O psiquiatra espanhol, Fernando Sarramea, analisa as consequências para a saúde mental da população após sete meses de pandemia, com especial atenção para a solidão nos idosos.
Em entrevista via podcast ao programa Hoy por Hoy Córdoba (Espanha), o psiquiatra Fernando Sarramea, do Hospital Universitário Reina Sofia, fala que depois do confinamento, e do chamado novo normal, as pessoas não se adaptaram, porque o confinamento atingiu tão repentinamente que ainda “não pudemos lamentar todas as coisas que perdemos e que demoraremos para voltar”. Essa é a experiência que ele vive na Espanha com os pacientes que chegam ao hospital. Segundo ele, eles não chegam por isso, mas você vai conversando e extraindo os sofrimentos advindos do distanciamento físico e o isolamento.
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Vale lembrar que a Espanha vive uma segunda onda da pandemia de coronavírus atualmente, e está passando por semanas difíceis. Teve início em 31 de janeiro de 2020, quando um turista alemão testou positivo para a doença. A transmissão comunitária começou em meados de fevereiro. Em março foi imposto um lockdown. Isso não impediu de a Espanha tornar-se o 1º país da Europa a ter mais de 500 mil casos de covid-19, conforme dados do Ministério da Saúde.
De acordo com Sarramea, que também coordena uma equipe de pesquisa em saúde mental no Instituto Maimónides de Investigación Biomédica de Córdoba (IMIBIC) e é professor da Faculdade de Medicina na Universidade de Córdoba (UCO), “nem todos os grupos populacionais passam pelos mesmos maus momentos. Ele lembra que os idosos estão evoluindo muito pior, pois “seu desempenho intelectual está em colapso quando são confinados com o único objetivo de não se infectarem”. Em sua opinião, deveria ser mais fácil para os idosos receberem visitas de seus familiares com segurança, com distância e máscara porque, como ele lembrou, “o vírus mata, mas a solidão também”.
O psiquiatra lembra também que, além dos idosos, há um outro grupo populacional que vem aumentando a ansiedade, angústia e insônia e que não se está olhando para ele. Sarramea diz que se trata daquele que vê sua estabilidade no emprego ameaçada pela crise econômica gerada pelo coronavírus. Segundo o psiquiatra, “As pessoas que agora estão construindo suas vidas têm mais medo do desemprego do que da doença”.
“É preciso transmitir otimismo”
De sua experiência na unidade de saúde mental do Hospital Universitário Reina Sofia, Fernando Sarramea insiste que “temos que facilitar as vias de acesso para que quem precisa de ajuda possa solicitá-la”, pois, segundo ele, emocionalmente, “o que você não resolve agora acaba se complicando, como em qualquer outra patologia”.
O psiquiatra insiste que é muito importante “ajudar as pessoas explicando o que estão sentindo e por que o estão sentindo”. E, além disso, acrescenta, “é preciso transmitir otimismo”. “É importante lembrar às pessoas que se você ficar doente hoje tem muito menos chance de acabar no hospital, ir para a UTI e, claro, morrer”, conta, afinal, hoje as cidades estão mais preparadas do que no começo da pandemia.
E, por fim, ele apela à responsabilidade de todos: “Até a chegada da vacina, somos todos vacina”, deixando o alerta para que não deixemos que a solidão mate os idosos.
Foto destaque de Jesse Yelin no Pexels
Atualização às 10h45
Este curso parte da compreensão que o envelhecimento humano é um campo multidimensional, multiteórico e comporta interlocuções com diversas abordagens teóricas e campos da psicologia. Deste modo, partiremos da teoria desenvolvimental do ciclo de vida, do paradigma do LifeSpan, para estabelecer diálogos possíveis com algumas correntes teóricas e áreas da psicologia.