Uma população envelhecida é uma realidade que propõe desafios para a sociedade, mas também oportunidades únicas para estudantes e graduados, que podem desde já irem se informando sobre as necessidades específicas de idosos, escolhendo cursos na área da gerontologia. Poderá ser um plano de carreira particularmente gratificante que você não tenha, talvez, considerado até então.
Libby Page *
Não tem como escapar do fato de estarmos envelhecendo. No Reino Unido existem mais de 10 milhões de pessoas com mais de 65 anos, e em 2050 esse número possivelmente terá subido para 19 milhões, segundo os últimos dados divulgados pelo governo.
Tanto no Reino Unido quanto em países desenvolvidos do mundo, uma população envelhecida é a nova realidade. Uma realidade que propõe desafios para a sociedade, mas também oportunidades únicas para estudantes e graduados.
Ocorre que há um problema de imagem em torno do trabalho com idosos. Isto é, trabalhar com idosos não é algo que estudantes necessariamente pensam como plano de carreira. No entanto, se você estiver procurando uma carreira gratificante em um campo crescente, vale a pena se interessar pelo envelhecimento da população.
“Envelhecimento é parte integrante de tudo na sociedade”, diz o Dr. Paul Nash, diretor do programa de pós-graduação em estudos de envelhecimento na Universidade de Swansea. “Se você quiser fazer algo importante para a sociedade pode fazê-lo diretamente através do trabalho com os adultos mais velhos, ou indiretamente, por meio de políticas que mudem os estereótipos existentes atualmente. Também de forma inovadora, através da concepção de produtos que as pessoas mais velhas realmente desejam e que atendam às necessidades de uma base consumidora mais envelhecida.”
Uma série de cursos de pós-graduação em gerontologia, ou estudos de envelhecimento, ensinam os alunos sobre implicações sociais e políticas de uma população envelhecida, bem como módulos de atualização que trabalham diretamente com idosos.
O trabalho de saúde social provavelmente tem a ligação mais óbvia para trabalhar com idosos e assim impactar suas vidas. Mas se especializar em medicina geriátrica pode não ter sido o que você imaginou quando sonhou em se tornar médico(a) ou enfermeiro(a).
O professor de medicina geriátrica na Universidade de Glasgow, Dr. Terry Quinn, diz: “Houve um problema de relações públicas no passado. Cuidados geriátricos e cuidados de idosos não têm sido tão excitantes ou sexy. Não são trabalhos de cardiologia ou cuidados intensos ou as coisas que se vê na TV que fazem com que as pessoas fiquem seduzidas em relação a cuidados com saúde. Na verdade, o que é muito gratificante é a realidade contemporânea de cuidados com saúde. A maioria das pessoas que recebe tais cuidados hoje são idosos.”
Enquanto a população envelhece há a necessidade cada vez maior de graduados ou profissionais com conhecimento gerontológico com a habilidade de lidar com doenças que afetam particularmente os idosos, como a demência.
Ian McMillan, chefe da divisão de terapia ocupacional e artes terapêuticas da Universidade Queen Margaret, assinala que “À medida que a demência se torna mais prevalente na sociedade, é fundamental que a gente garanta que nossos graduados de cuidados com saúde compreendam melhor as necessidades específicas das pessoas com demência, seus cuidadores e suas famílias”.
Plano de carreira na área do envelhecimento
Estudantes e profissionais podem ir desde já se informando sobre as necessidades específicas de idosos, escolhendo cursos de graduação, especialização em gerontologia e geriatria ou mestrado em gerontologia, a fim de se preparar para uma realidade cada vez mais presente em nosso cotidiano. Poderá ser um plano de carreira particularmente gratificante que você não tenha, talvez, considerado até então.
“Se você é um cardiologista, foca apenas em uma coisa, mas como um especialista em gerontologia e geriatria você está potencialmente olhando para uma séria de processos”, diz Quinn que, segundo ele, “Essa variedade torna-se uma tarefa intelectualmente estimulante e interessante.”
Dra. Jenni Harrison está em seu quarto ano de formação médica de pós-graduação na Universidade de Leciester, especializando-se em cuidados com idosos. Para ela, “Medicina geriátrica não atrai as pessoas como algo que gostariam de fazer. Mas é, potencialmente, uma carreira muito gratificante em medicina.”
Ela acrescenta, “Gosto de falar com famílias de pacientes e da abordagem holística: garantindo que o paciente tenha ajuda suficiente em casa e que seus problemas gerais sejam analisados. Isso me faz sentir como se tivesse montado algo que ajudará as coisas no futuro.”
Há muita demanda por especialistas geriatras, diz Harrison, e pode revelar-se um plano de carreira flexível, com a oportunidade para trabalhar na comunidade, em hospitais e trabalhos de pesquisa médica.
