Em recente matéria do jornal O Estado de S. Paulo, intitulada “O trôpego futuro da sociedade de idosos”, o especialista em Política Demográfica e membro da fundação New American Foundation Foreign Policy, Phillip Logman afirma: “o mundo está ameaçado por uma bomba populacional de pessoas idosas, onde viver mais é estimulante, mas ficou arriscado dividir esse mundo que evita filhos, não se renova e faz do jovem amparo dos velhos”.
Alessandra Anselmi
O especialista acredita que o mundo já demonstra nitidamente sofrer as consequências negativas desse aumento significativo da população idosa. No caso do Irã, por exemplo, onde nos anos 70, a mulher iraniana tinha em média sete filhos e hoje ela tem apenas 1,74, abaixo da média de 2,1 filhos necessários para sustentar uma população ao longo do tempo. Nos próximos anos elevará a população idosa do Irã de 7,1% para 28,1% – número que está bem acima da faixa observada na Europa Ocidental. Mas ao contrário dela, o Irã e outras regiões em desenvolvimento que experimentam enorme aumento do número de idosos, tais como Cuba, Líbano, Croácia, Ilhas Wallis – não terão necessariamente a chance de enriquecer antes de envelhecer.
As diversas matérias sobre esta questão apontam outros fatores preocupantes e que estão abalando a Europa por conta desse crescimento populacional de idosos: o aumento descontrolado do custo das aposentadorias e o desemprego crescente nos países onde a taxa de natalidade caiu consideravelmente. Na China, o aumento da expectativa de vida está dando origem ao chamado “problema 4-2-1” – um filho cuidando de dois pais e de quatro avós.
Países que praticam uma política diferenciada
Como as empresas, a sociedade e os governos estão se preparando para essas mudanças? O Índice Global de Adequação para o Envelhecimento (GAP, na sigla em inglês), que oferece uma avaliação quantitativa do progresso observado em todo o mundo para os diversos países se prepararem para o número cada vez maior de idosos, e para as dimensões do problema da dependência destes cidadãos, revelou em sua última análise que são poucos os países em melhor posição no ranking em termos de sustentabilidade e de adequação.
Três dos sete países de maior ranking no índice de sustentabilidade fiscal (México, China e Rússia) estão entre os sete de menor ranking no de adequação da renda. Quatro dos sete países de maior ranking no índice de adequação da renda (Holanda, Brasil, Alemanha e Grã-Bretanha) estão entre os sete países de menor ranking no de sustentabilidade fiscal.
Dois países – França e Itália – receberam notas que dão a ambos a menor classificação em cada índice. Ambos aprovaram leis que preveem amplos cortes dos seus sistemas públicos de aposentadorias, ameaçando profundamente o padrão de vida dos idosos. Mas, apesar dos cortes, os sistemas continuam tão dispendiosos que imporão aos jovens um ônus enorme e cada vez maior.
A Austrália, entretanto, que combina um piso de baixo custo com recursos comprovados do Estado para os idosos pobres a um amplo sistema privado de pensões obrigatório, teve um número muito elevado em ambos os índices. O mesmo ocorre com o Chile, que adotou uma combinação semelhante de políticas referentes à aposentadoria.
Os desafios
Para resolver os problemas advindos desse processo de envelhecimento da população que acontece rapidamente, daqui para frente, é imprescindível pensar nos idosos e o processo de desenvolvimento, que se centra na necessidade das sociedades ajustarem suas políticas e instituições para que a crescente população seja uma força produtiva em benefício da sociedade.
Isso implica em pensar na promoção da saúde e do bem-estar para todo o ciclo da vida, na criação de contextos propícios e favoráveis, que promovam políticas orientadas para a família e a comunidade como base para um envelhecimento seguro. É também aprimorar condições de moradia, promover uma visão positiva do envelhecimento e necessidade de conscientização pública de que os idosos têm contribuições a dar à sociedade. Implementar visão e a perspectiva do “envelhecimento ativo”, através do qual todos possam ter boa qualidade de vida e serem reconhecidos como úteis na sociedade e proporcionar acesso ao conhecimento e aos serviços básicos, o meio ambiente limpo, sociedades equânimes, o respeito pelos direitos humanos, bons governos, a capacitação do povo em decisões relevantes de sua vida.
Enfim, teremos condição de ter uma população envelhecida com qualidade de vida num futuro que rapidamente se aproxima?
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 24/ 10/ 2010 – Caderno “aliás” – p. J5 – Tradução: Anna Capovilla. Acesse Aqui