“A velhice constitui uma estação que não é fácil de entender, mesmo para nós que já a vivemos”, disse Papa Francisco, que está com dores no joelho
Com dores no joelho que o impedem de caminhar normalmente, o papa Francisco admitiu que “não é fácil entender” a velhice. Aos 85 anos de idade, o líder católico foi forçado a cancelar compromissos e alterar o protocolo de celebrações nas últimas semanas por causa das dores crônicas em seu joelho direito, frutos de uma lesão nos ligamentos. Além disso, passou a contar com o auxílio de uma cadeira de rodas nos últimos dias para se deslocar.
“Com efeito, a velhice constitui uma estação que não é fácil de entender, mesmo para nós que já a vivemos. Embora chegue depois de um longo caminho, ninguém nos preparou para a enfrentar; parece quase apanhar-nos de surpresa”, disse o Papa em uma mensagem pela Jornada Mundial dos Avós e dos Idosos, data instituída pela Igreja Católica em 2021 e que será celebrada neste ano em 24 de julho.
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A mensagem do Pontífice começa com o versículo 15 do Salmo 92 que diz: «Até na velhice continuarão a dar frutos». Esta “é uma boa notícia, um verdadeiro «evangelho» que podemos, por ocasião do II Dia Mundial dos Avós e Idosos, anunciar ao mundo”, afirma o Papa no texto, ressaltando que esta frase vai contracorrente ao que “o mundo pensa desta idade da vida” e “ao comportamento resignado de alguns idosos” que caminham “com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro”.
Segundo Francisco, “muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contato. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles»”. Mas, na realidade, uma vida longa é uma bênção”. Acrescentou ainda: “As sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência”.
De acordo com o Papa, a aposentadoria e os filhos “autônomos fazem esmorecer os motivos pelos quais gastamos muitas das nossas energias. A consciência de que as forças declinam ou o aparecimento de uma doença podem pôr em crise as nossas certezas. O mundo – com os seus ritmos acelerados, que sentimos dificuldade em acompanhar – parece não nos deixar alternativa, levando-nos a interiorizar a ideia do descarte”.
“Envelhecer não é uma condenação, mas uma bênção!”
Assinala em sua mensagem que “devemos vigiar sobre nós mesmos e aprender a viver uma velhice ativa, inclusive do ponto de vista espiritual, cultivando a nossa vida interior”. Francisco convida também a cultivar “as relações com os outros: primeiramente, com a família, os filhos, os netos, a quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a oração. Tudo isto ajudará a não nos sentirmos meros espectadores no teatro do mundo, não nos limitarmos a olhar da sacada, a ficar à janela.”
Para Francisco, “a velhice não é um tempo inútil, no qual a pessoa deva pôr-se de lado recolhendo os remos para dentro do barco, mas uma estação para continuar dando fruto: há uma nova missão, que nos espera, convidando-nos a voltar os olhos para o futuro.” Segundo o Papa, um dos frutos que os idosos são chamados a produzir é o de “guardar o mundo”.
Necessidade de uma mudança profunda
Na mensagem, o pontífice ainda destacou que o mundo “vive um período de dura provação, marcado primeiro pela tempestade inesperada e furiosa da pandemia, depois por uma guerra que fere a paz e o desenvolvimento à escala mundial”.
“Não é por acaso que a guerra tenha voltado à Europa no momento em que está desaparecendo a geração que a viveu no século passado. E estas grandes crises correm o risco de nos tornar insensíveis ao fato de que existem outras «epidemias» e outras formas generalizadas de violência que ameaçam a família humana e a nossa Casa comum”, disse Francisco, em referência ao conflito russo-ucraniano.
“Perante tudo isto, temos necessidade de uma mudança profunda, de uma conversão que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no outro um irmão. E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade: ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos”, salientou.
Fonte: Vatican News, 10 mai (Ansa). Divulgada a mensagem do Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Avós e Idosos, que será celebrado no XVII domingo do Tempo Comum, 24 de julho próximo. Foto: Vatican Media