Uma licenciatura em assistência social poderia também levá-lo a se especializar no tratamento de idosos. Dominique Brady está atualmente fazendo um mestrado em trabalho social na Universidade de Middlesex, e diz: “Às vezes as pessoas pensam que trabalhar com idosos apenas envolve as necessidades básicas e cuidados sociais, e que é menos criativo, menos flexível, menos desafiador e menos gratificante do que trabalhar com pessoas mais jovens. Não acho que isso seja verdade. Trabalhar com idosos pode ser incrivelmente desafiador, mas também incrivelmente satisfatório.”
Brady espera trabalhar em uma equipe do hospital ou em alguma unidade de saúde municipal após se formar. “Eu valorizo muito a experiência de vida que idosos têm – você pode obter um lote de conhecimento ao trabalhar com eles. Acho também que é um grupo muito marginalizado em nossa sociedade, suas vozes podem muitas vezes não ser ouvidas. Precisamos de pessoas para advogar e trabalhar com eles porque estão marginalizados na sociedade, mas também são muito valiosos.”
No Reino Unido existem muitas instituições de caridade dedicadas aos problemas que afetam os idosos e o diploma correto pode levar o estudante ou profissional em direção a um trabalho muito significante nessa área. Marcus Green fez um doutorado em estatísticas sociais e gerontologia, e agora ele trabalha para a Age UK, gerenciando a equipe de pesquisa econômica e social.
Segundo ele, “Nós fazemos pesquisas que possam informar a nossa política, posições e declarações sobre questões específicas que afetam as pessoas mais velhas, como as prestação de assistência social e do sistema de assistência social. Precisamos fazer mais para apoiar os idosos para que eles, por exemplo, trabalhem por mais tempo, mas com o apoio certo para fazer isso. Precisamos de bons cérebros e inovadores.”
Então, se você estiver interessado em realizar este tipo de pesquisa, qual tipo de diploma pode ser relevante?, pergunta Green, acrescentando que “Qualquer diploma de ciências sociais seria muito aplicável para este tipo de área. Se você tem experiência com política também sabe um pouco mais sobre o comportamento do governo e as políticas específicas que afetam os idosos.”
Há outras vantagens em trabalhar com um campo em crescimento no Reino Unido. Segundo Green, “é bastante gratificante em termos de salário porque esta é uma área em crescimento, então tende a ter mais investimento e fundos disponíveis.”
Uma carreira de investigação dos problemas enfrentados por idosos pode impactar diretamente a política e, portanto, a vida das pessoas, mas há também implicações de negócio social de uma população mais velha e os alunos mais experientes poderiam pensar no “mercado cinza” como uma área interessante para o crescimento e inovação.
Athina Vlachantoni, uma professora de gerontologia na Universidade de Southampton, assinla que “Cada vez mais os serviços e produtos que são desenvolvidos terão que levar em conta as pessoas mais velhas. Estou com 30 anos agora, mas quando eu estiver 60, uma em cada três pessoas ao redor do mundo será uma idosa com mais de 70 anos. Você tem que mudar a maneira de pensar em relação a tudo, desde cafeterias e restaurantes até produtos.”
Se preparar para uma carreira que leva em conta o envelhecimento da população exige uma mudança de atitude mais do que qualquer outra coisa. Como um estudante de engenharia ou arquitetura pode pensar em edifícios e serviços que levem em conta as necessidades de uma população mais velha? E se você está fazendo um curso de moda, o que idosos realmente querem usar? É possível que não seja sempre cardigan e saias longas. Pensar de forma diferente sobre o que escolheu estudar e o que pretende fazer com isso, poderia levar alguém a ter uma carreira com um impacto real e emocionante na sociedade.
Ter interesse em nossa população envelhecida ao escolher o seu curso ou enquanto você estiver na Faculdade mudar a maneira como os idosos são notados é muito importante. De acordo com Vlachantoni, “Ao educar mais as pessoas sobre o processo de envelhecimento e os problemas e desafios enfrentados por pessoas mais velhas, se estará colocando muito mais o tema em destaque na sociedade.”
* Libby Page escreveu para The Guardian, em 13 de março de 2014. Tradução Dhara Lucena. Disponível Aqui
Em tempo, pela Redação Portal
Para quem quer se especializar na área há bons cursos no Brasil, poucos, é verdade. Em São Paulo, estudantes de ensino médio podem optar em se formar gerontólogos, fazendo curso de graduação em Gerontologia na USP. Para quem já é profissional e quer seguir carreira de pós-graduação, pode fazer o mestrado em Gerontologia Social na PUC-SP, cujas inscrições estarão abertas em meados de abril.