Jornais e revistas estão repletos de matérias que tratam a volta dos idosos ao mercado de trabalho. Quem poderia imaginar que um dia viveríamos para ver um cenário como esse? Uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Hays, “aponta que 20% das companhias contratam profissionais aposentados. Desse total, 75% para cargos técnicos, 33% para a diretoria e 28% para a gerência”.
E o motivo não poderia ser outro: a total falta de mãos de obra qualificadas somada a uma necessidade de redução de custos e, principalmente, um conhecimento técnico praticamente perdido com a contratação de jovenzinhos recém-saídos dos bancos escolares.
O gerente de expertise da Hays, André Magro explica à imprensa nacional: “É comum as empresas, por questões estratégicas, optarem por trocar dois profissionais juniores por um sênior, que trará mais expertise para o negócio. Principalmente quando a companhia passa por um período de contenção de gastos e que precisa dar uma guinada no mercado”.
Portanto, nada de romantismos, ninguém está fazendo favor para ninguém. É uma relação de interesse, além disso, os mais velhos são menos inquietos, mais focados e, um tanto, mais responsáveis.
Segundo as declarações de Magro à mídia, “principalmente as áreas técnicas como de engenharia, finanças e comercial estão bastante interessadas nesse público”. Ele ainda prevê que o mercado ficará ainda mais aquecido nos próximos oito anos por causa do aumento da demanda.
O gerente acrescenta: “Com a situação econômica favorável ao Brasil, muitas empresas estão trazendo novos projetos para o País. E são projetos de longo prazo, que necessitam de mais gente. E mesmo com o volume de profissionais que se formam todos os anos nas universidades, haverá um déficit de mão de obra. Por isso, os aposentados e seniores serão muito requisitados. Além de dominarem perfeitamente a sua área, trazem resultados imediatos à corporação. Muitos, inclusive, voltam ao mercado como consultores”.
Pensar em profissionais, com mais de 60 anos, sendo contratados para exercerem funções em níveis de alta gerência e diretoria ainda parece utopia e talvez até hipocrisia. Como consultores sim, faz sentido e parece um movimento muito inteligente.
Seguindo esta linha, a matéria assinada por Márcia Rodrigues, recentemente publicada no estadão (veja mais em referências), traz o exemplo do contabilista da FBM Consulting, Osvaldo Cesarino, de 59 anos. Aposentado há seis anos, ele investiu em uma consultoria própria nos primeiros anos de ‘liberdade’ e depois foi convidado pela empresa para voltar ao mercado de trabalho em 2011. Hoje, ele presta consultoria para os clientes da FBM e cumpre uma carga horária de oito horas por dia.
Isto é muito comum acontecer: funcionários se aposentam ou, muitas vezes, “são convidados” a antecipar sua aposentadoria. Em seguida são chamados como consultores. Tudo em função de um conhecimento que não pode ser perdido e que ainda é muito valorizado pelo mercado, carente com a, até então, prioridade de contração pela juventude.
Outro exemplo apresentado é o do consultor de recursos humanos da BDO RCS Nelson Moschetti, de 68 anos. Aposentado há 16 anos, teve pouco tempo de descanso antes de ingressar na empresa em 2001. Desde então, dedica boa parte do seu dia a desenvolver projetos de gestão para os clientes da empresa. “Meu xodó é o treinamento gerencial que ofereço para profissionais que ocupam cargos de chefia. Afinal, todo chefe precisa saber gerenciar uma equipe”.
Para Moschetti, além do salário, trabalhar é uma forma de se manter “antenado e aprender. Ele ensina: “Nunca podemos acreditar que não temos mais nada para conhecer. É muito gratificante ensinar aos jovens e trocar experiências com eles. Já aprendi muita coisa e vou continuar aprendendo”.
Elaine Saad, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), afirma que um dos fatores para o retorno gradual de pessoas com mais de 60 anos ao mercado de trabalho é a escassez de mão de obra. Ela diz: “Há profissionais no mercado, mas não com o domínio técnico e de gestão deste público. Com a velocidade que as coisas estão caminhando, não há tempo suficiente para formar pessoas e atender o mercado”.
Um segundo ponto a ser considerado é a ascensão meteórica da geração Y, que, até então, vinham assumindo cargos de chefia. “Eles não têm a vivência necessária para ocupar certas posições. E muito da experiência profissional que temos é do conhecimento de vida. As empresas perceberam isso e trouxeram profissionais mais maduros também para cargos de chefia para conseguir um equilíbrio”.
O mercado também se abre para cargos como caixas e atendimento, antes ocupados por jovens: “São pessoas maduras e que gostam de lidar com pessoas. Principalmente a simpatia e a atenção especial que eles dão ao cliente vêm sendo apreciada pelas companhias, que necessitam de profissionais com esse perfil”, afirma Elaine.
O importante é ter em mente que o conhecimento nunca é estático. Ele deve ser alimentado diariamente, seja com o aprendizado de novas tecnologias, seja nas relações intergeracionais ou até numa boa dose de espiritualidade para lidar com os entraves do “teatro corporativo”.
Referências
RODRIGUES, M. (2012). Idosos voltam ao mercado de trabalho. Disponível Aqui. Acesso em 17/03/2012.