Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: órfãos ou novos pobres?

Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: órfãos ou novos pobres?

A pandemia do coronavírus está trazendo consequências devastadoras em termos de perdas de vidas humanas, especialmente de idosos, e de emprego, afetando as famílias de várias formas.

Ana Amélia Camarano (*)


O objetivo deste trabalho é mostrar o impacto da morte precoce de idosos, em especial dos que são responsáveis financeiros por famílias, na renda dos demais familiares. Considera-se como precoce, porque o óbito ocorre em uma idade onde a expectativa de vida é positiva e diferente de zero. A preocupação surge da constatação de que 73,8% das mortes registradas por Covid-19 até 1o de julho de 2020 ocorreram em indivíduos com 60 anos ou mais, dos quais 58,0% eram homens. Por exemplo, aos 60 anos um indivíduo do sexo masculino ainda poderia esperar viver mais 18,1 anos,2 dadas as condições de saúde vigentes em 2018.

Não se tem dúvidas de que a pandemia do coronavírus está trazendo consequências devastadoras em termos de perdas de vidas humanas e de emprego, afetando as famílias de várias formas. Uma delas é a diminuição da renda de seus membros, seja pela morte, seja pela perda de emprego num momento de difícil acesso a um trabalho remunerado. A tendência esperada é a de um crescimento do número dessas mortes e do desemprego, neste caso, mesmo depois da pandemia, o que terá um grande impacto nas suas famílias.

Vários trabalhos já mostraram a importância da renda dos idosos na renda das famílias brasileiras.3 De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2018, dos 71,3 milhões de domicílios brasileiros, em 33,9% tinha ao menos um idoso residindo. Nestes domicílios moravam 62,5 milhões de pessoas, em média 2,6 pessoas por domicílio, das quais 30,1 milhões eram não idosas. Dentre os não idosos, 16,6 milhões não trabalhavam. O idoso contribuía com 69,8% da renda destes domicílios e 56,3% de sua renda vinha de pensões ou aposentadoria.

“Doutora, não me deixe morrer, sou eu quem sustento os meus dois netos” (Paciente oncológico terminal com 83 anos à sua médica, no Rio de Janeiro, em 2005).

Sintetizando, a família4 de idosos não é um ninho vazio, como esperado pela literatura, e o idoso tem desempenhado um papel importante como provedor da mesma. Dado isso, a pergunta que se coloca é de como as famílias brasileiras com idosos estão se organizando para fazer face ao envelhecimento populacional, à maior dependência econômica dos filhos adultos, ao enxugamento do papel do Estado e à recente pandemia? São elas “ninhos vazios”? Se não, o que as tem levado a divergir do comportamento esperado? Que tipo de apoio (ou falta de), pode-se esperar dessas famílias em tempos de coronavírus?

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Este trabalho está dividido em cinco seções, sendo a primeira esta introdução. A segunda faz uma breve descrição de como se constituem as famílias com idosos, e a terceira os caracteriza. A quarta seção faz algumas especulações sobre o que poderia acontecer com a renda dessas famílias se seus trabalhadores perdessem o seu emprego e/ou se seus idosos morressem. Na quinta seção, tecem-se as considerações finais.

nota técnica

“Chama-se a atenção para o fato de que o idoso é vítima duas vezes nessa pandemia: é quem morre mais e quem é mais afetado pelo desemprego. No entanto, o seu papel nas famílias é pouco reconhecido. Acho que se pode falar que se morre um idoso, uma família entra na pobreza.”

Serviço
A nota técnica pode ser lida na íntegra aqui.

(*) Ana Amélia Camarano  é técnica de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea.

Foto destaque de cottonbro de Pexels


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