Uma das explicações para a redução do risco de demência está relacionada às mudanças no estilo de vida e nos determinantes sociais da saúde ao longo das gerações.
Gabriela dos Santos e Thais Bento Lima da Silva (*)
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Estima-se que mais de 57 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com algum tipo de demência, sendo aproximadamente 2,5 milhões no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2023), esse número pode ultrapassar os 150 milhões até 2050, gerando impacto crescente dessa condição sobre os sistemas de saúde globais.
Apesar desse cenário, algumas evidências sugerem uma redução gradual no risco de desenvolvimento da condição entre as novas gerações, conforme publicado por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália. No estudo realizado, foram analisados dados de grandes pesquisas voltadas ao envelhecimento: Health and Retirement Study (HRS), de 1994 a 2021 (Estados Unidos); Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe (SHARE), de 2004 a 2020 (alguns países da Europa); e English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), de 2002 a 2019 (Inglaterra).
A pesquisa contou com dados de mais de 62 mil pessoas com idade igual ou superior a 71 anos e o objetivo foi identificar se pessoas de gerações mais recentes apresentavam menor prevalência de demência do que aquelas de gerações anteriores, quando comparadas na mesma faixa etária. Os resultados revelaram uma tendência de redução do risco de demência entre as gerações mais recentes.
Nos Estados Unidos, por exemplo, entre pessoas com 81 a 85 anos, a prevalência de demência foi de 25,1% entre os nascidos entre 1890 e 1913, caindo para 15,5% entre os nascidos entre 1939 e 1943. Na Europa, essa proporção caiu de 30,2% para 15,2%, e na Inglaterra, de 15,9% para 14,9%, na mesma comparação etária entre diferentes gerações.
Um aspecto importante a ser destacado refere-se à redução mais acentuada da prevalência entre as mulheres. Para aquelas nascidas entre 1944 e 1948, a diminuição na prevalência de demência, em comparação com as mulheres nascidas entre 1919 e 1923, foi de −0,58 ponto percentual nos Estados Unidos, −1,50 na Europa e −0,76 na Inglaterra. Entre os homens, embora a tendência de queda também tenha sido observada nos Estados Unidos e na Europa, os resultados encontrados para a Inglaterra não apresentaram significância estatística.
Uma das explicações para esse fenômeno está relacionada às possíveis mudanças no estilo de vida e nos determinantes sociais da saúde ao longo das gerações. Embora a idade continue sendo um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de demências, outros aspectos, como o maior acesso à educação, as melhorias na nutrição e no saneamento básico, os avanços nos cuidados de saúde e o controle mais eficaz das doenças cardiovasculares ao longo da vida, também podem contribuir para essa redução.
Os resultados deste estudo reforçam a necessidade do investimento em políticas públicas nas áreas de saúde, educação e suporte social, além de ações coletivas e individuais para o fortalecimento de uma cultura de um estilo de vida ativo. Desse modo, embora as projeções de casos de demência sejam significativas, acredita-se que é possível reduzir o número de casos nas próximas gerações.
Referências
ALZHEIMER’S DISEASE INTERNATIONAL (ADI). Dementia statistics. Londres, 2023. Disponível em: https://www.alzint.org/about/dementia-facts-figures/dementia-statistics/. Acesso em: 5 jun. 2025.
DOU, Xiaoxue et al. Generational Differences in Age-Specific Dementia Prevalence Rates. JAMA Network Open, v. 8, n. 6, p. e2513384, 2025. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2819074. Acesso em: 5 jun. 2025.
PODER360. Risco de demência é menor em novas gerações, diz estudo. Poder360, Brasília, 3 jun. 2025. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-saude/risco-de-demencia-e-menor-em-novas-geracoes-diz-estudo/. Acesso em: 5 jun. 2025.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Dementia. Genebra, 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia. Acesso em: 5 jun. 2025.
(*) Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas. E-mail: santosgabriela084@gmail.com
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH- USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: thaisbento@usp.br
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