Que tal conhecer boas práticas na área da saúde no campo do envelhecimento?

Que tal conhecer boas práticas na área da saúde no campo do envelhecimento?

Estabelecimento de novos arranjos institucionais e novas perspectivas sobre o envelhecimento.


Mapeamento de Experiências Exitosas Estaduais e Municipais no campo do Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa é uma iniciativa que integra, desde 2013, a agenda anual da Coordenação de Saúde da Pessoa Idosa (COSAPI/DAPES/SAS) do Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz).

Seu objetivo é conhecer e dar visibilidade a boas práticas de municípios e estados no campo da saúde da pessoa idosa. Com isso, espera-se incentivar os gestores a fomentarem estratégias e ações que contribuam para qualificar o cuidado à pessoa idosa no Sistema Único de Saúde (SUS), qualificando assim a atuação no campo do envelhecimento.

O processo inicia-se com uma ampla divulgação da COSAPI/MS do edital com as regras da iniciativa (Mapeamento de Experiências Exitosas Estaduais e Municipais no campo do Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa), critérios de seleção e cronograma. A partir disso, são abertas as inscrições para gestores estaduais e municipais cadastrarem suas iniciativas em um formulário on-line. As experiências inscritas são avaliadas por um comitê composto por especialistas em saúde da pessoa idosa, gestores e controle social.  Após a avaliação, são divulgadas 14 experiências selecionadas.

Os critérios utilizados para avaliar e reconhecer as 14 melhores práticas de cada ano são:
1. Alinhamento com princípios e diretrizes do SUS, com a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e as diretrizes para organização da Rede de Atenção à Saúde;
2. Caráter inovador;
3. Reprodutibilidade em outras realidades; e
4. Relevância dos resultados.

Desde 2013, a premiação de boas práticas no campo do envelhecimento tem recebido anualmente mais de cem experiências concorrentes das 5 regiões do país. Grande parte das iniciativas inscritas envolvem práticas de promoção da saúde, estabelecimento de novos arranjos institucionais e novas perspectivas sobre o envelhecimento. A mostra reflete o SUS que dá certo, e o esforço de trabalhadores e gestores comprometidos com a garantia do direito à saúde da população idosa brasileira.

A seguir apresentamos uma prática exitosa, de Sergipe, cujo conhecimento e capacitação da equipe se mostra fundamental para a boa prática no campo do envelhecimento.

Introdução de Cuidados Paliativos na Atenção Básica de Aracaju/SE

Por Rosely Anacleto de Jesus Morais de Almeida

Em 2020, uma das práticas de promoção de saúde reconhecida foi a “Introdução de Cuidados Paliativos na Atenção Básica de Aracaju/SE”, dirigido a pessoas idosas acamadas ou com mobilidade reduzida, com incontinência orgânica, quadro de adoecimento crônico avançado e prognóstico irreversível, usuárias de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), da Secretaria Municipal de Saúde de Sergipe, situada na área urbana mais privilegiada da capital, com uma alta concentração de pessoas idosas, algumas ativas e vigorosas e outras mais frágeis e com a funcionalidade globalmente comprometida.

Os objetivos dessa prática consistiam em:

1) Aliviar a dor e o sofrimento de familiares e pessoas diagnosticadas com doenças ameaçadoras da vida (neoplasias, demências, parkinson, falências orgânicas, doenças raras e congênitas);

2) Romper com a conspiração do silêncio existente entre profissionais e familiares/usuários sobre a morte e o morrer;

3) Realizar roda de conversa entre cuidadores (formais e informais) para troca de saberes, experiências e partilha de dores invisibilizadas;

4) Validar os Cuidados Paliativos como uma das ações recentemente introduzidas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB/17);

5) Adotar escalas multiprofissionais e preditivas da evolução natural da doença, para qualificação do cuidado em saúde contemplando as múltiplas dimensões da pessoa idosa;

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

6) Prevenir lutos complexos que demandam outro nível de assistência;

7) Evitar a interrupção de concessão das fraldas.

Essa prática envolveu as seguintes atividades

Inicialmente os usuários por serem acamados, recebiam visitas médicas, momento em que se iniciava o preenchimento do formulário padronizado pela Secretaria Municipal de Saúde para acesso a fraldas e insumos cirúrgicos (gaze, óleo de girassol, medicamentos específicos etc). Na sequência, procuravam o Serviço Social da UBS para realização da avaliação social. Na ocasião a UBS estava em fase de migração dos prontuários físicos para os eletrônicos, o que facilitou a compreensão da equipe multidisciplinar sobre a integralidade da assistência e reduziu a fragmentação do cuidado. Na consulta social, depois da realização de uma pós-graduação em Cuidados Paliativos e vários cursos promovidos pela UNASUS e outras entidades sobre Envelhecimento e também sobre Comunicação de Notícias Difíceis/ Comunicação Não Violenta, passamos a adotar uma escuta mais sensível e compassiva, primando pela biografia e o legado da pessoa enferma e que transitava para sua finitude.

