Paciente segura um “robô pessoal”, uma foca bebê que reage ao toque e ajuda pessoas com demência em um asilo militar em Washington. O surgimento dessas máquinas em asilos, escolas e salas de estar vem dando combustível às fantasias de ficção científica sobre máquinas com as quais as pessoas podem se relacionar(Stephen Crowley/The New York Times)
Amy Harmon *
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Nada que Eileen Oldaker fizesse acalmava sua mãe, quando esta lhe ligou do asilo, desorientada e aflita, na fase inicial de demência senil. Então Oldaker desligou, ligou para a sala das enfermeiras e suplicou que elas levassem Paro para sua mãe. Paro é um robô na forma de bebê foca. Mexe as patinhas e faz barulhos se é acariciado, abre os olhos se ouve ruídos e choraminga se é segurado de cabeça para baixo.
Microprocessadores sob o pelo ajustam seu comportamento com base em dados transmitidos por sensores de som, temperatura e toque. Paro se anima se ouve seu nome ou é elogiado e, com o tempo, reage a palavras que ouve com frequência.
“Oh, é meu bebê”, exclamou a mãe de Oldaker, Millie Lesek, quando uma funcionária lhe entregou a foca. Paro é um entre um punhado de robôs que assumem formas às vezes esdrúxulas e primitivas, mas que, ao menos para alguns de seus primeiros usuários, se mostram cativantes.
Máquinas parceiras
Construir uma máquina que satisfaça a necessidade humana de companheirismo tem se mostrado difícil. Mesmo assim, alguns aparelhos aproveitam a ternura inata que muitas pessoas têm por objetos que parecem sentir -ou que precisam de alguém que cuide deles. O surgimento dessas máquinas em asilos, escolas e salas de estar vem dando combustível às fantasias de ficção científica sobre máquinas com as quais as pessoas podem se relacionar. Similar à terapia com animais de estimação, Paro pode ajudar pacientes alérgicos, ou mesmo os que não o são. Ele não precisa ser alimentado, não morde e, em alguns casos, pode ser uma alternativa à medicação.
Mas alguns críticos veem esse uso de robôs como indicativo do status baixo dos idosos, especialmente dos que sofrem de demência.
A psicóloga Sherry Turkle, do Instituto Massachusetts de Tecnologia, diz que vai se tornar cada vez mais tentador substituir a presença de um familiar, ou amigo real por Paro ou outro robô. ”É apenas o começo”, disse ela. “E depois? Por que não um robô que lê histórias para seu filho? No final, quais de nós vão merecer pessoas de verdade?”
De acordo com Takanori Shibata, o inventor de Paro, parte da atração da foquinha se deve a um truque robótico. Como a tecnologia não era suficiente para imitar com precisão um animal específico, Shibata escolheu um com o qual poucos têm familiaridade. “Elas pensam em Paro como um animal vivo”, disse.
Fonte: Do “New York Times”, Tradução de Clara Allain, Folha de S.Paulo – Saúde, 06/7/2010. Disponível Aqui