Para os idosos, a doença renal crônica é vista como uma das piores e mais sofridas doenças, pois após os rins pararem de funcionar, o paciente necessita realizar o processo de hemodiálise. O processo permite a remoção das toxinas e o excesso de água do organismo, a partir da filtragem do sangue em um rim artificial por meio de uma máquina, o que é feito três vezes por semana, com duração de quatro horas cada sessão. É nesse momento que eles buscam a religião como forma de estratégia, conforto ou fonte de esperança.
Estudo realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP que investigou o Bem-Estar Espiritual e a Religiosidade de idosos em tratamento hemodialítico, aponta que essas pessoas encontram na religiosidade características positivas para lidar com situações que a doença gera. A crença também traz qualidade de vida e alívio durante o tratamento hemodialítico, revela o estudo.
A pesquisa foi feita pela enfermeira Calíope Pilger, na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e teve como objetivo analisar a relação entre o bem-estar espiritual, a religiosidade, o enfrentamento religioso e espiritual, as variáveis sociodemográficas, econômicas e de saúde, com a qualidade de vida de idosos que se encontram em tratamento.
Os idosos que realizam hemodiálise precisam se adaptar a um novo estilo de vida que a doença renal crônica lhes impõem. Nessa nova vida, diz a pesquisadora, eles se deparam com o uso contínuo de medicações, mudança nos hábitos alimentares, o enfrentamento da dependência de outras pessoas, de aparelhos para adaptações à nova realidade da sua vida, e isto pode levá-los a depressão, problemas emocionais e existenciais.
Nesse sentido, a religião é utilizada pelos pacientes como enfrentamento para as situações estressantes da vida, segundo Calíope. “Eles usam a fé como uma forma de auxiliar as consequências emocionais negativas que vieram depois da doença, ou então dos momentos difíceis que precisam vivenciar”.
Para os idosos, algumas questões são apontadas como importantes dentro da religião, como estar conectado com Deus, o encontro com pessoas nas igrejas, ou templos religiosos. Com isso, relatam, dividem a mesma crença, a realização de ações sociais, como grupos de oração, visita aos doentes e a fé, que auxilia nas dificuldades que a vida impõe.
Dos 169 idosos questionados, 125 eram do sexo masculino, e 44 do sexo feminino, com idade entre 60 e 99 anos. Do total, 104 fazem parte da religião católica, 35 da religião evangélica, 15 da religião espírita e uma da budista. Os demais não possuem religião.
Para obter os resultados da pesquisa, Calíope utilizou alguns métodos, entre eles, o Índice de Religiosidade de Duke, que mensura três das principais dimensões do envolvimento religioso relacionadas a desfechos em saúde: Religiosidade Organizacional (RO), que é a frequência a encontros religiosos; Religiosidade Não Organizacional (RNO), frequência de atividades religiosas privadas; e a Religiosidade Intrínseca (RI), que refere-se a busca de internalização e vivência plena da religiosidade como principal objetivo do indivíduo.
Mulheres se apegam mais a religião O estudo constatou que as mulheres apresentaram maior RO, RNO e RI quando comparadas aos homens. Os idosos com até 80 anos de idade apresentaram maior RO, porém, os com 80 anos ou mais apresentaram maior RNO e RI. Alguns índices indicaram que quanto maior a idade e o número de comorbidades, menores a RO, outro dado é que quanto maior o tempo de tratamento hemodialítico maior a religiosidade.
Segundo a pesquisadora, os idosos afirmaram que, a doença renal crônica é vista como uma das piores e mais sofridas doenças, pois após os rins pararem de funcionar, o paciente necessita realizar o processo de hemodiálise. O processo permite a remoção das toxinas e o excesso de água do organismo, a partir da filtragem do sangue em um rim artificial por meio de uma máquina, o que é feito três vezes por semana, com duração de quatro horas cada sessão. “O tratamento hemodialítico promove o equilíbrio do corpo e mantém a vida”, diz Calíope.
É nesse momento que os pacientes buscam e religião, diz a pesquisadora, como forma de estratégia, conforto, ou, fonte de esperança para enfrentar a situação em que se encontram. Para ela tal prática é importante, uma vez que ajuda a administrarem o seu dia a dia.
“Percebo a importância da religião como suporte social, pois é uma forma de o idoso se socializar; mas muito importante também é a esperança, o conforto que a crença em algo Superior proporciona a saúde física, mental e social. Além de representar uma estratégia de enfrentamento de situações estressantes”, afirma ela.
Calíope lembra que diferente de pessoas em outras fases da vida, os idosos possuem suas singularidades e especificidades, seja nas dimensões físicas, sociais, emocionais e espirituais. “Na parte espiritual, as particularidades dos idosos estão relacionadas às questões existenciais, e a busca pela cura e conforto.
A tese Estudo correlacional entre bem-estar espiritual, religiosidade, enfrentamento religioso e espiritual e qualidade de vida de idosos em tratamento hemodialítico, foi defendida em maio último, com orientação da professora Luciana Kusumota.
(*)Raquel Duarte, da Assessoria de Comunicação da EERP, [email protected]. https://www.usp.br/agen/?p=222680