Nas entrevistas com familiares (no consultório ou nos domicílios), eram aplicadas as escalas apropriadas (PPS, KPS, FAST, ZARIT, conforme o caso), colhidas informações dos próprios usuários e familiares sobre expectativas prognósticas e desejos finais. Eram também realizadas orientações sobre Diretivas Antecipadas de Vontade (documento que corresponde a um plano de cuidados, sintonizados com os valores, crenças e desejos do usuário) em plena conformidade com o Art. 17 do Estatuto da Pessoa Idosa (Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável).

Sem nenhuma intenção de romantizar momentos difíceis nem criar expectativas irreais, nesse primeiro momento e de forma mais intimista, conversávamos sobre direitos, implicações éticas, limites judiciais, além das potencialidades e barreiras institucionais da Rede de Atenção à Saúde, notadamente do SUS. Diante da elevada demanda, passamos a sensibilizar os demais profissionais que foram aderindo à proposta e aos pouquinhos, se interessando para discutir suas respectivas condutas à luz dessa nova abordagem.

Os atendimentos domiciliares eram realizados segundo o protocolo municipal, mas sempre que possível, com uma abordagem mais humanizada e tecnicamente preparada para lidar com a morte, entendendo-a como parte integrante da própria vida. Sempre que os cuidadores apresentavam fadiga por compaixão, eram encaminhados, caso desejassem, para acompanhamento psicológico e/ou práticas integrativas complementares (Reik, massoterapia e florais), exercida por profissionais da própria equipe. Fazíamos também assistência pós-óbito às famílias enlutadas.

Quando possível, lançávamos mãos de um grupo de convivência da UBS chamado “De Bem com a Vida” para reforçar a rede de apoio, que em muitos casos, era insuficiente. O ponto de culminância eram os encontros nos “Chá Paliativo”, mediante divulgação do banner que ficava na recepção, além da divulgação feita diretamente pelos profissionais.

Não havia obrigatoriedade para participação, pois a equipe estava ciente do cansaço extenuante de muitos cuidadores. A participação era facultada, mas na última terça-feira de cada mês, no período vespertino, a equipe (excetuando-se a médica), bloqueava as respectivas agendas para participar. De início era servido um Chá de Cidreira (natural e fresquinha), colhida pela manhã do quintal de D. Heloísa (uma das zeladoras). O chá possui efeito termogênico e funcionava como um calmante natural. Às vezes fazíamos oficinas de funcionalidade, para iniciar o diálogo e “quebrar o gelo”. Porém, nessas oficinas, quem assumia o protagonismo eram os cuidadores/ familiares, nos apresentando uma síntese da biografia de seu ente querido: “quem era e como está!”.

O direito de fala nunca era cerceado e a equipe se colocava mais na condição de “escutadores” do que tradicionalmente de “oradores”. Ao fim, era comum encerrarmos com uma música, poesia ou algum ritual religioso (oração, reza), a pedido dos presentes. Sempre que possível, a fralda também era disponibilizada no mesmo dia para evitar as múltiplas saídas dos cuidadores por situações que pudessem ser resolvidas na hora. No final do ano de 2019, aproveitamos a expressão “fim de ano” para discutir nossa finitude e realizar a confraternização das famílias paliadas com muitos depoimentos emocionantes sobre nossas intervenções.

Resultados
Abordagem mais humanizada e redução de práticas de distanásia por alguns profissionais de saúde, após discussão do caso com a equipe e sobretudo com usuários/familiares. Cumprimento, na medida do possível, do Art. 17 do Estatuto da Pessoa Idosa, diminuindo o protagonismo dos profissionais e promovendo o protagonismo da pessoa idosa, principalmente quando esta transitava para sua terminalidade e se encontrava muitas vezes dependente de decisões alheias; Redução do sofrimento psíquico de familiares e cuidadores formais; Mediação de conflitos relacionados à intolerância religiosa quando havia diversidade de credos religiosos na própria família; Divulgação sobre a existência da Diretiva Antecipada de Vontade, documento que nenhum usuário/ familiar/ cuidador tinha conhecimento. Maior integração entre a equipe pioneira (que não é mais a mesma, devido à transferência compulsória).

Fonte: Fiocruz/Saúde da Pessoa Idosa

Foto de Kampus Production/pexels.


banner sobre curso de envelhecimento
Portal do Envelhecimento

Compartilhe:

Avatar do Autor

Portal do Envelhecimento

Portal do Envelhecimento escreveu 4301 posts

Veja todos os posts de Portal do Envelhecimento
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS