mestrado de vocês?

Edna – Eu escrevi sobre a integração dos enfermeiros na equipe multidisciplinar.

Eliana – Eu trabalhei olhando para as resistências dos familiares em aderir ao homecare.

Portal – Vocês sentem muita dificuldade?

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Eliana – Sem dúvida. Para as famílias que se vêem diante desta perspectiva, tudo é novo. Elas estão muito acostumadas com o hospital. O médico também estranha. O conceito de homecare é relativamente muito novo, tem cerca de 15 anos no Brasil mais ou menos. É preciso também trabalhar uma mudança na cultura médica.

Portal – Contem como chegaram a criar O Bem Estar.

Eliana – A empresa para a qual prestávamos serviço passou por algumas reformulações e foi vendida. Podíamos ter continuado lá, pois fizeram uma proposta para nós, mas resolvemos criar um projeto de gerenciamento de doenças crônicas, com foco na medicina preventiva.

Edna – Partimos do pressuposto de que os pacientes precisam se autoconhecer. O perfil do nosso cliente é aquele que já é portador de uma doença crônica ou aqueles indivíduos que tenham risco para desenvolver algum tipo de patologia com esta característica.

Portal – Como vocês trabalham?

Edna – Temos mais três sócios: Carlos Maranho, diretor comercial, que conhece bem como as operadoras gerenciam as doenças crônicas; e os médicos Márcio Gerzely e Alexandre Parreira.

Eliana – Nos definimos como uma empresa de medicina preventiva. E temos como missão otimizar para nossos clientes os custos com a saúde, promovendo a mudança de hábitos de vida dos usuários e suas redes de apoio.

Portal – Como vocês conseguem cumprir o que se propõem?

Edna – Trabalhamos com informação, educação e incentivo ao autocuidado. Isso traz benefícios claros aos pacientes, mas também otimiza os custos para as operadoras.

Eliana – As operadoras encaminham para nós o paciente com doença crônica ou com risco para desenvolvê-la. E nós fazemos um trabalho presencial e multidisciplinar em domicílio. Informamos o que é a doença, falamos sobre a importância de seguir as orientações médicas e como se controlar para evitar problemas.

Portal – Quais são as patologias mais frequentes com as quais vocês trabalham?

Edna – Diabetes, DPOC, asma, doença de Alzheimer, Parkinson, hipertensão. Acho que essas são as mais prevalentes. Também temos um sistema desenvolvido por nós para analisar todos os dados que possuímos. Queremos entender como este grupo evolui, para ver de que forma podemos atendê-lo melhor. Só em gerenciamento temos hoje cerca de 4 mil pacientes. Contando com outros serviços que prestamos, trabalhamos com 20 mil vidas.

Portal – Quais são esses outros produtos e serviços que vocês disponibilizam?

Eliana – Temos um serviço de orientação médica por telefone, um serviço que funciona 24 horas por dia. Médicos ficam à disposição dos nossos clientes, tirando dúvidas e orientando em casos de emergência.

Portal – Falem um pouco sobre a criação do Centro de Pesquisa.

Edna – Estamos trabalhando em parceria com o OLHE (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento) e com a PUC-SP por meio de dois grupos de pesquisa certificados pelo CNPq e vinculados ao Pós em Gerontologia, no sentido de desenvolver pesquisas a partir do nosso extenso banco de dados.

Eliana – Temos material para trabalhar com aspectos médicos e econômicos relacionados a esses pacientes crônicos. É um banco de dados realmente muito rico e interessante, formado por pessoas da classe média, em que temos a possibilidade de ver como esses pacientes evoluem. Com esse material, também podemos partir para a criação de cursos específicos, que atendam a demandas detectadas. Também pensamos em criar eventos, produzir artigos e auxiliar na formulação de políticas de saúde.

Portal – Há um campo bem extenso de trabalho.

Edna – Sem dúvida. O mundo está envelhecendo muito rapidamente e o Brasil, em especial, precisa se preparar para essa realidade. Ter um novo olhar, dentro da saúde, para a prevenção, é fundamental. A equipe e o paciente idoso precisam ter essa cultura, assim como é preciso também modificar a cultura de quem tem um paciente com doença crônica na família.

Eliana – O paciente com problemas crônicos precisa se enxergar dessa forma. E ele, com a família, precisa ter claro que tem de fazer a sua parte. Só ir ao médico não basta. Acreditamos que O Bem Estar é uma ferramenta importante no sentido de modificar este olhar.

Para saber mais, acesse aqui ou ligue no telefone (11) 3125-5240.

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