A polêmica sobre a saída de Palmirinha da TV Gazeta

Sua idade, em qualquer texto em que fazem menção a ela, é sempre levada a público. Talvez faça sentido no contexto, pois a versão oficial para a saída de Palmirinha da tevê, em setembro, é que ela mesma pediu demissão.

Maria Lígia Pagenotto 

 

A-polmica-sobre-a-saida-de-PalmirinhaDisse que estava cansada de acordar cedo, dar conta das coisas da casa e também das receitas que preparava antes de ir ao ar, no programa TV Culinária. E aí entra a questão da idade. Um dos textos diz que Palmirinha tinha “um dia-a-dia desgastante para uma mulher com 80 anos de idade”.

Em seguida, este mesmo texto, da autoria de José Armando Vanucci, publicado no portal Vírgula (que pode ser lido Aqui), diz que a culinarista não deve parar tão cedo. Outros convites virão.

Outra versão diz que Palmirinha não pediu para sair, apenas para reduzir o ritmo de sua jornada. Mas será que pessoas mais novas também não se cansariam dessa jornada? Outros artistas e trabalhadores em geral, independentemente da idade, já não pediram também para reduzir o número de horas de trabalho?

Uma outra apresentadora, Viviane Romanelli, mais jovem, ocupou o lugar de Palmirinha – que ainda não confirmou se recebeu ou não convite de outra emissora para apresentar seus pratos.

A história de Palmirinha chama atenção porque traz à tona mais uma discussão sobre velhice. Quando começou na tevê, há 11 anos, esta senhora era lembrada mais por seus improvisos e trapalhadas diante da tevê do que por seus dotes culinários.

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Como bem lembrou a colunista Nina Lemos, na Folha de S. Paulo em 14 de setembro, “na rede há vídeos variados sobre a cozinheira. ‘Palmirinha esquece receita.’ ‘Palmirinha conversa com o ponto eletrônico.’ E todo mundo ri dela”.

Mas, completa Nina, “não é uma risada má. Rimos com o carinho com que dedicamos aos nossos avós quando eles falam algum absurdo. Os comentários sobre os seus vídeos mostram isso. ‘Queria que ela fosse minha avó’, diz uma. ‘Ai, como ela é fofinha’, diz outra.”

Acho que Nina tem razão. Há um sincero carinho por Palmirinha e seus “absurdos”. Segundo a colunista, o culto à culinarista aumentou na internet quando souberam que ela havia saído da tevê.

Em seu texto, a jornalista da Folha também fica indignada com a demissão. “Como assim? Quem são vocês para deixar a nossa avó largada? Como vocês vão tratar uma velhinha desse jeito? Como vocês ousam falar que a minha avó não serve mais?”

Palmirinha é alguém que precisa ser protegido. É “velhinha”, “é fofinha”, “parece nossa avó” e fala “absurdos”. Claro que podemos discutir tudo isso à luz da gerontologia. Palmirinha está sendo infantilizada, como muitas vezes são nossos velhos próximos, nossos avós. São alvo do nosso riso também.

Mas acho muito sadia essa indignação da Nina circulando na internet – especialmente porque a conheço profissionalmente. Nina ainda não chegou aos 40 anos, é antenada com o público jovem, mas escreve sempre artigos que discutem padrões estabelecidos de comportamento, de beleza, entre outros.

E ela continua: “Palmirinha representa uma espécie de resistência nesses tempos em que todo mundo que aparece na TV é lindo e jovem. E que toda receita é ‘fresca’. Tanto que ela não para de receber declarações de amor. A cozinheira ganhou uma campanha no Facebook, a ‘Queremos a Palmirinha no programa da Ana Maria Braga’. E vai participar quinta-feira do VMB, a premiação da MTV. Palmirinha nunca foi tão pop. E, pensando bem, qual chefe já foi tão cultuado? Aqui por essas bandas, nenhum”, finaliza Nina.

Quando fala sobre comidas “frescas”, Nina se refere àquela certa empáfia dos chefes de cozinha, que hoje proliferam aos montes nas tevês, apresentando receitas sofisticadas e difíceis de serem copiadas. Palmirinha, diz, resgatava a comida que nossas avós faziam, comida de verdade, como macarronada.

Acho que por isso causa tanta comoção sua saída. Por trás do seu modo de se expressar, em a afetação tão comum na tevê, vemos as pessoas do nosso cotidiano, vemos as comidas que normalmente comemos e fazemos. E vemos ali pessoas que erram também, cometem gafes. Como nossas avós, como nós.

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