Com o fenômeno do envelhecimento da população mundial observa-se uma dedicação extrema por parte dos pesquisadores em buscar processos cujos diagnósticos antecipados impeçam a manifestação da Doença de Alzheimer, isto é, foco no controle e prevenção eficazes. Outro grupo de pesquisadores trabalham na busca de uma vacina preventiva e terapêutica contra a doença.
O FDA (Food and Drug Administration) – órgão governamental dos Estados Unidos responsável pelo controle de medicamentos – que regulamenta a distribuição de medicamentos no país, tem cinco drogas aprovadas para o tratamento dos sintomas em diferentes estágios da doença. Mas os pesquisadores estão em busca de outras armas.
O conjunto de sintomas que caracteriza a Doença de Alzheimer (DA) foi enumerado pela primeira vez em 1906 por um médico alemão. Alois Alzheimer descreveu os sintomas de sua paciente Auguste Deter e criou um referencial para futuros diagnósticos. Mas, apesar de ser amplamente estudada, a doença ainda não tem cura.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase um quarto das pessoas com mais de 85 anos sofre de perdas de memória relacionadas a doença. A estimativa apontada pelo relatório “A Doença de Alzheimer no Mundo”, publicado pela Alzheimer’s Disease International (ADI), indica que em 2010 cerca de 35,6 milhões de pessoas viviam com algum grau de demência. A previsão é de que o número duplique em 20 anos e chegue a 115,4 milhões em 2050. Dois terços dos casos de demência são relacionados a essa doença.
São os efeitos de um envelhecimento progressivo que, por incrível que pareça, ainda é desconhecido e – até por isso – temido e considerado “distante” por muitos.
Os médicos apresentados nas reportagens que descrevemos a seguir trabalham na busca de um diagnóstico precoce, antes que a doença provoque lesões visíveis no tecido nervoso. Os pesquisadores querem reconhecer a presença da doença antes que seus sintomas – marcadamente a perda progressiva da memória, compreensão e linguagem do paciente – se agravem, interferindo na capacidade cognitiva e de convívio social.
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Diagnóstico
- Dois estudos simultâneos, apresentados recentemente em uma conferência sobre neurologia em Boston, nos Estados Unidos, trouxeram algum alento a quem já desenvolveu a DA. Eles confirmam resultados positivos em 34% de pacientes nos testes de uma nova droga: a solanezumab tenta limpar os depósitos de placas que interferem no funcionamento do cérebro dos pacientes.
No final do ano passado, cientistas da Universidade americana de Columbia identificaram alterações na densidade da massa cinzenta de indivíduos entre 18 e 26 anos pertencentes a um grupo populacional específico que teria uma predisposição para desenvolver uma forma rara da DA, ligada a fatores genéticos.
Nos pacientes com a mutação, os cientistas também encontraram no líquor altos níveis de uma proteína chamada Beta-amilóide, que aparece na formação das placas senis encontradas no cérebro dos doentes. “As descobertas sugerem que as mudanças neurodegenerativas ocorrem mais de 20 anos antes dos primeiro sintomas e antes ainda do que sugeriam pesquisas anteriores”, comentou Nick Fox, do Centro de Pesquisa sobre a Demência da Universidade College de Londres.
- Um grupo de 80 cientistas liderados pela mesma universidade apresentou outro avanço. Eles encontraram uma ocorrência maior de um gene em particular – o R47H – em quantidades significativamente elevadas em um grupo de pacientes com Alzheimer em relação a um grupo de controle. A coordenadora da pesquisa, Rita Guerreiro, explica que se trata de uma variante muito rara, presente em apenas 0,2% da população e que, embora não seja a causadora da doença, é um fator de risco.
“Esta é uma das descobertas mais influentes dos últimos 20 anos porque é um gene novo que tem uma variante com um risco médio ou forte. Isto vai permitir estudar novos genes, novas proteínas, novas moléculas que vão interagir com este gene”, resumiu Rita Guerreiro.
- Já outra equipe de pesquisadores, do centro de CODE Genetics, na Islândia, estudou o genoma completo de 1.795 pessoas do país e identificou uma mutação de um gene, o APP, que seria responsável pela redução em até 40% da formação da proteína amilóide em idosos saudáveis. O estudo mostrou que a função cognitiva estava mais preservada nos idosos entre 80 e 100 anos que possuem o tal gene do que em outros que não possuem.
O coordenador da equipe, Kari Stefansson, disse tratar-se “do primeiro exemplo de uma alteração genética que confere proteção forte contra a doença de Alzheimer”. Na avaliação dos especialistas, essa mutação genética tem o poder de bloquear a deterioração cognitiva dos idosos e pode ser um novo ponto de partida para o desenvolvimento de fármacos mais eficazes contra a doença.
Avanços na busca de uma vacina contra a Doença de Alzheimer
O Jornal Folha de S.Paulo, na matéria “Cientistas investigam vacinas contra o mal de Alzheimer” de Ricardo Bonalume Neto em 18/01/2013, divulgou os estudos:
- Uma equipe internacional liderada por Serge Rivest, da Universidade Laval, de Québec, Canadá, usou um composto para estimular as defesas naturais do cérebro contra a proteína tóxica que está associada a Doença de Alzheimer, conhecida como beta-amiloide.
Já a equipe do espanhol Ramón Cacabelos, do Centro de Pesquisa Biomédica EuroEspes, usou uma combinação da própria beta-amiloide com outras substâncias para produzir um protótipo de vacina, conhecida como EB-101.
A equipe canadense publicou seus resultados na última edição da revista científica americana “PNAS”; a equipe espanhola publicou seus resultados no ano passado, na revista “International Journal of Alzheimer’s Disease”. Cacabelos concedeu em 17/01/2013, em Madri, uma entrevista coletiva sobre a vacina.
A beta-amiloide provoca a formação das chamadas “placas senis” que caracterizam a doença, afetando células do cérebro e provocando os sintomas que caracterizam a demência.
“A doença de Alzheimer (DA) é a forma mais frequente de demência nos países desenvolvidos, com uma prevalência de cerca de 1% na idade de 65 e mais de 25% em pessoas com mais de 85 anos de idade. Clinicamente, é caracterizada por um processo progressivo de deterioração cognitiva, distúrbios comportamentais e declínio funcional”, lembrou a equipe de Cacabelos no seu artigo científico.
Um composto já largamente testado e usado em vacinas pela empresa farmacêutica GlaxoSmithKline foi usado nos testes com os camundongos geneticamente transformados para apresentarem doença. Vários pesquisadores da empresa participaram da equipe de Rivest. Trata-se do monofosforil lipídio A, conhecido pela sigla em inglês MPL.
O MPL diminuiu a formação de placas senis e melhorou a cognição dos camundongos, medida por testes em labirintos.
Rivest e colegas afirmam que, embora a segurança do tratamento com MPL não tenha sido confirmada em humanos, o composto foi administrado a milhares de pessoas como um adjuvante em diferentes vacinas. “O MPL oferece uma grande promessa como tratamento seguro e eficaz dessa doença”, disseram.
Referências
BONALUME NETO, R. (2013). Cientistas investigam vacinas contra o mal de Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 01/02/2013.
DW (2013). Alzheimer ainda não tem cura, mas pesquisas avançam em várias frentes. Disponível Aqui. Acesso em 01/02/2013.
EFE (2013). Cientistas espanhóis dizem ter criado primeira vacina contra Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 01/02/2013.